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ENTREVISTA COM RED WEST - 03 DE NOVEMBRO DE 1999


Legendas: Red West; Red West com Elvis, em Biloxi, no verão de 1956.


Esta entrevista foi feita por Todd Slaughter, Presidente do Clube de Fãs Oficial de Elvis Presley da Grã Bretanha, numa convenção inglesa organizada pelo clube em 3 de novembro de 1999. A primeira parte é uma conversa entre Todd e Red. A última parte consiste em perguntas que o público fez a Red.

 

Red West foi, é claro, amigo e guarda costas de Elvis desde o tempo de escola secundária.

 

RW – Um dos maiores desejos de Elvis era fazer uma tournée europeia e vir à Inglaterra. O mais próximo que chegou foi quando estivemos aqui na Alemanha. Bill Haley estava a apresentar-se num auditório em Frankfurt e fomos até lá, esperámos nos bastidores. Bill Haley estava a cantar Rock Around the Clock. Elvis limitou-se a espreitar pelas cortinas um momento e todo o auditório se esvaziou, passou por Bill Haley e foi aquela gente toda a correr atrás de nós pela porta lateral. Isso foi o mais próximo que ele esteve de se apresentar na Europa, mas ele sempre quis cá vir. Muitos dos seus fãs da Inglaterra iam até Las Vegas. Ele falava com eles e essa era uma das coisas que… um dos maiores erros que Elvis fez não foi nunca ter vindo aqui, para o poderem ver e para ele poder ver o quanto o amavam.


TS – Recebemos muitas perguntas para colocar a Red e vamos percorrê-las a todas. Haverá tempo no final para ver as questões colocadas por escrito e para que possam colocar outras, mas voltemos aos primeiros tempos. Conforme conta a lenda, diz-se que você salvou Elvis de ser espancado na Humes High quando um grupo de rapazes lhe quis cortar o cabelo. Qual é a história verdadeira?

Essa é a história verdadeira. A história é que Elvis sempre foi diferente. Nós tínhamos – agora também tenho um – acabei de fazer um filme que exigiu que voltasse atrás no tempo e tínhamos cortes à escovinha, usávamos t-shirts e calças de ganga. Mas Elvis tinha a cauda de pato comprida, as patilhas compridas e usava roupas bem espampanantes, o que naturalmente fazia dele um alvo para todos os fanfarrões. E um dia, por sorte, entrei na casa de banho dos rapazes na Humes High School e estavam lá 3 rapazes que lhe queriam cortar o cabelo, sabe, para parecerem grandes ou fazê-los sentirem-se grandes, sei lá. Meti-me no meio e parei tudo e calculo que ele nunca se esqueceu porque cerca de dois anos depois, Elvis gravou o seu primeiro disco, veio ter comigo e perguntou-me se gostava de ir com ele, acho que foi para Grenada, no Mississippi, ou algo parecido. E lá fui eu, ficando com ele desde então, exceto pelos dois anos que estive nos Fuzileiros. Elvis e eu éramos grandes amigos. Aconteceram algumas coisas que… prefiro concentrar-me nos momentos felizes nesta reunião, porque sem dúvida que ultrapassam os momentos maus. Tivemos alguns momentos bons, outros bem divertidos e, na minha opinião, não haverá nunca ninguém que se compare a Elvis. Foi um bom amigo para mim e sempre o recordarei assim.

 

Deve ser difícil caminhar à sombra de alguém que é tão amado, tão adorado, tão idolatrado. Houve alguma vez em que se tivesse sentido, “Quem me dera ter sido eu”, ou sentia-se feliz por andar na sombra, por assim dizer?

Não trocaria de lugar com ele por nada deste mundo. Treta. Toda a gente… sabe, o que ele tinha, a adoração e o dinheiro. Quer dizer, a vida devia ser assim, imagino que toda a gente aqui presente gostaria de chegar a esse nível, de ter o que ele teve e dizer, “Não, não trocaria de lugar com ele” – é uma afirmação muito forte de fazer. Ele tinha tudo, exceto que não teve a privacidade que devia ter tido. E foi o que principalmente aconteceu a Elvis. Foi prisioneiro da sua própria carreira.

 

Acha que ter sido prisioneiro impediu Elvis de poder ter feito mais? Acha que ele se sentia demasiado assustado, ou isso foi-lhe incutido para ser protegido e protetor e, assim, não se atrevia a sair em público?

Não, ele tentou. Mesmo em Las Vegas, onde pessoas como Frank Sinatra, muitas das estrelas, Sammy Davis – eles podiam sair sem problemas e conviver com as pessoas. Podiam descer e ir jogar ou o que quisessem. As pessoas não os incomodavam muito. Mas Elvis tentou – uma vez – e todo o casino… toda a gente parou de jogar e vieram observar para ver o que ele estava a fazer. Por isso não podia sair para fazer o que a maior parte das pessoas pode fazer e tinha de ser tudo à noite. E mesmo assim, quer dizer, ele alugava cinemas de noite porque não podia ir a um cinema normalmente, mas mesmo assim o portão estaria cheio de fãs que nos seguiam e estariam à porta do cinema quando o filme terminava. Era uma coisa constante. Andávamos sempre a ver se arranjávamos maneiras de ir a sítios, mas ele não queria magoar os sentimentos de ninguém, se bem que gostasse de poder ter um pouco mais de privacidade.


Como trabalhava num ambiente onde obviamente se esperava que fosse “o grande protetor”, alguma vez se sentiu como se algo estivesse prestes a acontecer?

Acho que andava sempre assim, porque nunca sabíamos. Mesmo nos primeiros tempos tivemos os nossos problemas. Mais para o final foi um autêntico problema porque a ameaça tornou-se maior. Sabe bem o que aconteceu a John Lennon. Bem, isto podia ter acontecido a Elvis muito mais cedo. De facto, houve ameaças. Tentávamos manter tudo secreto para não dar ideias a outros que pudessem querer imitar.

 

Recebemos ameaças nos anos finais e levámo-las a sério. Toda a gente andava sempre no limite dos nervos. De facto, numa noite em Las Vegas, recebemos uma ameaça mesmo antes de ele ir para o palco e até a gerência disse que ele não tinha de atuar nessa noite porque parecia ser uma ameaça real, mas ele disse, “Bem, não vou parar um espetáculo porque algum isto e aquilo decidiu fazer ameaças.” Mas as luzes ficaram sempre acesas no meio do público, as cortinas estavam mais unidas, o meu primo Sonny e eu estávamos mais próximos dele e foi uma das sensações mais estranhas da minha vida porque quando ele estava para cantar a última canção, ele baixou-se numa pose de karaté bem lenta para fazer de si mesmo um alvo mais pequeno. O Sonny e eu fomos a correr para nos pormos à frente dele, e ficámos ali à espera que acontecesse alguma coisa. É uma sensação estranha, mas era o que fazíamos nos anos finais. Muitas coisas aconteciam das quais as pessoas nunca se apercebiam.


Sentiu-se assustado? E Elvis sentiu-se assustado?

Sim, mas ele deu o espetáculo. Ele disse que se recusava a ser manobrado por algum idiota. Nós estávamos sempre a observar todos os movimentos, tudo o que se mexia no público e por vezes reagíamos de forma exagerada quando não o devíamos fazer. Mas eu preferia reagir assim quando não era preciso do que depois lamentar não o ter feito numa situação de ameaça real.


Mas andava permanentemente alerta? Sempre no limite, à espera do pior?

Sempre. Sempre. Especialmente depois deste tipo de coisa acontecer. Víamos o que acontecia às pessoas por não estarem preparadas ou por pensarem que não iria acontecer nada. Por isso, estávamos sempre preparados para o pior.

 

Regressemos aos primeiros tempos. Quando é que falou com Elvis pela primeira vez depois de ele ter assinado contrato com o Coronel Parker? Nessa altura estava consciente do que se estava a passar?

Não, não realmente. Não tinha nada a ver com isso. Apenas me estava a divertir e via que o Coronel tinha muita mais influência e muito mais experiência nesse campo do que as pessoas que tinham gerido Elvis antes, por isso tudo começou a mudar imediatamente após ele ter assinado com a RCA. Fez o Jackie Gleason Show com Tommy e Jimmy Dorsey, o que o tornou visível para o mundo e não apenas para o Tennessee, Texas e Arkansas. Por isso, eu sabia que algo de grande estava a acontecer, mas não sabia que iria ficar tão grande como ficou.


Nos primeiros tempos, Elvis Presley convivia com muitas outras estrelas, ou tinha a tendência para se manter à parte?

Não, quando ele andava a fazer as tournées com os Browns, Hank Snow e quando fez o Louisiana Hayride, Johnny Horton, George Jones – há aqui uma história engraçada, mas esqueçam! Elvis tinha feito 3 discos de sucesso. Ele estava a fazer o Louisiana Hayride e George Jones entrou para cantar mesmo antes dele. E George Jones, que provavelmente foi convencido a fazê-lo por Johnny Horton e o resto dos outros mais experientes, cantou todos os 3 sucessos de Elvis. Estávamos nos bastidores a ver isto e George depois disse, “Desculpem lá, mas já há muito tempo que não tenho um êxito,” e saiu do palco. Elvis subiu ao palco e cantou 3 canções de gospel, saiu e disse, “Vamos sair daqui para fora.” Foi engraçado! Na altura não teve graça nenhuma, mas depois rimo-nos da situação.

 

Era óbvio que Elvis trabalhava com estas pessoas, mas convivia com elas?

Oh, sim. Temos uma fotografia lá em casa. Os Browns, eram um grupo de música country, irmãos e irmãs. Tinham um êxito intitulado Little Jimmy Brown e temos uma fotografia em casa deles a celebrar o aniversário do casamento dos pais e sentados à mesa estão Hank Snow, Junior, Floyd Cramer, era um grupo musical completo. Ele convivia com eles nessa altura. Mais tarde, ficou diferente, mas quando ele começou, gostava de se envolver com estas pessoas – Jimmy Jorton e os outros. Íamos todos jantar juntos depois do espetáculo, mas mais para o final, preferiu resguardar-se para si mesmo.

 

Houve algum momento em que você pensasse que Elvis tomou uma decisão consciente de não querer sair mais, de não poder ir até a um local público comer um hambúrguer, fazer compras, algo que as pessoas normais fazem? Surgiu tudo de repente ou foi uma aprendizagem gradual de que iriam haver problemas?

Acho que foi gradual. Quando ele começou a fazer os filmes, tornou-se ainda mais evidente, tornou-se em algo visual que as pessoas podiam vir para o ver. E foi quando começámos a ver que ele nem sequer podia ir ao portão e tínhamos de ir pelas traseiras, saltar a cerca ou o que fosse. Mas depois dos filmes começarem, a seguir a Love Me Tender, tornou-se cada vez mais difícil sair em público.

 

Acha que não se teria envolvido a nível pessoal com a indústria cinematográfica se não tivesse conhecido Elvis Presley, se não tivesse sido associado a ele, ou era algo na sua vida que sempre queria ter feito?

Sempre foi o que quis fazer, mas não, nunca teria conseguido sem o ter conhecido porque as pessoas que conheci com ele foram depois as que me ajudaram a entrar neste negócio quando regressei da Alemanha mais cedo e fui diretamente para Hollywood. Sempre foi o que quis fazer, mas o facto de o ter conhecido abriu portas que nunca se teriam aberto, por isso o Nick Adams – não sei se lembram do Nick Adams – fez uma série chamada The Rebel. Era amigo de Elvis e fui até Hollywood para o conhecer. Ajudou-me a abrir a primeira porta e depois Robert Conrad, que fez Hawaiian Eye e Wild Wild West, jogávamos futebol todos os domingos quando Elvis veio da tropa. E vinha aquele pessoal todo jogar, o Pat Boone e outros, tudo pessoas que conheci e com quem acabaria por vir a trabalhar. Por isso, tudo o que tenho o devo a Elvis.

 

Essa é uma afirmação e tanto de se fazer, não é?

Sim, mas é a situação real, é a verdade.

 

Teve de ter alguma orientação na arte de representação, ou isso surgiu naturalmente?

Não, estudei representação com um fulano que ainda anda por aí, Jeff Corey, um ator já velhote. E estudei com Robert Blake e Jack Nicholson. Não, uma pessoa não se limita a aparecer e a começar a representar. Elvis poderia ter sido, acho eu, um tremendo ator se tivesse tido a oportunidade de estudar primeiro antes de ter sido atirado para a arena. Qualquer pessoa que queira ser um ator, tem de estudar primeiro. Uma pessoa não se põe à frente duma câmara assim de repente, pois até nos esquecemos do nosso nome, que foi o que me aconteceu a mim!

 

Gostou de fazer os filmes, os filmes que Elvis fez?

Sim, gostei dos primeiros. Blue Hawaii, G.I. Blues e Flaming Star em especial. Podem-se contar pela mão os que foram realmente bons, mas o resto eram apenas coisas que lhe eram atiradas, sem haver cuidado com nada a esse respeito, apenas para ganhar dinheiro. Não se importavam se as canções eram más, se os argumentos eram maus. Mas aqueles que viram Wild in the Country e aqueles outros filmes que referi, podem ver que ele tinha capacidade e se tivesse tido algum treino, também poderia ter-se saído ainda melhor nesses filmes.

 

Ele limitava-se a fazer os outros bem depressa, só para os tirar do seu caminho, pois na opinião dele, os filmes não valiam nada. Quer dizer, Wild in the Country foi sem dúvida alguma da melhor representação que ele fez, e também o outro que se passou em New Orleans – King Creole – esses dois. King Creole foi escrito para James Dean e depois mudaram o título, claro que James Dean tinha morrido e Elvis ficou com o papel. Mas esse foi um papel pesado e dramático para ele e acho que o representou muito bem, mas depois foi perdendo o interesse conforme os filmes foram vindo e indo.

 


Legendas: Elvis a praticar karaté com Red West.

 

Calculo que quando a invasão britânica começou a penetrar nas tabelas dos Estados Unidos, nessa altura Elvis, e todos vocês, devem ter começado a pensar no que estaria a acontecer e que precisavam de reassegurar o vosso lugar no mercado, pois os ingleses estavam a roubar-vos o vosso dinheiro.

Não, Elvis sempre disse que havia espaço para toda a gente. Nunca se sentiu ameaçado. De facto, quando ele tinha a sua casa em Bel Air, acho que toda a gente sabe que os Beatles foram até lá para o conhecer. Foi uma das alturas mais divertidas que tivemos. Ficámos para ali sentados. O Ringo, eu e o meu primo jogámos bilhar. O Ringo era assim para o solitário, mas o resto deles e Elvis sentaram-se a conversar toda a noite e a divertirem-se. Ele só se sentiu como se tivesse as mãos atadas quando esteve no Exército e toda a gente continuava a fazer o que fazia. Mas ele sempre disse que era algo que tinha de fazer e só esperava que se lembrassem dele quando saísse. Mas nunca desejou má sorte fosse a quem fosse ou algo assim. Talvez possam ter ouvido que sim, mas não acreditem nisso.

 

Calculo que, quando Elvis estava nos estúdios cinematográficos, as suas obrigações de ser o protetor, de olhar sobre o ombro, eram um problema menor quando comparado com o regresso de Elvis às atuações ao vivo. Inicialmente Las Vegas era também um sítio relativamente fácil no que tocava a proteção, mas em tournée, devia ser um pesadelo.

Durante as tournées e as apresentações pessoais estávamos de guarda, mas nos filmes, estávamos a fazer os filmes com ele. Eu participei em todas as cenas de luta, quer como duplo dele, quer a lutar com ele ou a substituir outra pessoa qualquer. Era divertido, não nos preocupávamos com nada nessa altura, talvez apenas com as deslocações de ida e vinda dos estúdios, mas não muito. Estávamos todos envolvidos nos filmes a divertirmo-nos imenso.

 

Mas calculo que, quando estavam em Los Angeles, andar de carro em Beverly Hills e algo parecido… não é muito vulgar hoje em dia ver pessoas famosas nas traseiras de limusines, por isso, só o facto de Elvis Presley andar a conduzir um automóvel em Bel Air não teria feito muita diferença para as pessoas, não é? Ou estou errado?

Não. Se bem que houvesse sempre alguém ao portão toda a noite para a eventualidade de ele sair e depois saltavam para dentro de um carro e seguiam-nos. Mas essas eram apenas pessoas que gostavam dele e não representavam qualquer problema.

 

Houve alguma coisa que ele alguma vez tenha feito sobre a qual não quer falar? Tinham alguma coisa secreta em que todos participassem e ninguém soubesse nada a respeito? E não estou a falar da outra coisa, estou a falar da coisa normal (RW – Que outra coisa??). Como é que escapavam dessas situações?

Nós simplesmente não falamos disso. Nem sequer sei como responder a isso. Tínhamos uma mesa de jogo na casa dele da qual as pessoas não era suposto saberem da sua existência, onde jogávamos um pouco. Não, não havia assim nada de muito invulgar.

 

Mas iam para Malibu, à pesca, ou outra coisa qualquer que fizessem onde ninguém vos pudesse ver? É essa a questão que estou a querer colocar.

Não. A única vez que fomos pescar foi no início da carreira dele. Costumávamos adorar ir até Biloxi, no Missisissipi. Fomos num barco – com os seus primos, a sua namorada ou lá o que era, e foi divertido. Pescámos, lembro-me que apanhei um tubarão e apanhámos vários bonita. Mas isso foi no início, entre 54/55.

 

Há algumas filmagens adoráveis de Elvis a ir para Catalina Island. Acompanhou-o quando ele lá foi?

Não. Acho que nessa altura eu estava nos Fuzileiros. Deve ter sido em 56/57, quando ele estava a fazer o seu primeiro filme. Falhei isso, e tenho pena – o seu primo Gene é que estava com ele – porque essa primeira vez em Hollywood deve ter sido uma experiência e tanto. Gostaria de ter podido ver isso, mas tinha ido para os Fuzileiros.

 

Acha que perdeu alguma coisa por não ter estado lá?

Não, acho que as coisas aconteceram como tiveram de acontecer comigo. Sim, sinto falta dessa parte inicial de sair de Memphis para fazer os filmes, falhei os primeiros dois e gostava de lá ter estado porque já vi filmes em que sei haviam momentos bem loucos para Elvis, porque ele era jovem e estava tudo a ser-lhe despejado em cima. Acho que ele lidou muito bem com a situação, mas ouvi dizer que houve alguns momentos bem loucos durante esses primeiros dois filmes.

 

Falando agora de Las Vegas – porque eu acho que há três escolas de fãs: os que gostam dos anos 50, os que gostam dos filmes, porque grande parte da música que passamos nos nossos eventos, acredite ou não, são dos filmes que provavelmente Elvis nem sequer gostava, e possivelmente nem gostou de gravar, mas as músicas para nós aqui têm a sua própria magia. Mas calculo que seja mais fácil para nós identificarmo-nos com Elvis nos anos 70 que, claro, foram uma combinação de momentos muito felizes, com o sucesso de Elvis Presley a regressar aos espetáculos ao vivo, e momentos muito tristes. Quer dizer, hei-de sempre lembrar-me de uma destas primeiras sessões, já há muitos anos, em que um tipo nas traseiras se levantou e disse, “Nunca seria capaz de acreditar que Elvis Presley tomava drogas, e o filho da mãe que lhas receitou deveria ter sido morto.” Todos temos uma tendência para, de tempos a tempos, pôr aqueles óculos cor de rosa. Mas será que para Elvis, a maior parte da sua vida foi uma experiência feliz?

Sim. Era o que eu estava a dizer há pouco. Quero recordar os bons momentos porque foram excecionalmente bons. Ele era como um irmão, era mais próximo de mim do que os meus próprios irmãos, estivemos juntos desde a escola secundária até a um ou dois anos antes da sua morte. Houve muitos, muitos bons momentos. Tal como disse, costumávamos ir até Biloxi, íamos pescar, tínhamos aquelas lutas malucas com fogos de artifício à noite, fazíamos corridas de carrinhos de golf, todas as coisas malucas que fazíamos na estrada. Tínhamos uma brincadeira que fazíamos para quebrar o aborrecimento. Viajávamos de camioneta pelo campo e passávamos por cima de uma ponte. E então tínhamos esta brincadeira assim: se alguém estivesse a falar sobre alguma coisa que achasse que era importante, nós dávamos-lhe uma palmada na cabeça e tinham de mudar a conversa como quem muda de canal, para algo completamente diferente. A pessoa estaria a dizer, “Acho que aquilo que fizemos…” e nós dávamos-lhe a palmada na cabeça e ela diria, “Oh, que se lixe…”, tirava os sapatos e atirava-os pela janela para o rio!! Fazíamos coisas assim, coisas estúpidas, só para quebrar a monotonia, mas eram divertidas e malucas.

 

O Bill Black foi um dos homens mais loucos que conheci, sabe? O contrabaixista. Tivemos bons momentos na estrada nesses primeiros tempos e bem que ultrapassam os maus momentos, se bem que os maus momentos tenham sido mesmo maus, mas divertíamo-nos muito para conseguir lidar com isso. Era apenas algo que acontecia. Por exemplo, é como eu, estou aqui a falar e a morrer por fumar um cigarro!!! Tenho um irmão que é viciado no jogo. Mais vale falar-vos já disto. Há pessoas que vieram ter comigo e disseram, “Porque diabo não fez você alguma coisa para impedir o que aconteceu?” Elas não sabem que eu cheguei a tentar. Não sabem que fui despedido porque tentei, mas eram os irmãos dele por afinidade e um elemento de um dos grupos vocais de apoio que lhe levavam as coisas. Quando descobri, dei um pontapé na porta, pisei o pé do tipo e parti-lho. Disse-lhe, “Continua a trazer essa porcaria que vou-te partindo por aí acima.” Claro que Elvis soube do que se passou e eu fui despedido. Já estava com ele desde a escola, mas as drogas assumiram o controlo total no final da sua vida e, de certa forma, sou capaz de compreender, porque ele não tinha privacidade e estava aborrecido de morte.

 

Deixem-me continuar. Ele começou muito bem, com as apresentações pessoais, depois foi fazer os filmes e estes viraram uma autêntica seca por causa do que já aqui falámos – as canções eram terríveis, os argumentos também. Então foi para Vegas e em vez de trabalhar talvez 5 noites por semana e tirar 2 noites de folga ou trabalhar 6 noites e tirar uma noite de folga durante duas semanas, como o Frank Sinatra e toda a gente fazia, ele trabalhava durante 4 semanas, 7 noites por semana, 2 espetáculos por noite. E o Coronel estava lá em baixo no casino a jogar e a divertir-se. Então foi do tipo… Okay, quero voltar à estrada, quero sair daqui. Os filmes viraram uma seca, isto está a virar uma seca, quero apresentar-me junto dos públicos pelo país fora, pelo mundo fora. O Coronel começou a arranjar-lhe contratos nas mesmas cidades. Em cada tournée passávamos por Roanoke, na Virgínia, e outras cidades, depois íamos para Atlanta, na Geórgia. Mas ele queria vir aqui. Ele queria ir à Austrália, ele queria ir à Alemanha, queria ir a todo o lado menos a Roanoke, na Virgínia e a Atlanta, na Geórgia. Mas não. E porque motivo fazia o Coronel aquilo? Uma vez perguntei ao Coronel porque não podíamos fazer uma tournée pela Europa. Porque não podíamos ir à Austrália? E a resposta era, não somos capazes de lidar com a segurança, não somos capazes de lidar com a segurança. Não sabíamos que ele era um imigrante ilegal e que não podia sair dos Estados Unidos.

 

Interroguei-me porque motivo nunca foi ele à Alemanha enquanto lá estávamos. Mandava lá sempre outras pessoas no seu lugar. Nunca saiu dos Estados Unidos, mal lá pôs os pés, nunca mais de lá saiu, e isso prejudicou Elvis. Se Elvis tivesse podido sair e ver-vos e entreter-vos, bem como a todos os outros, teria sido diferente, mas ele era um prisioneiro do seu próprio sucesso e digamos apenas que o Coronel o fez chegar onde ele chegou, mas também o pôs onde ele está agora.

 

Daqui a uns momentos vou colocar-lhe algumas questões que me pediram para lhe colocar, se bem que eu ache que já falámos sobre algumas delas, mas deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Tony Curtis disse uma vez que beijar Marilyn Monroe era como beijar Hitler. Alguma vez Elvis beijou Marilyn Monroe?

Não, não beijou. Essa foi uma que lhe escapou.

 

Uma pergunta feita por B. Davis, da mesma senhora que colocou a pergunta anterior. Há aqui outra questão que obviamente está bem consciente dela, porque estava envolvido. Um lançamento recente da RCA foi o álbum Private Elvis e sei que a maior parte das gravações, se não mesmo todas, foram disponibilizadas por si a Ernst Jorgensen. Há mais material, ou ele agora já tem tudo o que há?

Não acredito, a não ser que haja alguma coisa para o meu sótão – tenho para lá umas poucas de cassetes que nunca ouvi, mas não acho que haja mais alguma coisa. Acho que estas Gravações Caseiras é tudo o que há. E nem tão pouco consigo pensar em mais nada que eles possam ainda encontrar.

 

Esta é uma pergunta comovente, visto que toda a gente olha para o seu passado. Esta é de Margaret Smith. Ela pergunta se na sua vida há alguma situação de “E se?”. Existe alguma coisa relacionada com Elvis em que você diga “E se?”

Claro. Há sempre essa questão do “E se?”, quando olhamos para trás. Fiz o mais que pude no final e sabem que há muitas coisas sobre as quais não me arriscaria sequer a pensar nisso, mas tenho a certeza que há muitas coisas em que eu diria, “E se tivesse sido assim as coisas teriam sido diferentes”. Porém não sei o que mais poderíamos ter feito no fim. Todos fizemos o que pudemos.

 

Durante a sua vida já trabalhou com muitas estrelas. Muitas mesmo. Quem delas foi a mais divertida para ter por companhia?

Elvis. Ele sempre foi o mais divertido. Trabalhei com John Wayne em The Man Who Shot Liberty Valance, Lee Marvin, James Stewart, trabalhei com muitas pessoas. Robert Conrad, divertimo-nos muito, era maluco, e ainda é! Trabalhei em Wild Wild West como duplo, parti cada ossinho do meu corpo, e depois tive a sorte de obter o segundo papel principal em Black Sheep Squadron. Não sei se alguma vez viram cá essa série, sobre Pepe Borington, o ás da Segunda Grande Guerra.

 

Tenho de dizer que Elvis foi o mais divertido porque com ele, tudo era possível. Fazíamos coisas nos estúdios que punham os realizadores malucos, como uma vez, por exemplo, em que ele estava a arranjar o cabelo, a penteá-lo todo para trás. Levou uma meia hora a pôr aquele cabelo no lugar e eu estava empoleirado no teto. Isto foi na Universal. E estávamos nos cenários do filme Hunchback of Notre Dame. E eu estava escondido com um balão cheio de água. Depois do homem da maquilhagem ter arranjado o cabelo dele, ele deu dois passos e eu despejei-lhe o balão em cima. Bateu-lhe em cheio no cabelo e, claro, o cabelo descaiu todo por todos os lados. Ele nem olhou para cima! Virou-se e voltou a entrar no camarim para fazer tudo de novo.

 

Outra coisa que aconteceu nesse cenário foi com o Charlie Hodge – alguém lhe tinha atirado com água para cima. E ele tirou a camisa e pô-la a secar à frente de uma grande ventoinha que existia no estúdio. Depois afastou-se e foi vestir outra camisa, mas de cada vez que voltava para verificar se a outra já estava seca, estava ainda a escorrer. É que de cada vez que ele ia embora, nós íamos lá despejar-lhe mais água para cima! Foi assim o dia inteiro!

 

O Alan Fortas, enquanto estávamos a fazer King Creole, andava sempre a pregar partidas a toda a gente, então também lhe pregámos uma. Dissemos, “Alan, hoje vais dizer uma fala, vais ser um ator, tens de ir maquilhar-te.” E então lá foi ele para a maquilhagem, eles maquilharam-no e até lhe puseram um tecido à volta da camisa para não a sujar. Dissemos, “Agora senta-te aqui e não tires o tecido senão sujas a camisa toda.” E então ele esteve para ali sentado toda a manhã, demos-lhe uma fala, certificámo-nos que ele tinha a fala decorada e para ali ficou, sentado a decorar a sua fala com o tecido à volta do pescoço. Veio a hora do almoço e fizemos um intervalo. Depois do almoço eles retocavam sempre a maquilhagem, porque podia-se ficar sujo com a comida ou algo assim. Então, eles retocaram-lhe a maquilhagem e disseram-lhe para manter o tecido sobre a camisa. E lá ficou ele sentado a tarde toda, a esperar pela sua fala. No final do dia, o primeiro assistente foi ter com ele e disse, “Alan, ficámos sem tempo, vamos ter de fazer isto amanhã.” E ele disse, “Vocês estiveram a gozar comigo” e toda a gente se riu às custas dele! Andávamos sempre a fazer coisas assim.

 

Há aqui uma pergunta interessante que, como pai, você deve entender bem. Elvis era um bom pai? E alguma vez mudou uma fralda?

Nunca. Nunca na vida ele iria mudar uma fralda! Teria feito uma grande porcaria. Não era uma das coisas que ele sabia fazer bem.

 

Você acha que, se naquele tempo tivesse havido uma clínica tipo Betty Ford, Elvis teria voluntariamente aceite internar-se, ou ele achava que o que se estava a passar não era um problema?

Acho que ele nunca soube que era um problema, mas no final ele tinha sempre o Dr. Nick com ele, ou uma enfermeira ou alguém assim. Acho que ele pensava que se alguma coisa acontecesse, seriam capazes de chegar a ele a tempo. Pensámos nisso muitas vezes, se houvesse uma clínica Betty Ford, mas mesmo quando ele ia para o hospital, o que fez algumas vezes no final, eu perguntava-lhe, “O que achas que está a provocar isto?” E ele dizia sempre que era um problema que tinha no estômago. E eu dizia, “Mas o que achas que está a provocar isso? Não será de todas as coisas que andas a tomar?”

 

E isto faz-me lembrar aquilo que vos contei antes de ter dado um pontapé na porta e partido o pé àquele tipo. Quando Elvis soube do que aconteceu, mandou-me chamar e disse, “Quero que deixes estas pessoas em paz. Eu preciso disto.” Eu disse, “Tu precisas disto.” E ele, “Eu preciso disto.” E eu, “Bem, passaste muitos anos sem precisar disto.” E ele disse, “Pois, mas agora preciso.” Quando nos tiraram de o acompanhar na estrada, ele foi para Vegas e o pai dele telefonou-me, ao Sonny e ao Dave Hebler. Disse, “Estamos a cortar nas despesas e lamento ter de vos informar que terão de ser dispensados.” Fui-me embora e isso foi o fim. Mas tentei.

 

Você é obviamente um homem muito poderoso, e posso dizer isto porque há 10 minutos atrás quando me deu uma palmadinha na cabeça, pensei que me tinha partido o crânio!! É um homem muito forte e queria também contar-lhe uma história engraçada. Bem, na altura não teve graça, mas talvez todos queiram ouvir. Em 1972 levámos um grupo de fãs aos Estados Unidos e foi para ver Elvis ao vivo em Las Vegas. Divertimo-nos imenso, foi maravilhoso, muito animado! O Coronel foi muito hospitaleiro para toda a gente e conseguimos bons lugares na sala de espetáculos.

 

Acho que o erro que fizemos foi decidir no segundo ano que queríamos regressar. O Las Vegas Hilton não foi tão tolerante desta vez porque haviam 250 pessoas da Grã Bretanha que, na totalidade, não faziam qualquer intenção de jogar no Hilton. Mas queriam mesmo ver Elvis e toda a gente tinha reservas. De uma só vez todas essas reservas foram canceladas, todas elas e não conseguimos entrar no Hilton. Entrámos no Hilton, mas não conseguimos entrar na sala de espetáculos.

 

O que tivemos de fazer foi fingir que somos uma organização mais forte do que na realidade somos e que haviam duas pessoas nessa excursão – uma de um jornal nacional inglês chamado Daily Mirror e um disc jockey chamado Tony Prince, que era um difusor da Rádio Luxembourg. O que fizemos foi ir até a uma estação de rádio de Las Vegas e fingimos ser a BBC a cobrir uma história sobre 250 ingleses que tinham sido expulsos do Las Vegas Hilton. Subsequentemente fui chamado a encontrar-me com Emílio, que me atirou com um mapa dos lugares que existiam na sala de espetáculos e disse, “Escolha lá a m***a de 250 lugares!”

 

Então entrei com Tony Prince (o fulano da Rádio Luxembourg que fez a notícia falsa da BBC) e escolhemos 250 nomes duas vezes e toda a gente tinha um nome. Não o seu nome verdadeiro, e escrevemo-los em bocadinhos de papel. Dissemos a toda a gente do nosso grupo para decorar os seus nomes, mas claro que haviam muitos nomes de origem judaica – Bloombergs e coisas assim, e as pessoas não se lembravam deles. E então podia-se ver este grupo de pessoas vestidas com roupas da C&A, com um ar muito estranho e o seu cartãozinho à frente com o seu nome escrito para conseguir acesso à sala de espetáculos.

 

Para mim foi um trauma, pois a minha primeira mulher, estava traumatizada com o facto de 90% do tempo que eu estive em Las Vegas estava no bar porque não era capaz de lidar com a situação. Quando chegou a altura de tirar uma fotografia normal com a atribuição de um prémio de um jornal inglês (que era um jornal de música chamado New Musical Express), fomos mandados chamar pelo Coronel e, nesta altura, o Coronel estava bastante chateado, para vos contar a verdade, pois tinha sido aborrecido pelo Hilton e já não éramos ali bem vindos. Elvis nem sabia que estávamos lá, foi traumático para todos nós. E a minha primeira mulher, Deus a abençoe, decidiu contar a Elvis o que achava que se estava a passar numa tentativa de me proteger! Agora você, Red, talvez não se lembre disto, mas você pegou nela e atirou-a de encontro a uma parede! Mas este tipo de coisa devia acontecer-vos incontáveis vezes.

Sim. Acho que me lembro disto! O que é que aconteceu? Quer dizer, porque motivo não vos deram bilhetes? Vinham de tão longe para o ver, não houve uma confusão na bilheteira do Hilton?

 

Não houve confusão nenhuma no Hilton, toda a gente tinha o seu formulário de reserva, mas alguém – quer tenha sido uma mudança da gerência do casino ou do Hilton – decidiu que as pessoas que deviam ficar sentadas nos melhores lugares deviam ser as que jogavam com frequência no casino. E 250 pessoas numa sala de 2.000 lugares é mais de 10% da capacidade e isso era, na minha opinião, 10% a mais do que eles queriam suportar. Por isso, do ponto de vista negocial, eles não nos queriam lá e, claro, foi a única vez que não consegui encontrar o Coronel Parker, e tivemos de inventar esta partida. Conseguimos o que queríamos, funcionou, mas disseram-me que se voltasse a fazer algo semelhante, bem que podia ir pensando na barragem ao fundo da estrada para onde me atirariam com toda a certeza!

Sim, estavam lá uns poucos de nós, rapazes, em Vegas! Peço-lhe desculpas. (Red apresenta a sua mulher presente no público). Aqui está outra história. A minha mulher estava numa das cabines privadas da sala de espetáculos e quando Elvis estava lá, eles punham as mesas mesmo até ao pé do palco, mesas compridas. Elvis tinha dado um concerto mesmo bom naquela noite. As cortinas estavam a fechar-se, eu estou a sair, o Sonny também, a andar ao ritmo das cortinas. Uma rapariga de mini saia vinha a correr pela ala abaixo em direção a Elvis. Vi-a e, enquanto as cortinas fechavam, ela atingiu-me nas costas. Estiquei-me e pus os braços à volta dela e ouvi muitos aplausos e assobios. Estava toda a gente a divertir-se e eu a interrogar-me sobre o que seria. Quando chegámos aos bastidores a minha mulher disse-me que quando agarrei a rapariga, estava a fazê-lo através das cortinas e mantive o braço à volta dela para a impedir de passar. Bem, parece que a saia dela subiu até à cintura e não tinha mais nada por baixo! E estes tipos todos a gritar… “Força, Red!”

 

De outra vez outra rapariga vinha a correr pelas mesas abaixo, caiu em cima do colo de um fulano e ela deixou cair a peruca que trazia. Nunca abrandou, levantou-se com aqueles ganchinhos todos na cabeça e continuou a correr!! Não sei se alguma vez ouviram a versão ao vivo de Elvis (Are You Lonesome Tonight), bem, este tipo estava sentado perto do palco com um capachinho e uma miúda que estava a tentar chegar a Elvis, atirou-lhe com o capachinho para o chão e Elvis cantou… “and your bald head…” (“e a sua cabeça careca”). Ele escangalhou-se todo, se ouviram essa gravação, sabem agora o que se passou, estava a cantar ao vivo e este tipo viu o capachinho ser-lhe atirado para o chão. Ele não foi capaz de cantar o resto da canção e as vozes de apoio nunca perderam o ritmo, continuaram a cantar como deveria ter sido até ao fim e ele… “and your bald head…” Bem, foi isso que aconteceu.

 


Legendas: Red, desempenhando o papel de um polícia no filme Follow That Dream; e Elvis, no casamento de Red West.

 

Claro que há aquela história famosa de vocês irem todos até à sala de espetáculos do Hilton e pintarem as estátuas dos anjos de preto. Toda a gente conhece essa história, mas a questão que gostaria de colocar é: onde é que foram buscar a tinta, visto que as lojas de tinta não são assim tão fáceis de encontrar em Las Vegas?

A parte de trás do palco tinha uma arrecadação grande com umas paredes muito altas. E lá atrás era onde guardavam tudo para o palco, tinta, tudo o que fosse preciso. Então fomos lá atrás depois do espetáculo acabar, a sala de espetáculos estava vazia e Elvis disse, “Quero pintar aqueles de preto.” Então tirei os sapatos, trepei até conseguir saltar para a parte da arrecadação e aquilo devia ter uns bons 5m de altura! Desci pelo outro lado, peguei na tinta, agarrei-a ao cinto, voltei a trepar e a descer, calcei os sapatos e fomos pintar as estátuas de preto. E na noite seguinte ninguém pareceu notar e ele disse, “Quero que reparem no que fizemos a noite passada para mudar a sala de espetáculos e como forma de reconhecimento das minhas cantoras de apoio, as Sweet Inspirations. Estava tudo branco. Agora já não está, ora vejam.” Os projetores foram direcionados para aquelas carinhas pretas e as Sweet Inspirations quase morreram de tanto rir! Foi assim que aconteceu.

 

Faziam estas coisas porque se sentiam aborrecidos ou era apenas porque queriam ser parvos?

Éramos malandros, até mesmo naqueles anos finais. Eu andava sempre a pensar em coisas malucas para fazer, com o consentimento dele, e era apenas uma forma de quebrar a monotonia e também para nos divertirmos e provavelmente chocar as pessoas do Hilton. Quer dizer, quem havia de se lembrar de fazer algo assim? Mas eles deixaram ficar, e ficaram assim pintados de preto durante muito tempo antes de mudarem outra vez. De facto, da última vez que lá fui e olhei para ver, ainda lá estavam. Agora já mudaram, mas foi divertido, irmos para o palco todas as noites, olhar para cima e vê-los lá pintados de preto.

 

Se Elvis Presley tivesse vivido, e acho que o conheceu tão bem como qualquer outra pessoa que conheceu bem Elvis Presley, o que acha que ele estaria a fazer agora, com 65 anos?

Estaria a fazer o mesmo que fazia então. Se repararem, e eu já reparei, depois de Elvis morrer a música pareceu mudar. Não é como era naquele tempo. Nos Estados Unidos a música virou-se para o country depois disso. Claro que agora não lhe chamam country, mas Elvis ainda estaria a cantar Hound Dog e coisas assim, ainda a fazer a mesma coisa. Certamente que teríamos feito algumas mudanças, mas ele ainda estaria a cantar. Não teria mudado a sua música.

 

E será que alguma vez ele quis mudar a sua música? Ele nunca considerou tornar-se um artista mais virado para o gospel?

Não. Uma vez estávamos a ver um espetáculo de Bobby Darin. Se conhecer a história de Bobby Darin, sabe que ele começou com Splish Splash, depois passou para uma fase tipo Frank Sinatra, começou a parecer-se mais com ele. Estávamos uma vez no público e ele cantou Splish Splash, parou a meio, e disse que isso era de outro tempo e começou a cantar êxitos seus mais recentes que se pareciam com Frank Sinatra. Elvis gritou, “Não deites abaixo o que te fez chegar onde chegaste!” Ele parou de cantar, sabia bem de quem tinham vindo as palavras e disse, “Sabes uma coisa? Tens razão.” E era assim que ele se sentia, sabe? Elvis sentiu-se tão envergonhado quando fez aquele espetáculo com Frank Sinatra depois de sair do Exército. Ele estava a cantar uma das canções de Frank Sinatra e Frank Sinatra estava a cantar uma das dele. E esse foi um dos seus momentos mais embaraçosos, porque não era nada o tipo de canção que ele costumava cantar.

 

Você e Elvis esgueiraram-se para muitos espetáculos em Vegas?

Esgueirámo-nos para dentro de muitos, sim. Era o que ele fazia antes, via se conseguíamos chegar uma semana antes dos ensaios visto que íamos passar por 4 semanas de inferno e depois também ficávamos outra semana para descansar. E então ele ia a espetáculos, principalmente de Tom Jones. Ia ver o máximo de espetáculos que podia, como Andy Williams. Há bocado estávamos a falar de ele conviver com outras pessoas. Ele convivia. Convidava sempre Tom Jones e o quarteto para subirem, e depois de fazer um espetáculo durante uma hora e meia, subia, o Tom Jones aparecia e Elvis e o grupo cantavam todos juntos. Tom Jones apareceu algumas vezes, mas Andy Williams, pessoas assim, ele gostava de os convidar e ficava a falar com eles. Era o que fazíamos depois dos espetáculos. Elvis andava sempre a cantar, adorava ter o grupo de gospel com ele e as Sweet Inspirations para poderem cantar canções gospel ou o que lhe apetecesse e divertir-se.

 

Haviam muitas raparigas?

Haviam centenas de raparigas. De facto, uma vez a minha mulher estava lá e levei-a até lá cima para o ver. Quer dizer, era o que ele queria que fizéssemos. Queria ter um público de pessoas só para falar, tinha as suas citações religiosas e gostava de falar com toda a gente. Claro que ao mesmo tempo percorria a multidão para ver que aspeto tinham, mas essa era a norma depois do concerto para acalmar. Queria muita gente na suite e havia sempre muita gente.

 

Diria que – e sei que algumas das mulheres querem saber isto – Elvis Presley era um macho predador?

Certo. Há um antes e um depois. Quando ele foi para Vegas pela primeira vez, e acho que durante os primeiros filmes, nenhuma mulher estava segura, mas nos anos finais estava lá a Linda, ou a Priscilla. Nos últimos dois anos não consigo pensar em mais ninguém senão na pessoa que estava lá na altura, Linda e a outra rapariga (agora não me lembro do nome dela). As outras eram apenas alguém com quem falar. Essa é a verdade. Acho que ele estava a ficar velho! Tinha os livros que as pessoas lhe levavam, alguns deles um pouco estranhos, mas era mais nisso que se sentia interessado do que em qualquer outra coisa. Estava a começar a ver coisas no céu e coisas assim.

 

Acha que isso não foi bom para a psique de Elvis na altura? Acha que essas pessoas não deviam ter feito o que fizeram?

Estas coisas nunca lhe deviam ter sido trazidas porque as pessoas que lhas levavam eram estranhas, ainda o são e isso fê-lo desviar-se. Ele andava à procura de algo e ficou a pensar que era daquilo.

 

Hoje em dia ainda vê essas pessoas, a Linda, a Ginger, etc?

Não. Visitámos a Linda, a minha mulher e eu e alguns do grupo quando fomos à Califórnia. Fomos até lá vê-la. A Linda é simpática, sabe, é uma boa pessoa. Fez o melhor que pôde, mas agora o grupo está separado. Eu fui o primeiro do que começaram a chamar de Máfia de Memphis. Fui o primeiro, depois veio o Lamar, o Sonny, o Marty e o Billy. O Billy esteve sempre presente, pois era como o nosso irmão mais novo, se bem que não se tivesse envolvido tanto na parte das digressões como nós até ficar mais velho. Mas quando ele arranjou o outro grupo, como que nos separámos, as coisas aconteceram como aconteceram, mas não nos damos muito bem.

 

Agora vou passá-lo ao público. Há alguém que queira fazer uma pergunta?

Estou a ficar velho e a minha audição já não é o que era, por isso sejam bonzinhos comigo.

 

Público:

Como era a mãe de Elvis?

A mãe dele era um anjo. Ele adorava a mãe, a mãe adorava-o e ralava-se de morte com ele. Não admitia parvoíces a ninguém, era uma mulher de temperamento muito forte e sinto saudades dela. A última vez que a vi foi quando ainda estava nos Fuzileiros. Estava em casa de licença. Elvis estava a fazer King Creole e eu fui até Graceland para a ver, e a Vernon, e eles telefonaram a Elvis. Disseram-me que Elvis queria que eu fosse de avião e depois fizesse o resto do caminho de comboio até New Orleans. Naquele tempo Elvis não andava de avião e estavam a terminar o filme. Eu tinha uma semana de licença e a última coisa que a mãe dele me disse foi, “Cuida do Elvis,” e eu levei isso muito a sério até ao resto da minha vida.

 

Acha que Elvis precisava do 68 Comeback para voltar entrar na linha certa?

Ele interrogava-se, depois de todos aqueles filmes, sentia-se um pouco inseguro de si mesmo e foi exatamente para isso que o especial serviu, para ver se ainda tinha a velha magia. O que o Coronel tinha planeado para ele tê-lo-ia destruído. Queria que ele se apresentasse e cantasse um monte de canções de Natal! E Elvis disse ao diabo com isso, vou fazer isto. Portanto, foi um “teste às águas”.

 

Você diz que se tornaram tão próximos como dois irmãos. Alguma vez teve uma briga com Elvis?

Nunca. Nunca. Tal como disse, a mãe dele disse-me para cuidar dele, para não o magoar. Houve umas três vezes que estive bem perto de brigar com ele, mas ele teria de me apontar uma arma ou uma faca antes de o atacar. Não, nunca faria isso.

 

Alguma vez Elvis quis conhecer Marilyn Monroe quando teve oportunidade e há algumas fotos algures de que tenha conhecimento?

Sim, ele queria conhecer Marilyn Monroe, mas ela estava sempre ocupada. Nunca aconteceu.

 

Elvis tinha mais alguém com quem confidenciar para além das pessoas que trabalhavam e dependiam financeiramente dele?

Não.

 

Quando escreveu o livro a desacreditar Elvis e ele morreu poucas semanas depois, alguma vez sentiu qualquer responsabilidade pela sua morte?

Não, não senti nenhuma responsabilidade porque Elvis já tinha morrido antes, mas encontrámo-lo mesmo a tempo. Eu sabia o que estava para acontecer e esse foi um dos motivos principais que me levaram a escrever o livro porque, tal como já disse antes, tinha tentado impedir o que estava a acontecer enquanto estava a trabalhar para ele e não funcionou. Então escrevemos este livro para tentar pôr-lhe à frente dos olhos o que se estava a passar, mas também não valeu de nada. E foi uma coincidência, garanto-lhe isso, mas sei bem em que forma ele estava.

 

Vocês não sabem em que forma ele estava. Eu sabia, e todos os que estavam com ele também. Se não tivéssemos estado presentes umas poucas de vezes antes, ele teria morrido mais cedo, estávamos a tentar abrir-lhe os olhos e, tal como já se disse, não havia sítio onde o pôr e não o podíamos levar até a um hospital. A única pessoa que poderia tê-lo posto lá era o seu pai e isso também não aconteceu. Por isso, ele estava para ali como que um caso perdido.

 

Quando foi a última vez que falou com Elvis a bem?

A última vez que falei com Elvis foi quando ele me telefonou, quando soube que o livro estava a ser escrito. De facto, a conversa vem publicada no livro. Ele telefonou-me para saber como é que eu estava. Acho que se sentia um bocadinho nervoso sobre o que o livro iria conter. Tivemos uma longa conversa. Foi a última vez que falei com ele.

 

Teria feito as coisas de forma diferente?

Sim, podia ter mentido sobre uma série de coisas, mas tudo o que vem naquele livro é verdade. Não sei se leram o livro, mas será que alguém viu as coisas boas que tinha? 90% daquele livro é sobre as coisas positivas, mas vocês preferem encobrir essa parte. E os outros livros que têm saído, estão cheios de tretas!

 

Onde estava quando Elvis morreu?

Estava a meio da produção de um episódio de Black Sheep Squadron intitulado 200 Pound Gorilla. Era sobre mim, estava a filmar com Robert Conrad e o coordenador de proezas – estávamos a ensaiar uma cena, era bem cedo de manhã, e o Chuck vieram a correr e disseram, “Eh pá, acabei de ouvir algo na rádio que dizia que Elvis morreu.” Bem, Robert Conrad tinha feito amizade com Elvis e falámos muitas vezes sobre o que tinha transpirado. Foi a única vez que tive conhecimento de um programa ficar por fazer por tempo indeterminado. Ninguém faz isto a um filme ou a uma série televisiva, o espetáculo tem sempre de continuar, mas desta vez foi o que aconteceu. A minha mulher e os meus dois filhos vieram ter comigo a chorar e não prestámos para fazer mais nada durante o dia ou o resto daquele episódio. Mas lembro-me bem.

 

Alguma vez Elvis considerou escrever canções consigo, Red?

Ele dava-me títulos. Deu-me o título de That’s Someone You Never Forget. Acho que se sentou comigo uma vez. O Charlie, ele e eu sentámo-nos e tentámos escrever algo, mas ele não era capaz de ficar quieto durante muito tempo. Dava-me um título e dizia-me para escrever a letra. Era assim que acontecia.

 

Estava a dizer há pouco que sempre se considerou como um dos melhores amigos de Elvis. Esta é uma pergunta com duas partes. Se foi esse o caso, acho que se tivesse sido o caso com um amigo meu, nunca teria sentido vontade de escrever um livro como esse e tornar tudo público. E também acho que já foi citado a dizer que o fez para ajudar Elvis e torná-lo consciente. Se foi esse o caso, se era apenas para o ajudar, não teria sido justo dizer que qualquer dinheiro que proviesse do livro deveria tê-lo doado para caridade?

Concordo consigo, mas eu estava falido. Não, escrevi o livro por dinheiro. É isso que quer ouvir? Escrevi-o por dinheiro e escrevi-o para o ajudar. Vão continuar a remexer nesta coisa? Lamento que se sinta assim, mas eu gostava muito daquele homem. Não sabem o que tive de passar para tentar ajudá-lo a afastar-se daquilo. Sim, você tem a sua opinião formada sobre o facto de eu ter escrito o livro. Tudo bem, eu contei-lhe o meu lado da história e não é capaz de o aceitar, então lamento, mas sim, escrevi o livro para tentar salvá-lo e escrevi-o para ganhar dinheiro.

 

É verdade que Elvis andava para todo o lado com uma arma e tem algumas histórias para contar sobre isso?

Sim. Todos nós tínhamos armas. Depois de termos todos recebido os nossos distintivos de ajudantes de xerife em Denver, Las Vegas e Memphis. Tivemos investigações de segurança feitas aos nossos passados. Andávamos todos armados e éramos considerados perigosos.

 

TS – Acho que para acabar seria melhor fazê-lo com uma história engraçada. De todas as partidas que Elvis Presley pregou aos elementos da Máfia de Memphis, qual é a que considera a mais engraçada?

Certo. Este é o tipo de coisa que fazíamos para quebrar a monotonia de Las Vegas e isto vem no livro, um dos bons momentos. De vez em quando recebíamos as ameaças de que já falei, então lembrámo-nos de pregar uma partida aos Stamps Quartet. Elvis, Sonny e eu combinámos tudo… okay, então foi isto o que fizemos. Primeiro pedimos aos guardas da segurança do hotel para esvaziarem as suas armas, depois pensámos no que poderia acontecer se alguém tentasse fazer alguma coisa de mal nessa noite. Seja como for, lá no camarim depois do concerto chamámos os Stamps e dissemos, “Ei, rapazes, isto é muito sério, recebemos outra ameaça esta noite e quero que apanhem o elevador, vão até ao 30º andar, saiam e entrem na suite.

 

Então, durante todo o caminho até lá acima, eu e o Sonny estávamos sempre a dizer-lhes, “Caramba, estejam preparados para o que der e vier.” Muito mau. Eles estavam num estado de nervos lastimável durante toda a viagem de elevador. Subimos, entrámos na suite e havia duas formas de lá entrar, pela frente e por trás, através da sala de jantar, que dava depois para a sala de estar. Entrei com eles, fechei a porta, o Sonny foi pelo outro lado. Mal entrámos na suite eu disse, “Okay, parece que nos saímos bem.” Depois, de súbito, o Sonny grita, “Filho da p…a!” e bum!... as pistolas não tinham balas. O J.D. Sumner atirou com o Elvis para o chão e pôs-se em cima dele, o Donnie Sumner saltou por cima do bar, bateu com o joelho no topo do bar e quase partiu as pernas. Ficou escondido atrás do bar. Eu subi os três degraus, disparei alguns tiros, o Sonny também. Eu agarrei o estômago e disse, “Oh, fui atingido…” e cai pelos degraus abaixo.

 

Todos os guardas que nos tinham acompanhado foram atingidos, com todas as armas a disparar em simultâneo, todos eles estavam “mortos”. Um dos Stamps estava debaixo da mesa, era muito religioso e estava a rezar! E o outro, o homem mais selvagem do grupo, não parava de dizer, “Dêem-me uma arma, dêem-me uma arma!”. Por volta dessa altura já o Sonny tinha posto o braço à volta de Elvis (que ainda estava caído no chão com o J.D. por cima dele) e só o que o Donnie Sumner conseguia ver do sítio onde estava escondido era uma mão com uma arma. Pegou numa grande lata de sumo de tomate e atirou-a. Não acertou na mão de Sonny por pouco e este virou-se e disse, “Filho da…” E caiu para o lado a rir. Era o tipo de coisa que fazíamos para nos divertirmos.

 

Mensagem Final de Red para os Fãs:

Gostava apenas de vos dizer como me sinto entusiasmado por estar aqui convosco a partilhar estas coisas. Tive sempre a esperança de manter este encontro algo de leve e animado, pois teria sido assim que ele gostaria que tivesse sido e lamento que nunca tenham visto este homem em pessoa.


Fonte: Internet.

 

Nota:

Aconselha-se a leitura da Conversa Telefónica que Red West gravou entre si mesmo e Elvis em outubro de 1976, no seguimento de ter sido despedido, assim como Sonny West e Dave Hebler, altura em que pensaram escrever o livro, que seria publicado, Elvis: What Happened?

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