Legendas: Larry Geller.
/ Elvis com Larry Geller.
O lado espiritual de Elvis é muitas vezes algo que em
relação à sua vida e psique é colocado de lado. Larry Geller foi um
bom amigo de Elvis que passou anos ao seu lado e esteve presente até
ao final. Larry tem algumas histórias fascinantes e ilustrativas
para contar e Piers Beagley teve a sorte de passar duas horas a
falar com ele na sua casa, em Los Angeles.
É uma maravilha conhecê-lo, Larry, e tenho tantas
perguntas que nem sei por onde começar. Hoje em dia você gosta de
ser descrito como “O Mentor Espiritual de Elvis”, ao passo que antes
era muitas vezes descrito por seu Conselheiro Espiritual.
Isso é algo que as editoras fazem, nunca me descrevi
nesses termos. Eu era cabeleireiro pessoal de Elvis, seu bom amigo,
confidente e éramos como irmãos espirituais quando estávamos juntos.
E com isto quero dizer que logo na primeira noite em que nos
conhecemos, isso mudou as vidas de ambos para sempre.
Quando é que conheceu Elvis pela primeira vez?
A primeira vez que o vi foi quando era ainda um
miúdo, num concerto no Auditório Pan Pacific em Los Angeles. No
entanto, 8 anos depois eu estava a cortar o cabelo de Johnny Rivers
quando o meu telefone tocou e era uma pessoa que trabalhava para
Elvis, que se chamava Alan Fortas. O Alan disse, “O Elvis adoraria
que viesse cá à sua casa para lhe cortar o cabelo.
Gostaria de vir?” Eu disse, “Ótimo.”
Na altura eu estava a trabalhar para vários artistas
de Hollywood, como Peter Sellers, Sam Cooke, Steve McQueen e outros.
Mas quando soube que ia cortar o cabelo de Elvis, fiquei um
bocadinho nervoso!
Mas como é que Elvis conseguiu o seu número de
telefone? Na altura Sal Orfice não era o seu cabeleireiro?
Tem razão. Era Sal que estava a tratar do cabelo de
Elvis na altura, mas ele não gostava de ter de viajar tanto e de ser
tão subserviente de Elvis e foi a sua esposa, Marilyn, que sugeriu
que eu o substituísse. Nessa altura eu estava a sair-me bastante bem
com o meu trabalho. Tinha apenas 24 anos e não era nada de especial
para mim se tivéssemos de ir até à casa do Frank Sinatra, por
exemplo! Mas só de pensar que ia conhecer Elvis, isso era um pouco
“demais” para mim. Ele era O Homem, era O Rei, era uma lenda!
Fui de carro até Bel Air, e até à casa em Perugia Way
e podia-se logo saber qual era, pois havia toneladas de pessoas à
porta! Enquanto eu passava pelos portões, as raparigas gritavam,
“Diz ao Elvis que estou aqui e diz ao Elvis que o amo” e eu só
pensava, “Uau, isto é mesmo importante!”
Entrei em casa e Elvis vem ter comigo e diz, “Olá,
chamo-me Elvis Presley,” e eu estendi-lhe a mão e disse, “Olá,
eu chamo-me Larry Geller.” Elvis tinha cerca de 1,84m e eu tenho
1,87m e tive uma sensação de déjà-vu de há 8 anos atrás, quando eu
era o miúdo a olhar para cima, para este mesmo homem quando o vi no
parque de estacionamento. Apertei-lhe a mão e ele disse, “Vamos
até à casa de banho, onde podes tratar do meu cabelo e onde podemos
conversar.”
Entrámos na sua casa de banho e eu estava à espera de
ver aquela “artilharia” toda de Hollywood, cadeiras que se vêem nos
salões e tudo o mais, mas não havia nada! Elvis disse, “Vem daí,
homem, vamos tratar do assunto aqui mesmo,” e pôs a cabeça no
lavatório! Comecei a pôr-lhe champô no cabelo e quando comecei a
espremer-lhe a água da cabeça, ele levantou-a e começou a sacudi-la.
Voou água e gotas para todo o lado, para cima de mim, para cima
dele. Ele olhou para mim com aquele sorriso à Elvis e disse, “Ei,
homem!
Que se lixe! Pelo menos já está lavado!”
Quando ele disse aquilo pensei que homem simples
Elvis era. Soube logo naquele momento que era sincero, não era
falso.
E então como é que Elvis descobriu tudo sobre os seus
interesses? Foi ele que lhe perguntou?
Bem, levei cerca de 45 minutos a tratar do cabelo
todo e durante todo esse tempo Elvis não disse uma palavra, mas os
seus olhos seguiam cada movimento que eu fazia. Eu trabalhava com
pessoas como Warren Beatty e Paul Newman e os homens mais famosos do
cinema, mas posso dizer-lhe que nenhum deles se parecia com Elvis
Presley. Elvis eclipsava-os a todos! Ele tinha o rosto, a voz, a
carreira, os fãs, a fama, o dinheiro e até tinha o cabelo! Era
incrível trabalhar o cabelo dele.
Quando acabei de o pentear, pus-lhe laca e
perguntei-lhe, “Então, o que achas, Elvis?”
Elvis olha e diz, “Sim, sim, está bom, mas queria fazer-te uma
pergunta, Larry. O que é que realmente fazes na vida? Como é que és
realmente?” Pensei para comigo, “Uau, este tipo não disse uma
palavra e agora está a ficar demasiado pessoal.”
Então contei-lhe a verdade acerca dos meus interesses
e isto passou-se muito antes da explosão dos Beatles e dos
interesses neste tipo de assuntos ficar popular. Então disse-lhe que
trabalhava como cabeleireiro como forma de vida, mas o que era mais
importante para mim era a minha busca pela verdade, pelo objetivo
da vida e por Deus.
Disse-lhe, “Sei que és Elvis Presley e a maior
estrela do mundo e que o que te estou a dizer talvez te soe bastante
pateta.” Mas Elvis replicou, “Não, espera aí. Larry, nem
fazes ideia de como preciso de ouvir o que tens para dizer. Por
favor, continua a falar.”
Então contei-lhe sobre a minha meditação, o ioga, os
meus livros espirituais, que era vegetariano e tudo o mais. Logo a
seguir ele quis saber sobre a alma, Tínhamos alma?, De onde
vínhamos?, Sobreviveríamos a esta vida?... Todas estas questões
surgiram nesta conversa.
E durante este tempo todo ainda estavam na
casa de banho de Elvis?
Bem, antes que me pudesse aperceber disso, já tinha
passado mais uma hora e Elvis estava a conversar comigo, quando
olhei para o espelho e ele tinha lágrimas a escorrerem-lhe pelo
rosto. Estava a falar sobre a sua mãe e como eram pobres e como ela
tinha desperdiçado a sua vida a trabalhar como uma escrava.
Contou-me como não tinham água corrente em casa, mas um poço nas
traseiras. Falou do seu irmão gémeo Jesse, que tinha nascido morto e
como tinha sido educado a ir à igreja. Falámos de coisas bastante
importantes e durou cerca de 3 horas.
De súbito, alguém bate à porta e isto é bastante
irónico e nunca hei-de esquecer. Um dos rapazes disse, “Ei,
chefe, estás bem, aí dentro?” Elvis replica, “Claro, homem,
claro que estou bem. Que diabo pensas que me pode acontecer na minha
própria casa de banho?” E claro que agora todos sabemos que foi
aí que tudo acabou.
Bastante irónico, não?
Na altura também não obteve uma oferta para trabalhar
a tempo inteiro para Peter Sellers?
Tem razão. Duas semanas antes Peter Sellers tinha-me
pedido para ir para Inglaterra com ele e trabalhar com ele no seu
novo filme. Era uma mudança de país e muito embora eu gostasse de
Peter, era ir para muito longe. Por isso disse que teria de pensar.
Mas quando Elvis me disse, “Volta para o
teu salão. Diz-lhes que te despedes e vem trabalhar para mim a tempo
inteiro.
O que achas disso?”
Nem precisei de esperar um nano segundo para responder, disse logo,
“Sim.”
Era uma situação que me parecia certa e sabia que
tinha razão.
Alguma vez sentiu o mesmo em relação a qualquer outra
celebridade com a qual tenha trabalhado?
Sabe que tenho arranjado o cabelo de celebridades e a
única outra pessoa com quem tive uma ligação espiritual foi Sam
Cooke. Sam era um homem muito terra a terra, muito sensível. Tinha
perdido o seu filho. O filho tinha morrido e ele estava a passar por
dificuldades. E era uma grande estrela. Pegava fogo à música;
provavelmente foi o maior artista negro de todos os tempos. Também
cheguei a dar-lhe alguns livros sobre ioga.
Então depois de ter dito que sim a Elvis, começou
logo a trabalhar com ele no filme Roustabout?
Elvis disse-me para me apresentar nos Estúdios da
Paramount no dia seguinte às 8 horas da manhã. Então lá fui eu para
a Paramount e arranjei-lhe o cabelo. Foi tão incrível porque no
final do dia saímos todos até onde estavam os carros estacionados e
Elvis estava sentado no Rolls Royce que tinha acabado de comprar.
Disse-me, “Ei, Larry, acabei de comprar este Rolls. Queres
levá-lo emprestado esta noite? Vem até cá a casa logo à noite e leva
a tua mulher a dar uma volta!” Assim sem mais nem menos! Mas,
sabe, senti-me assim um bocado estranho e disse, “Não, deixa
estar, Elvis.” Nem queria acreditar na sua generosidade, mas
Elvis era assim!
Ele adorava dar, não era?
Se você tivesse a oportunidade de conhecer Elvis esta
noite, ele ter-lhe-ia dado um relógio, uma pulseira, ou qualquer
outra coisa. Ele era assim, uma pessoa extraordinária, sempre pronto
para dar. Adorava mesmo fazer as pessoas felizes e partilhar o que
tinha.
Já leu o novo livro de Alanna Nash sobre o Coronel?
Alguma vez desconfiou de algumas das coisas que ela expõe?
E tem de ler o novo livro, pois abrir-lhe-á os olhos.
É muito verdadeiro. Eu conheci o Coronel e o tipo de carácter que
ele era e como era bombástico. Era um autêntico vigarista que se
servia do poder para conseguir o que queria. Tinha água gelada a
correr-lhe nas veias. É um livro excelente, mas muito do que vem lá
escrito não é nenhuma revelação para mim. Dei à autora, Alanna Nash,
todas as informações que tinha. Ela é uma autêntica jornalista.
Nos últimos dois anos da sua vida, lembro-me de ouvir
Elvis dizer, “Quero ir até à Europa e fazer
digressões, ver o mundo. Tenho fãs na Europa, na Alemanha, no Japão.
Os Beatles vêm cá, os Stones também.
Porque não eu?”
Ele chegou mesmo a dizer-me que achava que alguma
coisa de muito estranha e má se devia estar a passar, mas não sabia
bem o que poderia ser. Elvis disse que sempre que perguntava o que
se passava, o Coronel dizia que estava a trabalhar sobre o assunto.
Mas agora sabemos o que era! (Nota:
no livro de Alanna Nash, The Colonel, depois de intensas
investigações, o Coronel Parker foi ligado a um assassinato ocorrido
na sua terra natal, na Holanda. Tudo isto justifica várias das
medidas que ele tomou – ou deixou de tomar – durante a carreira de
Elvis).
Mas você foi dos que se deu bem com o Coronel no
início porque foi uma das poucas pessoas a ter a honra de entrar
para a liga maluca do “Boneco de Neve” do Coronel Parker?
No início demo-nos muito bem. Mas eu sabia que era
tudo segundo as suas planificações. Por vezes lá aparecia no
estúdio, mas o contacto que tinha com Elvis era mínimo. Vinha até
aos estúdios, falava com Elvis durante talvez uns 3 ou 4 minutos e
pronto. Fazia o que queria fazer e sabia muito bem como manipular as
pessoas. Ele chegava e via-se logo como era a linguagem corporal dos
rapazes.
Ficavam em sentido e era “Sim, Senhor Coronel! Sim,
senhor.”
Ele dizia, “Há por aí uma cadeira para o Coronel?
Traz-me lá uma, Larry.” Fazia-me sentir muito pouco à vontade, a
forma como me destacava dos outros, mas estava sempre a fazer isso
porque “estava a trabalhar sobre o assunto.” Sentia-me muito mal na
sua presença e depois, cerca de dois anos mais tarde, caiu tudo por
terra.
Você esteve presente para algumas datas
extraordinariamente importantes. Por exemplo, em meados dos anos 60,
quando Elvis estava mesmo a precisar de ter algo mais para além dos
seus filmes tão maus. E você trouxe-lhe algum interesse espiritual.
Sabe que todas as noites Elvis e eu passávamos cerca
de duas horas juntos sozinhos a conversar e isto continuou durante
anos. Até mesmo Priscilla, no seu livro, escreve sobre como nos
afastávamos. Ela tinha ciúmes, pois nem ela, ou os rapazes, sabiam
do que falávamos.
Como está o vosso relacionamento quando agora vê
Priscilla?
Tenho-me cruzado com ela umas poucas de vezes e é
tudo muito “à superfície”, abraçamo-nos, dizemos “Olá, como
estás?”, mas não somos amigos, sabe! Descobri recentemente que
ela está a fazer alguns trabalhos maravilhosos de beneficência, o que é
ótimo, por isso, Deus a abençoe.
Uma coisa que nunca consegui entender foi como é que
Elvis conseguia fazer a sua meditação e ir até à Irmandade de Auto
Realização com o esquema e horário de trabalho que tinha com os
filmes. Ele ia até lá quando haviam intervalos entre os filmes ou de
noite chegava e dizia, “Larry, este filme é uma merda. Vamos
meditar!”
(A rir) Estávamos em Hollywood para pré produção
durante uma semana ou duas antes das filmagens começarem. E então
íamos visitar a Daya Mata às 10 horas da noite. Talvez fôssemos num
domingo ou durante a semana ao Parque de Auto Realização que ficava
na praia. Não tinha problema nenhum e nunca ninguém o aborrecia com
isso. Respeitavam o sítio e o ambiente espiritual. Foi a partir daí
que surgiu a conceção do seu Jardim das Meditações. Elvis e eu
concebemos tudo aquilo juntos, com a ajuda de Marty Lacker. A
propósito, nos anos finais ele meditava todas as noites e antes de
atuar ao vivo eu dava-lhe uma pequena cura espiritual.
Outro evento importante foi em 27 de agosto de 1965,
quando os Beatles o vieram visitar. O que me pode contar sobre essa
noite?
O Coronel tinha marcado um encontro entre Elvis e os
Beatles. Antes de eles chegarem, Elvis e eu estivemos na
casa de banho e eu estive a arranjar-lhe o cabelo. Elvis esteve
sempre muito calado e a tamborilar com os dedos na berma do
lavatório. Olhou para mim e disse, “Caramba, sei o que aqueles
tipos estão a passar. Quer dizer, já passei por aquilo, já o fiz.
Estão a tocar para grandes audiências e eu estou a fazer estes
filmes horríveis para adolescentes – Sinto tanta vergonha.”
Naquela noite Elvis tinha um aspeto tão fenomenal.
Ele costumava usar umas camisas tipo bolero e tinha-as em todas as
cores, exceto castanho. Detestava castanho! Naquela noite estava a
usar uma camisa azul. Fomos todos para a sala e subitamente ouvimos
gritar, como um trovão, como se uma bomba tivesse explodido. A porta
da frente abriu-se e os Beatles entram! Os Beatles vieram com Brian
Epstein, o seu empresário. Foram ter com Elvis e foram apresentados
e Elvis sentou-se numa cadeira. Todos os Beatles se sentaram no chão
mesmo à frente de Elvis, num semi círculo. Ficaram ali sentados, a
olhar pasmados, para cima, para ele. Instalou-se um silêncio de
morte na sala, até Elvis dizer, “Bem, que diabo, se vocês não vão
falar comigo, vou para o meu quarto.” Isso fez toda a gente rir
e quebrou-se o gelo. Lembro-me de os ver a olhar para a televisão de
Elvis e dizer, “Uau, vejam, uma televisão a cores!” porque nunca
tinham visto uma antes. Depois disso, Ringo, Billy Smith, Marty e
Richard foram todos jogar bilhar na sala ao lado.
E o que dizer sobre a famosa jam session?
Paul McCartney, o John e eu, e possivelmente Jerry
Schilling, estávamos sentados e a conversar quando Paul perguntou a
Elvis se podia experimentar uma das suas guitarras. Elvis disse, “Claro,
homem, serve-te à vontade.” Então Paul pegou numa e começou a
tocar, seguido por John e logo seguido por Elvis também. Os três
começaram a tocar e a cantar durante cerca de 20 minutos e eu
pensei, “Isto é incrível!
Agora estou no centro do universo. Os Beatles e
Elvis!”
O mais engraçado é que o Coronel Parker era tão
esquisito com o controlo que não permitiu que se tirasse uma única
fotografia de Elvis com os Beatles juntos! Até que ponto uma pessoa
pode ser tão ridícula?!
A dada altura comecei a interrogar-me onde estaria
George. Fui lá fora e estava escuro como breu, mas mal saí, soube
que ele estava lá, pois chegou-me logo o cheiro de erva! Lá estava
George, sentado ao pé de uma árvore a fumar um charro. Sentei-me e
conversei com ele durante um bocado. Tivemos uma conversa ótima
porque eu sabia que George estava envolvido com questões hindus e
mais tarde viria também a ser grande amigo de Daya Mata.
Estabelecemos logo uma ligação espiritual. Senti-me tão triste
quando soube que morreu no ano passado.
Já alguma vez viu aquelas fotos muito fraquinhas e
amadoras que se tiraram naquela noite?
Sim, sei quais são. Elvis apareceu e disse, “Ei,
rapazes!
Quero mostrar-vos uma coisa.” Primeiro fomos lá fora
e fomos ver o seu novo Rolls Royce. Era uma loucura com as multidões
lá fora a gritar ao mesmo tempo “Amo-te, Elvis” e “Amamo-vos,
Beatles.” Lembro-me que algumas adolescentes tinham subido para
umas árvores altas e estavam a utilizar as suas máquinas
fotográficas. Acho que é daí a origem dessas duas fotos tiradas de
noite. De seguida Elvis levou-os para dentro para verem o novo
presente que o Coronel Parker lhe tinha dado, que era uma nova sauna
no quarto de Elvis. Paul meteu a cabeça para espreitar para o
espelho e disse a Elvis, “Quem é que está ali?” Elvis não
sabia e quando olhámos, vimos uma adolescente que se estava a tentar
esconder debaixo de um banquinho de madeira. Ela lá tinha conseguido
passar pelos seguranças. Quando nos viu gritou e saltou para cima de
Elvis e tivemos de a tirar para fora à força!
Depois dos Beatles se terem ido embora e de Elvis se
despedir, eu e ele voltámos para o seu quarto e ele disse, “Gostei
mesmo daqueles rapazes, são bons rapazes. Mas o que se passará com
os dentes deles?!” Claro que devido às faltas de comida do pós
guerra na Inglaterra, havia falta de boa comida e os dentes deles
não eram bons. Seja como for, Elvis disse, “Não consigo perceber.
Têm dinheiro, porque não mandam arranjar os dentes?” E mesmo
quando estávamos a preparar-nos para ir dormir, Elvis disse, “Lembra-te
duma coisa, Larry, eles são quatro e eu só sou um!”
Voltou a ver os Beatles depois disso?
Bem, de todos os Beatles era óbvio que Elvis tinha
gostado mais de John Lennon. Durante uns poucos de dias depois do
encontro, John telefonou várias vezes, pois queria que fôssemos ter
com eles para festejar. Seja como for, os rapazes foram todos
durante as 3 ou 4 noites seguintes, mas Elvis não quis ir. Os outros
divertiram-se imenso, mas eu acabei por ficar com Elvis, para lhe
fazer companhia.
Obviamente que devem ter havido alguns momentos de má
tensão entre você e os outros elementos da Máfia de Memphis por
causa dos seus antecedentes diferentes. Também parece que está
desaparecido em muitos dos documentos mais recentes sobre Elvis,
possivelmente porque é Joe Esposito que está a controlar isso? Como
é que lida com o ressentimento?
Acertou em cheio, é mesmo assim! Bem, o que tenho de
dizer é que eu estava lá porque era o que eu fazia para viver, mas
mais importante que isso, estava lá por causa de Elvis porque
gostava dele. Ali estava um tipo super aberto e recetivo,
interessado naquilo que eu tinha para dizer, por isso, era a
combinação perfeita. Ambos gostávamos muito de numerologia e ele era
um 8 porque nasceu a 8 de Janeiro e esse é um número que representa
ser mal entendido. E Elvis sentia que era muito mal entendido. Falta
de entendimento na sua carreira e até com as pessoas sobre quem ele
era. Elvis tinha perfeita consciência de todos os ciúmes, invejas e
ressentimentos dentro do grupo, mas ele achava que estávamos ali
para um objetivo mais importante. Era nisso que se baseava a nossa
amizade, mas era muito difícil. Para o mundo exterior eu fazia parte
da Máfia de Memphis, mas dentro do grupo haviam alguns elementos que
se detestavam entre si – e isso existe ainda hoje. Eu tinha a
atenção de Elvis e eles não gostavam disso. Não sabiam do que
falámos ao longo dos anos. Em termos da visão que Elvis tinha para o
seu futuro, as pessoas à volta dele não sabiam nada de nada, exceto
Charlie Hodge. O Charlie sabia porque ele era muito discreto em
relação a algumas discussões muito, muito importantes que tiveram
lugar durante os últimos dois anos de vida de Elvis. Depois de um
concerto, os rapazes iam até ao bar para engatar as miúdas e eu ia
para ficar com Elvis. Era por isso que estava lá e era por isso que
queria estar lá.
Charlie parecia ser um dos melhores amigos de Elvis.
O Charlie era um homem muito simpático e decente e o
Billy também esteve sempre presente. Sempre senti que tinha uma
missão, por isso sentia que tinha de ficar com Elvis durante os
momentos piores. Mesmo até ao dia de hoje, até mesmo com aqueles que
ainda me guardam ressentimentos e com quem não me dava, não me rala
com isso. Porque nós estabelecemos um elo e partilhámos algo de tão
único e profundo que tudo o resto consegue passar-me ao lado. O que
eu não faria para poder estar sentado durante dez minutos com ele
agora mesmo!
Houve um longo período em que você não teve qualquer
contacto com Elvis, desde 1967 a 1972, depois do incidente durante
as filmagens de Clambake. Lembro-me que você disse que o
voltou a ver pela primeira vez em agosto de 1972 e que lhe pareceu
que já nessa altura ele estava metido em sérios problemas.
Foi o meu amigo Johnny Rivers que sugeriu que
fôssemos ver Elvis a Las Vegas. Mas quando Elvis apareceu, pude ver
a mudança e vi isso nos seus olhos. E acontece que disse a alguém
que estava na nossa mesa, “Ele tem mais cinco anos de vida, da
forma como está a ir.” Claro que não estava mesmo a falar a
sério, mas foi apenas porque pude sentir que algo estava errado.
Conseguimos ver pela linguagem corporal de alguém e pude sentir que
ele estava a usar más substâncias e que provavelmente não tinha os
elementos certos à sua volta. Era algo que tinha a ver com a
energia.
Legendas: Larry com Elvis, no
Hawaii, durante as férias de março de 1977.
Muito
embora o Coronel tenha, de facto, feito alguns negócios espantosos
nos primeiros tempos, parece que por volta de meados dos anos 70 ele
estava a estafar o seu cavalo de corrida até à morte. Isto deve ter
sido horrível de ver?
(a
suspirar) Oh, meu Deus, nalgumas noites nem sei como ele era capaz
de atuar. Numa das últimas tournées de Elvis, estávamos em
Louisville, no Kentucky, e Elvis estava fisicamente doente e estava
a passar por problemas emocionais sérios. Nesta noite em particular
sentia-se com náuseas e com febre, sentia-se terrivelmente mal. Não
conseguia dormir, virava-se e revirava-se na cama. Eu mesmo estava
tão cansado, que disse, “Ei, Elvis, tenho de ir dormir um pouco.
Vejo-te depois quando acordar.” Estávamos no Hilton Hotel e no
dia seguinte, quando regressei à suite de Elvis, entrei e,
surpreendentemente o Coronel estava lá. Foi a primeira vez que o vi
dentro do quarto de Elvis. Disse, “Olá, Coronel”. E ele
disse, “Onde é que ele está?” Expliquei que estava com o Dr.
Nick e disse, “Deixe-me ir dizer ao Elvis que está aqui.” O
Coronel passou por mim à pressa e disse, “Não. Eu é que vou
entrar” e abriu a porta.
Até me
dói dizer-lhe isto, mas o que eu vi foi o Dr. Nick ajoelhado junto
da cama
de Elvis. Elvis estava em estado comatoso e a gemer e o Dr. Nick
estava a meter a cabeça de Elvis dentro de um balde com água gelada
para o reanimar. Era uma visão patética. A porta fechou-se e o meu
primeiro pensamento foi, “Provalvemente isto é bom, pois finalmente
o Coronel vai ver o que raio se está a passar. O Velhote vai ver que
Elvis está numa péssima forma, está semi consciente e tem de parar
esta tournée horrível.” Um minuto depois a porta abriu-se, o Coronel
passa outra vez por mim e eu levanto-me. Ficamos parados com os
dedos dos pés a tocarem-se e ele a olhar-me fixamente nos olhos. Ele
diz, “Vê se me ouves muito bem. A única
coisa que é importante é que aquele homem esteja sobre o palco esta
noite!
Ouviste bem? Mais nada interessa.”
E foi-se embora.
O meu
coração afundou-se. Eu sabia a verdade e só me apetecia gritar.
Oh, meu Deus, que filho-da-**** desgraçado.
E
depois ouvi Elvis gritar, “Lawrence, és tu que estás aí? Porque
diabo deixaste aquele sacana entrar aqui?” Expliquei-lhe que ele
tinha passado por mim e depois Elvis esteve a vociferar contra o
Coronel Parker durante uma hora. Usou todas as palavras más que
existem e disse, “Aquele sacana gordo,
filho da ****… Vou ver se me livro daquele cú gordo. O pai quer
livrar-se dele; há anos que o odeia.
Não
consigo suportá-lo.
Há anos
que ele perdeu o sentido total do que é o show business. Está apenas
a usar-me e quero que Tom Hullett seja o meu empresário. Depois da
tournée em setembro, acabou-se!”
Falou sobre quem ia despedir e como ia mudar as coisas de uma vez
por todas.
E o
que tem a dizer do boato que Joe trabalhava para o Coronel e para
Elvis?
Elvis
parecia ter conhecimento disso e ressentir-se disso. Sinto-me pouco
à vontade a dar pormenores, pois isso não seria nada simpático, mas
há muito mais sobre isso no novo livro sobre o Coronel. No entanto,
posso mencionar um tipo de história relevante que está no meu livro
If I Can Dream. Um dia estávamos em Chicago e eu fui até ao
quarto de um dos rapazes e disse, “Sinto-me assustado como se alguma
coisa estivesse errada. Se olhares bem para Elvis, podes ver que ele
está tão doente, mais do que doente e precisamos de fazer alguma
coisa, pois tenho medo de que aconteça alguma coisa.” Ele disse, “Espera
um pouco. Larry, estás a ser negativo. Daqui a 20 anos Elvis ainda
estará tão saudável como está hoje. Toda a gente sabe que os
cantores rejuvenescem. Mas digo-te, Larry, que vai-te acontecer é
uma coisa a ti.
E
sabes porquê? Porque estás a ser tão negativo!”
Apercebi-me que estava a falar uma língua estrangeira
com alguém, com comprimidos no seu sistema, que não conseguia ver a
realidade e que estava em total negação. Mais tarde fui falar com
outros dois, mas de forma semelhante, disseram que eu estava a ficar
paranóico. Sem saber muito bem o que fazer, fui falar diretamente
com Elvis. E contei-lhe a verdade e que estava preocupado.
Contei-lhe à frente do Joe Esposito e do Dr. Nick.
Também deve ter estado presente quando começaram a surgir boatos
sobre o livro Elvis: What Happened.
Quando
Elvis ouviu falar sobre esse livro e que os 3 homens iam despejar o
saco, aquilo deu cabo dele. Sentiu-se como se o estivessem a
esfaquear. Disse, “Se aqueles fulanos precisassem de dinheiro, eu
dava-lhes tudo o que quisessem. Só que já não os quero à minha
volta. Já tive processos legais em cima de mim que me custaram 10
milhões de dólares por causa deles.” Passaram-se dois ou três meses
e nunca mais ninguém ouviu falar do livro. Elvis pensou que talvez o
Coronel tivesse conseguido fazer parar o processo. Disse-me que
pensava que afinal já não ia ser publicado. No entanto, um dia,
durante uma tournée, um fã que tinha trabalhado na editora de Nova
Iorque, deu-me uma cópia manuscrita. Voltei para o meu quarto e
pensei, “Oh, merda, eles vão dar cabo dele.”
Grande
parte do livro era exagerado e havia meias verdades. Então senti que
precisava de esperar pelo momento certo para contar a Elvis, pois
agora sentia que a pressão estava em cima de mim. Duas semanas
depois, ainda em tournée, estava no quarto com Elvis e ele estava a
queixar-se que lhe doía a garganta e que lhe doíam os ossos. Sentia
que alguma coisa estava errada e foi aqui que ele mencionou um
possível cancro. Disse-lhe que ele precisava de dormir bastante e
recarregar as suas baterias, visto que iria estar em palco mais uma
vez naquela noite. Deixei-o ficar sozinho e fui para o meu quarto.
Hora e
meia depois o meu telefone toca, “Lawrence,
volta aqui, se fazes favor.
Não
consigo dormir, pede ao Dr. Nick para vir.”
O Dr. Nick chegou e deu a Elvis um monte de
comprimidos. Regressei ao meu quarto e deixei-o dormir. Naquela
tarde, às 16h00 voltei ao quarto de Elvis para o acordar e bati
suavemente na porta. Elvis diz, “Entra, Lawrence,” e estava sentado
na cama. Estava a abanar a cabeça e disse, “Não consigo, caramba.”
Nesta momento, o Joe entrou. Elvis disse, “Escutem, rapazes, estou doente.
Tenho de
cancelar a tournée. Vou telefonar ao pai e vocês regressem aqui
daqui a 5 minutos.”
Apercebi-me que se Elvis cancelasse a tournée naquele momento, isso
só iria acrescentar mais achas à fogueira do livro que eu sabia que
ia ser publicado.
Então
esse foi o momento em que se apercebeu que tinha de contar a Elvis
sobre o livro?
Exatamente.
Com o
Dr. Nick e o Joe presentes, contei tudo a Elvis no seu quarto
naquele dia. Disse, “Elvis, tenho de te
dizer uma coisa. Ninguém à tua volta de conta a verdade, mas sabes
aquele livro?
Vai
sair, já vi as provas.”
Elvis ficou branco.
Eu
disse, “Se estás doente e queres cancelar esta tournée, isso é
uma coisa. Mas os rapazes estão prontos para te crucificar e tens de
saber o que se passa. Vão dizer coisas que não vais gostar de ouvir,
mas tens de estar informado.”
Elvis
estava de pé, mas sentou-se na cama, com o seu fato enorme e disse,
“Telefona já ao Coronel”. Mete-se na cama, senta-se, e cruza
os braços. Neste momento entra o Charlie Hodge, todo divertido e
pronto para ir para o palco. Elvis disse, “Fecha a matraca,
Charlie.” Agora tanto Joe como todos nós estamos sentados na cama de
Elvis quando Tom Hullett entra e pergunta o que se passa.
Elvis
diz, “Não sou capaz. Estou doente, caramba. Detesto ter de fazer
isto, detesto ter de cancelar a tournée, mas não sou capaz.” Tom
Hullet disse o mesmo que eu. “Se tens de o fazer, tudo bem, mas
isso vai chegar às notícias. Por isso, por motivos de segurança,
temos de te meter num hospital e depois levar-te para casa.”
Elvis fez-me sinal para ir até à casa de banho com ele, levantou os
braços e olhou para mim.
Disse,
“Olha para mim, Larry, olha para mim, homem. Estou a tremer,
estou doente” e estava a chorar.
Comecei
a chorar e disse, “Sei que estás doente, mas tive de te dizer.
Desculpa. Foi este o momento em que tive de te contar. A tua vida
está em jogo.”
Durante
as duas horas seguintes estivemos a fazer as malas e a
prepararmo-nos para ir embora. Não lhe arranjei o cabelo como
costumava fazer e ele esteve muito calado comigo e não disse nada.
Regressámos de avião a Memphis onde estava à espera que fôssemos
diretamente para o hospital, mas em vez disso fomos para Graceland.
Já aí Elvis come uma tarte enorme e acaba por ficar no seu quarto
até às 18h00 e só depois é que vai para o hospital. Senti que não
podia regressar a LA até falar com ele, por isso fui até ao
hospital, onde os rapazes me informaram que ele não me queria ver.
Lembro-me de ver Lamar a sair do quarto de Elvis e de me dizer, “Contaste-lhe
a verdade, não foi? Caramba, deixa-me apertar-te a mão. És o único
daqui que tem tomates!”
Continuava a precisar de ver Elvis, por isso esperei durante dias
num quarto contíguo ao seu.
Não
era capaz de me ir embora.
Numa
manhã ouvi Elvis dizer, “Lawrence, estás aí?” Entrei no seu
quarto e Elvis disse, “Larry, tens de me perdoar, irmão.
Foi o meu ego. Estás aqui porque me dizes a
verdade. É por isso que estás aqui. Tens de entender aquilo por que
estou a passar.”
No
seu livro você menciona que até mesmo nestas condições, Elvis ainda
estava a fazer planos para o futuro. Pelo menos isso soava positivo.
Elvis
tinha mesmo planos para o futuro que envolviam um livro e projetos
como ator. A tournée seguinte foi duas semanas depois. Estávamos em
Detroit e era 25 de abril porque estávamos a falar da mãe dele e
essa era a data do seu aniversário. Elvis levantou-se, estávamos a
olhar um para o outro e ele pousou-me uma mão sobre um ombro. Com a
outra mão apontou lá para fora e disse, “Os fãs conhecem o
‘Elvis’ muito bem.” Mas depois bateu com um dedo no seu peito
com bastante força e disse, “Mas, caramba, não me conhecem a mim.
Não fazem ideia nenhuma.” E disse, “Lawrence, estás comigo?”
Perguntei-lhe o que queria ele dizer com aquilo e respondeu, “Escuta,
Larry, senão contares a verdade ao mundo eles nunca hão-de saber a
minha verdadeira história. Tu és aquele que me conhece e não ia
pedir isto a mais ninguém. És responsável, pois foste tu que me
puseste neste caminho. Sei o que leio, sei aquilo pelo que estou a
passar. Sabes o que estou a tentar fazer, em como gostava de ajudar
este mundo. É suposto fazermos algo juntos, Larry. Talvez escrevamos
um livro. Podíamos intitulá-lo Through My Eyes (Através dos meus
Olhos) e fazermos filmes com sentido.” Tudo isto soava tão bem,
que concordei e disse, “Claro, Elvis. Estou contigo e podemos
fazê-lo.”
Durante
os anos 60 Elvis vociferou e queixou-se sobre os seus filmes muitas,
muitas vezes e como queria sair daquilo.
Dizia,
“Olha, não estou metido nisto só pelo
dinheiro.
Sempre
quis ser actor.”
Aquilo que mais lamentava era nunca ter ganho um prémio da Academia.
Já tinha estado a trabalhar com ele no documentário drama de 1974
sobre as Artes Marciais. Então falávamos sobre outras ideias acerca
de filmes que Elvis gostava, conseguirmos arranjar alguns dos
melhores argumentistas de Hollywood para trabalhar num filme feito
por encomenda para ele. Era este o objetivo e até chegámos a falar
em tirar um ano de folga, ir para o Hawaii para a pré produção, mas,
claro, isso nunca aconteceu.
Mas
para fazer isso ele teria de escapar do Coronel que, claro, ele
tentou fazer em 1973, mas não conseguiu.
É
verdade! Nessa altura Elvis cedeu, mas por volta de 1977 ele sabia
que as coisas tinham de mudar. Queria livrar-se do Coronel e queria
uma nova mudança. Falou em voltar a casar-se e ter mais filhos.
Ele queria isso. Era uma luta constante.
Em
março de 1977 você chegou a ir naquelas últimas férias no Hawaii.
Obviamente que na altura Elvis andava a variar de regimes que iam de
vitaminas e saúde, que você lhe sugeria, e todos os medicamentos
químicos que tomava dados pelo Dr. Nick.
Não
tenho respeito pelo Dr. Nick. Antes de uma tournée começar, eu
arranjava pacotes de vitaminas e minerais para me ajudar a manter-me
saudável durante a tournée. Além disso, eu era vegetariano. Um dia
eu estava no quarto de Elvis quando ele acordou e o Dr. Nick estava
lá. Peguei num pacotinho de vitaminas, pu-lo na mesa e disse,
“Elvis, devias tomar isto, pá, são bons para ti.” Também lhe fiz um
discurso sobre os benefícios das vitaminas. E o Dr. Nick disse, “Ei,
tira essa porcaria daqui.
Essa
merda não funciona.” Era um médico que dizia isto!
Claro,
já nem sequer é médico. Graças a Deus que se fez alguma justiça.
De
facto, não foi em 1967 que deixou Elvis pela primeira vez e foi o
exato momento em que o Dr. Nick apareceu pela primeira vez?
Sim e
foi quando Elvis iniciou o seu regime de tomada de comprimidos.
Uma
das citações que mais gosto foi quando Elvis o apresentou a si à
Kathy Westmoreland e disse, “Kathy, este é o filho da **** mais
pesado que já conheci na vida. Nunca vais conhecer ninguém mais
pesado.” Que bela apresentação!
(a rir)
Quando ele disse isso, pensei, “Oh, meu Deus! O que vai ela pensar!”
O Elvis sempre pensou que algo de romântico pudesse acontecer enter
mim e a Kathy, mas eu não queria ir por aí. Os rapazes sabiam disso
e Elvis respeitou-me. Tudo isto me faz sentir muito auto consciente…
mas foi assim que tudo aconteceu.
Algumas pessoas dizem que o lado místico e espiritual de Elvis não
era importante, mas durante os anos 60 deve ter sido algo de
bastante importante, pois Elvis estava a fazer filmes leves e
horríveis e durante esse tempo deve ter andado à procura de algo.
Elvis
surgiu da sua base espiritual, pois ele era assim. A coisa mais
importante na sua vida era a sua carreira, a sua filha e a sua alma
espiritual. Trinta minutos antes do funeral de Elvis Vernon
revelou-me algo que disse tudo. Estávamos em Graceland no quarto da
empregada e vi Vernon sentado com o seu fato vestido e com um
aspeto gasto. Fez-me sinal para me aproximar e disse, “Larry,
tenho de desabafar uma coisa contigo. Quando apareceste pela
primeira vez, desconfiei de ti. Era ‘tu e Elvis’ a toda a hora e tu
a trazeres-lhe todos aqueles livros esquisitos. Cheguei mesmo a ir
ter com Elvis e a dizer-lhe o que achava, mas ele disse, ‘Não te
preocupes, o Larry é uma ótima pessoa.’ Levei muito tempo, muitos
anos, para me aperceber disso, Larry, que tu e Elvis eram apenas
pessoas espirituais.” A casa estava cheia de gente e Elvis
estava ali deitado dentro do seu caixão e quando Vernon me disse
isto, foi como se me tivesse caído uma tonelada de tijolos em cima.
Acho
que muitos de nós nos sentimos emocionados quando pensamos nestes
últimos anos. É que é mesmo tão triste. Se ao menos tivesse sido
diferente.
Bem, ele
tinha um plano para o futuro. Até mesmo naquele último ano, quando
ele estava realmente doente e tomava imensos comprimidos, Elvis
estava bastante consciente. Mais ninguém sabia tão bem o que se
passava com ele do que ele mesmo. Ele sabia que tinha um problema e
sabia que tinha de parar. A ideia era irmos para o Hawaii e ele ia
livrar-se da maior parte das pessoas que trabalhavam para ele e
manter uma equipa mínima.
Ia
livrar-se do Coronel Parker.
Disse, “Caramba,
quero libertar-me destes comprimidos e quero fazer uma boa dieta e
exercício. Quero regressar para o ano que vem e quero voltar a fazer
filmes. Não aqueles filmes para adolescentes, mas papéis dramáticos
para que possa mostrar aos fãs quem realmente sou.” Falava
sempre muito a sério quando dizia isto.
A
tragédia da vida de Elvis é que foi um homem que teve tudo. Ele foi,
é e será sempre O Rei. Mas sabia também que estava contaminado de
toxinas e que a sua dieta estava descomunalmente errada e que tinha
de limpar o seu organismo. Sabia que haviam pessoas à sua volta que
não eram suas amigas, mas que ali estavam só para receber o cheque
ao final do mês. Elvis era esperto e mais esperto do que qualquer
uma das pessoas que o rodeavam. E estava a fazer planos. A tragédia
foi que ele foi sempre adiando.
Por certo que os últimos anos de vida de Elvis foram como uma viagem
numa montanha russa, com momentos de clareza na sua mente.
Mas depois entrava em depressão?
Claro.
A vida e a morte estavam ambas pousadas sobre os seus
ombros e, com grande tristeza, a morte ganhou.
Acho que preciso de mudar a nossa disposição com uma pergunta muito
leve. Como passou tanto tempo ao lado dele e assistiu a tantos
concertos, qual é a canção de Elvis que mais significado tem para
si?
A canção que me toca de forma inigualável é
Unchained
Melody, porque Elvis colocou essa canção nos seus concertos durante
os seus últimos meses de vida. Era apenas Elvis a cantar, ao piano,
com uma luz azul sobre si. Quando oiço isso, fico sempre espantado.
E aquele concerto da passagem de ano de 1976 quando canta
Rags to
Riches e Unchained
Melody – foi fenomenal nessa noite. Um dos
melhores concertos que deu na vida e estava com ótimo aspeto. De
facto, Jimmy Carter telefonou-lhe nessa noite quando já estávamos de
volta no hotel. Eu atendi o telefone e disse a Elvis que era alguém
a fazer-se passar pelo Presidente dos Estados Unidos. Mas era mesmo
ele e Elvis estava à espera do seu telefonema!
O que
está o Larry Geller a fazer agora?
Estou a
trabalhar num novo livro sobre o qual falei pela primeira vez com
Elvis. Ia escrever um livro sobre a Saúde e o Cabelo e na altura
Elvis disse que poderia usar o seu nome no livro. Sentia-se muito
feliz por ser associado com a saúde e pensei que isso poderia ser
bom para a sua imagem. Ele até chegou a falar sobre a hipótese de
fazer um anúncio publicitário para mim! Elvis até falou com Vernon
sobre isso, mas Elvis morreu antes que quaisquer contratos tivessem
sido assinados e depois senti que não devia ir avante com o
projeto.
Mas
agora estou a fazê-lo e melhorei o conceito. Vou falar de todos os
meus primeiros anos com Elvis e de todas as celebridades que
conheci. O livro intitula-se Geller Care: Healthy Hair, Healthy
Life e é sobre a vida e o rejuvenescimento, a nutrição,
crescimento espiritual e tudo o que se precisa de saber sobre o
cabelo. Deve sair no início do ano que vem e também vai conter fotos
de todos os filmes que fiz com Elvis.
Uma
pergunta final e manhosa para si. Falou imenso com Elvis sobre a
reencarnação e o karma. Sonha com ele e acha que vai voltar a
encontrar-se com Elvis outra vez?
É uma
boa pergunta. Tenho tantos sonhos com ele que até arrepia. Acordo e
é como… “Uau, foi fixe.” A outra é uma questão mais complexa… O que
acontece quando deixamos esta vida? A minha resposta é: Sim. Espero
voltar a ver Elvis outra vez. Que Deus o abençoe.
Muito
obrigado por nos dispensar tanto do seu tempo, Larry. Foi fantástico
falar consigo.
Fique
bem e espero que nos possamos voltar a encontrar um dia.
Fonte:
Internet. |