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ENTREVISTA COM LARRY GELLER - 30 DE OUTUBRO DE 2003

   
Legendas: Larry Geller. / Elvis com Larry Geller.

O lado espiritual de Elvis é muitas vezes algo que em relação à sua vida e psique é colocado de lado. Larry Geller foi um bom amigo de Elvis que passou anos ao seu lado e esteve presente até ao final. Larry tem algumas histórias fascinantes e ilustrativas para contar e Piers Beagley teve a sorte de passar duas horas a falar com ele na sua casa, em Los Angeles.

 

É uma maravilha conhecê-lo, Larry, e tenho tantas perguntas que nem sei por onde começar. Hoje em dia você gosta de ser descrito como “O Mentor Espiritual de Elvis”, ao passo que antes era muitas vezes descrito por seu Conselheiro Espiritual.

Isso é algo que as editoras fazem, nunca me descrevi nesses termos. Eu era cabeleireiro pessoal de Elvis, seu bom amigo, confidente e éramos como irmãos espirituais quando estávamos juntos. E com isto quero dizer que logo na primeira noite em que nos conhecemos, isso mudou as vidas de ambos para sempre.

 

Quando é que conheceu Elvis pela primeira vez?

A primeira vez que o vi foi quando era ainda um miúdo, num concerto no Auditório Pan Pacific em Los Angeles. No entanto, 8 anos depois eu estava a cortar o cabelo de Johnny Rivers quando o meu telefone tocou e era uma pessoa que trabalhava para Elvis, que se chamava Alan Fortas. O Alan disse, “O Elvis adoraria que viesse cá à sua casa para lhe cortar o cabelo. Gostaria de vir?” Eu disse, “Ótimo.” Na altura eu estava a trabalhar para vários artistas de Hollywood, como Peter Sellers, Sam Cooke, Steve McQueen e outros. Mas quando soube que ia cortar o cabelo de Elvis, fiquei um bocadinho nervoso!

 

Mas como é que Elvis conseguiu o seu número de telefone? Na altura Sal Orfice não era o seu cabeleireiro?

Tem razão. Era Sal que estava a tratar do cabelo de Elvis na altura, mas ele não gostava de ter de viajar tanto e de ser tão subserviente de Elvis e foi a sua esposa, Marilyn, que sugeriu que eu o substituísse. Nessa altura eu estava a sair-me bastante bem com o meu trabalho. Tinha apenas 24 anos e não era nada de especial para mim se tivéssemos de ir até à casa do Frank Sinatra, por exemplo! Mas só de pensar que ia conhecer Elvis, isso era um pouco “demais” para mim. Ele era O Homem, era O Rei, era uma lenda!

 

Fui de carro até Bel Air, e até à casa em Perugia Way e podia-se logo saber qual era, pois havia toneladas de pessoas à porta! Enquanto eu passava pelos portões, as raparigas gritavam, “Diz ao Elvis que estou aqui e diz ao Elvis que o amo” e eu só pensava, “Uau, isto é mesmo importante!”

 

Entrei em casa e Elvis vem ter comigo e diz, “Olá, chamo-me Elvis Presley,” e eu estendi-lhe a mão e disse, “Olá, eu chamo-me Larry Geller.” Elvis tinha cerca de 1,84m e eu tenho 1,87m e tive uma sensação de déjà-vu de há 8 anos atrás, quando eu era o miúdo a olhar para cima, para este mesmo homem quando o vi no parque de estacionamento. Apertei-lhe a mão e ele disse, “Vamos até à casa de banho, onde podes tratar do meu cabelo e onde podemos conversar.”

 

Entrámos na sua casa de banho e eu estava à espera de ver aquela “artilharia” toda de Hollywood, cadeiras que se vêem nos salões e tudo o mais, mas não havia nada! Elvis disse, “Vem daí, homem, vamos tratar do assunto aqui mesmo,” e pôs a cabeça no lavatório! Comecei a pôr-lhe champô no cabelo e quando comecei a espremer-lhe a água da cabeça, ele levantou-a e começou a sacudi-la. Voou água e gotas para todo o lado, para cima de mim, para cima dele. Ele olhou para mim com aquele sorriso à Elvis e disse, “Ei, homem! Que se lixe! Pelo menos já está lavado! Quando ele disse aquilo pensei que homem simples Elvis era. Soube logo naquele momento que era sincero, não era falso.

 

E então como é que Elvis descobriu tudo sobre os seus interesses? Foi ele que lhe perguntou?

Bem, levei cerca de 45 minutos a tratar do cabelo todo e durante todo esse tempo Elvis não disse uma palavra, mas os seus olhos seguiam cada movimento que eu fazia. Eu trabalhava com pessoas como Warren Beatty e Paul Newman e os homens mais famosos do cinema, mas posso dizer-lhe que nenhum deles se parecia com Elvis Presley. Elvis eclipsava-os a todos! Ele tinha o rosto, a voz, a carreira, os fãs, a fama, o dinheiro e até tinha o cabelo! Era incrível trabalhar o cabelo dele.

 

Quando acabei de o pentear, pus-lhe laca e perguntei-lhe, “Então, o que achas, Elvis?” Elvis olha e diz, “Sim, sim, está bom, mas queria fazer-te uma pergunta, Larry. O que é que realmente fazes na vida? Como é que és realmente?” Pensei para comigo, “Uau, este tipo não disse uma palavra e agora está a ficar demasiado pessoal.”

 

Então contei-lhe a verdade acerca dos meus interesses e isto passou-se muito antes da explosão dos Beatles e dos interesses neste tipo de assuntos ficar popular. Então disse-lhe que trabalhava como cabeleireiro como forma de vida, mas o que era mais importante para mim era a minha busca pela verdade, pelo objetivo da vida e por Deus.

 

Disse-lhe, “Sei que és Elvis Presley e a maior estrela do mundo e que o que te estou a dizer talvez te soe bastante pateta.” Mas Elvis replicou, “Não, espera aí. Larry, nem fazes ideia de como preciso de ouvir o que tens para dizer. Por favor, continua a falar.”

 

Então contei-lhe sobre a minha meditação, o ioga, os meus livros espirituais, que era vegetariano e tudo o mais. Logo a seguir ele quis saber sobre a alma, Tínhamos alma?, De onde vínhamos?, Sobreviveríamos a esta vida?... Todas estas questões surgiram nesta conversa.

 

E durante este tempo todo ainda estavam na casa de banho de Elvis?

Bem, antes que me pudesse aperceber disso, já tinha passado mais uma hora e Elvis estava a conversar comigo, quando olhei para o espelho e ele tinha lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. Estava a falar sobre a sua mãe e como eram pobres e como ela tinha desperdiçado a sua vida a trabalhar como uma  escrava. Contou-me como não tinham água corrente em casa, mas um poço nas traseiras. Falou do seu irmão gémeo Jesse, que tinha nascido morto e como tinha sido educado a ir à igreja. Falámos de coisas bastante importantes e durou cerca de 3 horas.

 

De súbito, alguém bate à porta e isto é bastante irónico e nunca hei-de esquecer. Um dos rapazes disse, “Ei, chefe, estás bem, aí dentro?” Elvis replica, “Claro, homem, claro que estou bem. Que diabo pensas que me pode acontecer na minha própria casa de banho?” E claro que agora todos sabemos que foi aí que tudo acabou. Bastante irónico, não?

 

Na altura também não obteve uma oferta para trabalhar a tempo inteiro para Peter Sellers?

Tem razão. Duas semanas antes Peter Sellers tinha-me pedido para ir para Inglaterra com ele e trabalhar com ele no seu novo filme. Era uma mudança de país e muito embora eu gostasse de Peter, era ir para muito longe. Por isso disse que teria de pensar. Mas quando Elvis me disse, “Volta para o teu salão. Diz-lhes que te despedes e vem trabalhar para mim a tempo inteiro. O que achas disso?” Nem precisei de esperar um nano segundo para responder, disse logo, “Sim.” Era uma situação que me parecia certa e sabia que tinha razão.

 

Alguma vez sentiu o mesmo em relação a qualquer outra celebridade com a qual tenha trabalhado?

Sabe que tenho arranjado o cabelo de celebridades e a única outra pessoa com quem tive uma ligação espiritual foi Sam Cooke. Sam era um homem muito terra a terra, muito sensível. Tinha perdido o seu filho. O filho tinha morrido e ele estava a passar por dificuldades. E era uma grande estrela. Pegava fogo à música; provavelmente foi o maior artista negro de todos os tempos. Também cheguei a dar-lhe alguns livros sobre ioga.

 

Então depois de ter dito que sim a Elvis, começou logo a trabalhar com ele no filme Roustabout?

Elvis disse-me para me apresentar nos Estúdios da Paramount no dia seguinte às 8 horas da manhã. Então lá fui eu para a Paramount e arranjei-lhe o cabelo. Foi tão incrível porque no final do dia saímos todos até onde estavam os carros estacionados e Elvis estava sentado no Rolls Royce que tinha acabado de comprar. Disse-me, “Ei, Larry, acabei de comprar este Rolls. Queres levá-lo emprestado esta noite? Vem até cá a casa logo à noite e leva a tua mulher a dar uma volta!” Assim sem mais nem menos! Mas, sabe, senti-me assim um bocado estranho e disse, “Não, deixa estar, Elvis.” Nem queria acreditar na sua generosidade, mas Elvis era assim!

 

Ele adorava dar, não era?

Se você tivesse a oportunidade de conhecer Elvis esta noite, ele ter-lhe-ia dado um relógio, uma pulseira, ou qualquer outra coisa. Ele era assim, uma pessoa extraordinária, sempre pronto para dar. Adorava mesmo fazer as pessoas felizes e partilhar o que tinha. 

 

Já leu o novo livro de Alanna Nash sobre o Coronel? Alguma vez desconfiou de algumas das coisas que ela expõe?

E tem de ler o novo livro, pois abrir-lhe-á os olhos. É muito verdadeiro. Eu conheci o Coronel e o tipo de carácter que ele era e como era bombástico. Era um autêntico vigarista que se servia do poder para conseguir o que queria. Tinha água gelada a correr-lhe nas veias. É um livro excelente, mas muito do que vem lá escrito não é nenhuma revelação para mim. Dei à autora, Alanna Nash, todas as informações que tinha. Ela é uma autêntica jornalista.

 

Nos últimos dois anos da sua vida, lembro-me de ouvir Elvis dizer, “Quero ir até à Europa e fazer digressões, ver o mundo. Tenho fãs na Europa, na Alemanha, no Japão. Os Beatles vêm cá, os Stones também. Porque não eu?

 

Ele chegou mesmo a dizer-me que achava que alguma coisa de muito estranha e má se devia estar a passar, mas não sabia bem o que poderia ser. Elvis disse que sempre que perguntava o que se passava, o Coronel dizia que estava a trabalhar sobre o assunto. Mas agora sabemos o que era! (Nota: no livro de Alanna Nash, The Colonel, depois de intensas investigações, o Coronel Parker foi ligado a um assassinato ocorrido na sua terra natal, na Holanda. Tudo isto justifica várias das medidas que ele tomou – ou deixou de tomar – durante a carreira de Elvis).

 

Mas você foi dos que se deu bem com o Coronel no início porque foi uma das poucas pessoas a ter a honra de entrar para a liga maluca do “Boneco de Neve” do Coronel Parker?

No início demo-nos muito bem. Mas eu sabia que era tudo segundo as suas planificações. Por vezes lá aparecia no estúdio, mas o contacto que tinha com Elvis era mínimo. Vinha até aos estúdios, falava com Elvis durante talvez uns 3 ou 4 minutos e pronto. Fazia o que queria fazer e sabia muito bem como manipular as pessoas. Ele chegava e via-se logo como era a linguagem corporal dos rapazes. Ficavam em sentido e era “Sim, Senhor Coronel! Sim, senhor.” Ele dizia, “Há por aí uma cadeira para o Coronel? Traz-me lá uma, Larry.” Fazia-me sentir muito pouco à vontade, a forma como me destacava dos outros, mas estava sempre a fazer isso porque “estava a trabalhar sobre o assunto.” Sentia-me muito mal na sua presença e depois, cerca de dois anos mais tarde, caiu tudo por terra.

 

Você esteve presente para algumas datas extraordinariamente importantes. Por exemplo, em meados dos anos 60, quando Elvis estava mesmo a precisar de ter algo mais para além dos seus filmes tão maus. E você trouxe-lhe algum interesse espiritual.

Sabe que todas as noites Elvis e eu passávamos cerca de duas horas juntos sozinhos a conversar e isto continuou durante anos. Até mesmo Priscilla, no seu livro, escreve sobre como nos afastávamos. Ela tinha ciúmes, pois nem ela, ou os rapazes, sabiam do que falávamos.

 

Como está o vosso relacionamento quando agora vê Priscilla?

Tenho-me cruzado com ela umas poucas de vezes e é tudo muito “à superfície”, abraçamo-nos, dizemos “Olá, como estás?”, mas não somos amigos, sabe! Descobri recentemente que ela está a fazer alguns trabalhos maravilhosos de beneficência, o que é ótimo, por isso, Deus a abençoe.

 

Uma coisa que nunca consegui entender foi como é que Elvis conseguia fazer a sua meditação e ir até à Irmandade de Auto Realização com o esquema e horário de trabalho que tinha com os filmes. Ele ia até lá quando haviam intervalos entre os filmes ou de noite chegava e dizia, “Larry, este filme é uma merda. Vamos meditar!”

(A rir) Estávamos em Hollywood para pré produção durante uma semana ou duas antes das filmagens começarem. E então íamos visitar a Daya Mata às 10 horas da noite. Talvez fôssemos num domingo ou durante a semana ao Parque de Auto Realização que ficava na praia. Não tinha problema nenhum e nunca ninguém o aborrecia com isso. Respeitavam o sítio e o ambiente espiritual. Foi a partir daí que surgiu a conceção do seu Jardim das Meditações. Elvis e eu concebemos tudo aquilo juntos, com a ajuda de Marty Lacker. A propósito, nos anos finais ele meditava todas as noites e antes de atuar ao vivo eu dava-lhe uma pequena cura espiritual.

 

Outro evento importante foi em 27 de agosto de 1965, quando os Beatles o vieram visitar. O que me pode contar sobre essa noite?

O Coronel tinha marcado um encontro entre Elvis e os Beatles. Antes de eles chegarem, Elvis e eu estivemos na casa de banho e eu estive a arranjar-lhe o cabelo. Elvis esteve sempre muito calado e a tamborilar com os dedos na berma do lavatório. Olhou para mim e disse, “Caramba, sei o que aqueles tipos estão a passar. Quer dizer, já passei por aquilo, já o fiz. Estão a tocar para grandes audiências e eu estou a fazer estes filmes horríveis para adolescentes – Sinto tanta vergonha.”

 

Naquela noite Elvis tinha um aspeto tão fenomenal. Ele costumava usar umas camisas tipo bolero e tinha-as em todas as cores, exceto castanho. Detestava castanho! Naquela noite estava a usar uma camisa azul. Fomos todos para a sala e subitamente ouvimos gritar, como um trovão, como se uma bomba tivesse explodido. A porta da frente abriu-se e os Beatles entram! Os Beatles vieram com Brian Epstein, o seu empresário. Foram ter com Elvis e foram apresentados e Elvis sentou-se numa cadeira. Todos os Beatles se sentaram no chão mesmo à frente de Elvis, num semi círculo. Ficaram ali sentados, a olhar pasmados, para cima, para ele. Instalou-se um silêncio de morte na sala, até Elvis dizer, “Bem, que diabo, se vocês não vão falar comigo, vou para o meu quarto.” Isso fez toda a gente rir e quebrou-se o gelo. Lembro-me de os ver a olhar para a televisão de Elvis e dizer, “Uau, vejam, uma televisão a cores!” porque nunca tinham visto uma antes. Depois disso, Ringo, Billy Smith, Marty e Richard foram todos jogar bilhar na sala ao lado.

 

E o que dizer sobre a famosa jam session?

Paul McCartney, o John e eu, e possivelmente Jerry Schilling, estávamos sentados e a conversar quando Paul perguntou a Elvis se podia experimentar uma das suas guitarras. Elvis disse, “Claro, homem, serve-te à vontade.” Então Paul pegou numa e começou a tocar, seguido por John e logo seguido por Elvis também. Os três começaram a tocar e a cantar durante cerca de 20 minutos e eu pensei, “Isto é incrível! Agora estou no centro do universo. Os Beatles e Elvis!” O mais engraçado é que o Coronel Parker era tão esquisito com o controlo que não permitiu que se tirasse uma única fotografia de Elvis com os Beatles juntos! Até que ponto uma pessoa pode ser tão ridícula?!

 

A dada altura comecei a interrogar-me onde estaria George. Fui lá fora e estava escuro como breu, mas mal saí, soube que ele estava lá, pois chegou-me logo o cheiro de erva! Lá estava George, sentado ao pé de uma árvore a fumar um charro. Sentei-me e conversei com ele durante um bocado. Tivemos uma conversa ótima porque eu sabia que George estava envolvido com questões hindus e mais tarde viria também a ser grande amigo de Daya Mata. Estabelecemos logo uma ligação espiritual. Senti-me tão triste quando soube que morreu no ano passado.

 

Já alguma vez viu aquelas fotos muito fraquinhas e amadoras que se tiraram naquela noite?

Sim, sei quais são. Elvis apareceu e disse, “Ei, rapazes! Quero mostrar-vos uma coisa.” Primeiro fomos lá fora e fomos ver o seu novo Rolls Royce. Era uma loucura com as multidões lá fora a gritar ao mesmo tempo “Amo-te, Elvis” e “Amamo-vos, Beatles.” Lembro-me que algumas adolescentes tinham subido para umas árvores altas e estavam a utilizar as suas máquinas fotográficas. Acho que é daí a origem dessas duas fotos tiradas de noite. De seguida Elvis levou-os para dentro para verem o novo presente que o Coronel Parker lhe tinha dado, que era uma nova sauna no quarto de Elvis. Paul meteu a cabeça para espreitar para o espelho e disse a Elvis, “Quem é que está ali?” Elvis não sabia e quando olhámos, vimos uma adolescente que se estava a tentar esconder debaixo de um banquinho de madeira. Ela lá tinha conseguido passar pelos seguranças. Quando nos viu gritou e saltou para cima de Elvis e tivemos de a tirar para fora à força!

 

Depois dos Beatles se terem ido embora e de Elvis se despedir, eu e ele voltámos para o seu quarto e ele disse, “Gostei mesmo daqueles rapazes, são bons rapazes. Mas o que se passará com os dentes deles?!” Claro que devido às faltas de comida do pós guerra na Inglaterra, havia falta de boa comida e os dentes deles não eram bons. Seja como for, Elvis disse, “Não consigo perceber. Têm dinheiro, porque não mandam arranjar os dentes?” E mesmo quando estávamos a preparar-nos para ir dormir, Elvis disse, “Lembra-te duma coisa, Larry, eles são quatro e eu só sou um!

 

Voltou a ver os Beatles depois disso?

Bem, de todos os Beatles era óbvio que Elvis tinha gostado mais de John Lennon. Durante uns poucos de dias depois do encontro, John telefonou várias vezes, pois queria que fôssemos ter com eles para festejar. Seja como for, os rapazes foram todos durante as 3 ou 4 noites seguintes, mas Elvis não quis ir. Os outros divertiram-se imenso, mas eu acabei por ficar com Elvis, para lhe fazer companhia.

 

Obviamente que devem ter havido alguns momentos de má tensão entre você e os outros elementos da Máfia de Memphis por causa dos seus antecedentes diferentes. Também parece que está desaparecido em muitos dos documentos mais recentes sobre Elvis, possivelmente porque é Joe Esposito que está a controlar isso? Como é que lida com o ressentimento?

Acertou em cheio, é mesmo assim! Bem, o que tenho de dizer é que eu estava lá porque era o que eu fazia para viver, mas mais importante que isso, estava lá por causa de Elvis porque gostava dele. Ali estava um tipo super aberto e recetivo, interessado naquilo que eu tinha para dizer, por isso, era a combinação perfeita. Ambos gostávamos muito de numerologia e ele era um 8 porque nasceu a 8 de Janeiro e esse é um número que representa ser mal entendido. E Elvis sentia que era muito mal entendido. Falta de entendimento na sua carreira e até com as pessoas sobre quem ele era. Elvis tinha perfeita consciência de todos os ciúmes, invejas e ressentimentos dentro do grupo, mas ele achava que estávamos ali para um objetivo mais importante. Era nisso que se baseava a nossa amizade, mas era muito difícil. Para o mundo exterior eu fazia parte da Máfia de Memphis, mas dentro do grupo haviam alguns elementos que se detestavam entre si – e isso existe ainda hoje. Eu tinha a atenção de Elvis e eles não gostavam disso. Não sabiam do que falámos ao longo dos anos. Em termos da visão que Elvis tinha para o seu futuro, as pessoas à volta dele não sabiam nada de nada, exceto Charlie Hodge. O Charlie sabia porque ele era muito discreto em relação a algumas discussões muito, muito importantes que tiveram lugar durante os últimos dois anos de vida de Elvis. Depois de um concerto, os rapazes iam até ao bar para engatar as miúdas e eu ia para ficar com Elvis. Era por isso que estava lá e era por isso que queria estar lá.

 

Charlie parecia ser um dos melhores amigos de Elvis.

O Charlie era um homem muito simpático e decente e o Billy também esteve sempre presente. Sempre senti que tinha uma missão, por isso sentia que tinha de ficar com Elvis durante os momentos piores. Mesmo até ao dia de hoje, até mesmo com aqueles que ainda me guardam ressentimentos e com quem não me dava, não me rala com isso. Porque nós estabelecemos um elo e partilhámos algo de tão único e profundo que tudo o resto consegue passar-me ao lado. O que eu não faria para poder estar sentado durante dez minutos com ele agora mesmo!

 

Houve um longo período em que você não teve qualquer contacto com Elvis, desde 1967 a 1972, depois do incidente durante as filmagens de Clambake. Lembro-me que você disse que o voltou a ver pela primeira vez em agosto de 1972 e que lhe pareceu que já nessa altura ele estava metido em sérios problemas.

Foi o meu amigo Johnny Rivers que sugeriu que fôssemos ver Elvis a Las Vegas. Mas quando Elvis apareceu, pude ver a mudança e vi isso nos seus olhos. E acontece que disse a alguém que estava na nossa mesa, “Ele tem mais cinco anos de vida, da forma como está a ir.” Claro que não estava mesmo a falar a sério, mas foi apenas porque pude sentir que algo estava errado. Conseguimos ver pela linguagem corporal de alguém e pude sentir que ele estava a usar más substâncias e que provavelmente não tinha os elementos certos à sua volta. Era algo que tinha a ver com a energia.

 

  Elvis e Larry Geller (Março de 1977).
Legendas: Larry com Elvis, no Hawaii, durante as férias de março de 1977.

 

Muito embora o Coronel tenha, de facto, feito alguns negócios espantosos nos primeiros tempos, parece que por volta de meados dos anos 70 ele estava a estafar o seu cavalo de corrida até à morte. Isto deve ter sido horrível de ver?

(a suspirar) Oh, meu Deus, nalgumas noites nem sei como ele era capaz de atuar. Numa das últimas tournées de Elvis, estávamos em Louisville, no Kentucky, e Elvis estava fisicamente doente e estava a passar por problemas emocionais sérios. Nesta noite em particular sentia-se com náuseas e com febre, sentia-se terrivelmente mal. Não conseguia dormir, virava-se e revirava-se na cama. Eu mesmo estava tão cansado, que disse, “Ei, Elvis, tenho de ir dormir um pouco. Vejo-te depois quando acordar.” Estávamos no Hilton Hotel e no dia seguinte, quando regressei à suite de Elvis, entrei e, surpreendentemente o Coronel estava lá. Foi a primeira vez que o vi dentro do quarto de Elvis. Disse, “Olá, Coronel”. E ele disse, “Onde é que ele está?” Expliquei que estava com o Dr. Nick e disse, “Deixe-me ir dizer ao Elvis que está aqui.” O Coronel passou por mim à pressa e disse, “Não. Eu é que vou entrar” e abriu a porta.

 

Até me dói dizer-lhe isto, mas o que eu vi foi o Dr. Nick ajoelhado junto da cama de Elvis. Elvis estava em estado comatoso e a gemer e o Dr. Nick estava a meter a cabeça de Elvis dentro de um balde com água gelada para o reanimar. Era uma visão patética. A porta fechou-se e o meu primeiro pensamento foi, “Provalvemente isto é bom, pois finalmente o Coronel vai ver o que raio se está a passar. O Velhote vai ver que Elvis está numa péssima forma, está semi consciente e tem de parar esta tournée horrível.” Um minuto depois a porta abriu-se, o Coronel passa outra vez por mim e eu levanto-me. Ficamos parados com os dedos dos pés a tocarem-se e ele a olhar-me fixamente nos olhos. Ele diz, “Vê se me ouves muito bem. A única coisa que é importante é que aquele homem esteja sobre o palco esta noite! Ouviste bem? Mais nada interessa.” E foi-se embora.

 

O meu coração afundou-se. Eu sabia a verdade e só me apetecia gritar. Oh, meu Deus, que filho-da-**** desgraçado. E depois ouvi Elvis gritar, “Lawrence, és tu que estás aí? Porque diabo deixaste aquele sacana entrar aqui?” Expliquei-lhe que ele tinha passado por mim e depois Elvis esteve a vociferar contra o Coronel Parker durante uma hora. Usou todas as palavras más que existem e disse, “Aquele sacana gordo, filho da ****… Vou ver se me livro daquele cú gordo. O pai quer livrar-se dele; há anos que o odeia. Não consigo suportá-lo. Há anos que ele perdeu o sentido total do que é o show business. Está apenas a usar-me e quero que Tom Hullett seja o meu empresário. Depois da tournée em setembro, acabou-se!” Falou sobre quem ia despedir e como ia mudar as coisas de uma vez por todas. 

 

E o que tem a dizer do boato que Joe trabalhava para o Coronel e para Elvis?

Elvis parecia ter conhecimento disso e ressentir-se disso. Sinto-me pouco à vontade a dar pormenores, pois isso não seria nada simpático, mas há muito mais sobre isso no novo livro sobre o Coronel. No entanto, posso mencionar um tipo de história relevante que está no meu livro If I Can Dream. Um dia estávamos em Chicago e eu fui até ao quarto de um dos rapazes e disse, “Sinto-me assustado como se alguma coisa estivesse errada. Se olhares bem para Elvis, podes ver que ele está tão doente, mais do que doente e precisamos de fazer alguma coisa, pois tenho medo de que aconteça alguma coisa.” Ele disse, “Espera um pouco. Larry, estás a ser negativo. Daqui a 20 anos Elvis ainda estará tão saudável como está hoje. Toda a gente sabe que os cantores rejuvenescem. Mas digo-te, Larry, que vai-te acontecer é uma coisa a ti. E sabes porquê? Porque estás a ser tão negativo!” Apercebi-me que estava a falar uma língua estrangeira com alguém, com comprimidos no seu sistema, que não conseguia ver a realidade e que estava em total negação. Mais tarde fui falar com outros dois, mas de forma semelhante, disseram que eu estava a ficar paranóico. Sem saber muito bem o que fazer, fui falar diretamente com Elvis. E contei-lhe a verdade e que estava preocupado. Contei-lhe à frente do Joe Esposito e do Dr. Nick.

 

Também deve ter estado presente quando começaram a surgir boatos sobre o livro Elvis: What Happened.

Quando Elvis ouviu falar sobre esse livro e que os 3 homens iam despejar o saco, aquilo deu cabo dele. Sentiu-se como se o estivessem a esfaquear. Disse, “Se aqueles fulanos precisassem de dinheiro, eu dava-lhes tudo o que quisessem. Só que já não os quero à minha volta. Já tive processos legais em cima de mim que me custaram 10 milhões de dólares por causa deles.” Passaram-se dois ou três meses e nunca mais ninguém ouviu falar do livro. Elvis pensou que talvez o Coronel tivesse conseguido fazer parar o processo. Disse-me que pensava que afinal já não ia ser publicado. No entanto, um dia, durante uma tournée, um fã que tinha trabalhado na editora de Nova Iorque, deu-me uma cópia manuscrita. Voltei para o meu quarto e pensei, “Oh, merda, eles vão dar cabo dele.”

 

Grande parte do livro era exagerado e havia meias verdades. Então senti que precisava de esperar pelo momento certo para contar a Elvis, pois agora sentia que a pressão estava em cima de mim. Duas semanas depois, ainda em tournée, estava no quarto com Elvis e ele estava a queixar-se que lhe doía a garganta e que lhe doíam os ossos. Sentia que alguma coisa estava errada e foi aqui que ele mencionou um possível cancro. Disse-lhe que ele precisava de dormir bastante e recarregar as suas baterias, visto que iria estar em palco mais uma vez naquela noite. Deixei-o ficar sozinho e fui para o meu quarto.

 

Hora e meia depois o meu telefone toca, “Lawrence, volta aqui, se fazes favor. Não consigo dormir, pede ao Dr. Nick para vir.” O Dr. Nick chegou e deu a Elvis um monte de comprimidos. Regressei ao meu quarto e deixei-o dormir. Naquela tarde, às 16h00 voltei ao quarto de Elvis para o acordar e bati suavemente na porta. Elvis diz, “Entra, Lawrence,” e estava sentado na cama. Estava a abanar a cabeça e disse, “Não consigo, caramba.” Nesta momento, o Joe entrou. Elvis disse, “Escutem, rapazes, estou doente. Tenho de cancelar a tournée. Vou telefonar ao pai e vocês regressem aqui daqui a 5 minutos.”

 

Apercebi-me que se Elvis cancelasse a tournée naquele momento, isso só iria acrescentar mais achas à fogueira do livro que eu sabia que ia ser publicado. 

 

Então esse foi o momento em que se apercebeu que tinha de contar a Elvis sobre o livro?

Exatamente. Com o Dr. Nick e o Joe presentes, contei tudo a Elvis no seu quarto naquele dia. Disse, “Elvis, tenho de te dizer uma coisa. Ninguém à tua volta de conta a verdade, mas sabes aquele livro? Vai sair, já vi as provas.” Elvis ficou branco. Eu disse, “Se estás doente e queres cancelar esta tournée, isso é uma coisa. Mas os rapazes estão prontos para te crucificar e tens de saber o que se passa. Vão dizer coisas que não vais gostar de ouvir, mas tens de estar informado.”

 

Elvis estava de pé, mas sentou-se na cama, com o seu fato enorme e disse, “Telefona já ao Coronel”. Mete-se na cama, senta-se, e cruza os braços. Neste momento entra o Charlie Hodge, todo divertido e pronto para ir para o palco. Elvis disse, “Fecha a matraca, Charlie.” Agora tanto Joe como todos nós estamos sentados na cama de Elvis quando Tom Hullett entra e pergunta o que se passa.

 

Elvis diz, “Não sou capaz. Estou doente, caramba. Detesto ter de fazer isto, detesto ter de cancelar a tournée, mas não sou capaz.” Tom Hullet disse o mesmo que eu. “Se tens de o fazer, tudo bem, mas isso vai chegar às notícias. Por isso, por motivos de segurança, temos de te meter num hospital e depois levar-te para casa.” Elvis fez-me sinal para ir até à casa de banho com ele, levantou os braços e olhou para mim. Disse, “Olha para mim, Larry, olha para mim, homem. Estou a tremer, estou doente” e estava a chorar. Comecei a chorar e disse, “Sei que estás doente, mas tive de te dizer. Desculpa. Foi este o momento em que tive de te contar. A tua vida está em jogo.”

 

Durante as duas horas seguintes estivemos a fazer as malas e a prepararmo-nos para ir embora. Não lhe arranjei o cabelo como costumava fazer e ele esteve muito calado comigo e não disse nada. Regressámos de avião a Memphis onde estava à espera que fôssemos diretamente para o hospital, mas em vez disso fomos para Graceland. Já aí Elvis come uma tarte enorme e acaba por ficar no seu quarto até às 18h00 e só depois é que vai para o hospital. Senti que não podia regressar a LA até falar com ele, por isso fui até ao hospital, onde os rapazes me informaram que ele não me queria ver. Lembro-me de ver Lamar a sair do quarto de Elvis e de me dizer, “Contaste-lhe a verdade, não foi? Caramba, deixa-me apertar-te a mão. És o único daqui que tem tomates!

 

Continuava a precisar de ver Elvis, por isso esperei durante dias num quarto contíguo ao seu. Não era capaz de me ir embora. Numa manhã ouvi Elvis dizer, “Lawrence, estás aí?” Entrei no seu quarto e Elvis disse, “Larry, tens de me perdoar, irmão. Foi o meu ego. Estás aqui porque me dizes a verdade. É por isso que estás aqui. Tens de entender aquilo por que estou a passar.” 

 

No seu livro você menciona que até mesmo nestas condições, Elvis ainda estava a fazer planos para o futuro. Pelo menos isso soava positivo.

Elvis tinha mesmo planos para o futuro que envolviam um livro e projetos como ator. A tournée seguinte foi duas semanas depois. Estávamos em Detroit e era 25 de abril porque estávamos a falar da mãe dele e essa era a data do seu aniversário. Elvis levantou-se, estávamos a olhar um para o outro e ele pousou-me uma mão sobre um ombro. Com a outra mão apontou lá para fora e disse, “Os fãs conhecem o ‘Elvis’ muito bem.” Mas depois bateu com um dedo no seu peito com bastante força e disse, “Mas, caramba, não me conhecem a mim. Não fazem ideia nenhuma.” E disse, “Lawrence, estás comigo?

 

Perguntei-lhe o que queria ele dizer com aquilo e respondeu, “Escuta, Larry, senão contares a verdade ao mundo eles nunca hão-de saber a minha verdadeira história. Tu és aquele que me conhece e não ia pedir isto a mais ninguém. És responsável, pois foste tu que me puseste neste caminho. Sei o que leio, sei aquilo pelo que estou a passar. Sabes o que estou a tentar fazer, em como gostava de ajudar este mundo. É suposto fazermos algo juntos, Larry. Talvez escrevamos um livro. Podíamos intitulá-lo Through My Eyes (Através dos meus Olhos) e fazermos filmes com sentido.” Tudo isto soava tão bem, que concordei e disse, “Claro, Elvis. Estou contigo e podemos fazê-lo.”

 

Durante os anos 60 Elvis vociferou e queixou-se sobre os seus filmes muitas, muitas vezes e como queria sair daquilo. Dizia, “Olha, não estou metido nisto só pelo dinheiro. Sempre quis ser actor.” Aquilo que mais lamentava era nunca ter ganho um prémio da Academia. Já tinha estado a trabalhar com ele no documentário drama de 1974 sobre as Artes Marciais. Então falávamos sobre outras ideias acerca de filmes que Elvis gostava, conseguirmos arranjar alguns dos melhores argumentistas de Hollywood para trabalhar num filme feito por encomenda para ele. Era este o objetivo e até chegámos a falar em tirar um ano de folga, ir para o Hawaii para a pré produção, mas, claro, isso nunca aconteceu.

 

Mas para fazer isso ele teria de escapar do Coronel que, claro, ele tentou fazer em 1973, mas não conseguiu.

É verdade! Nessa altura Elvis cedeu, mas por volta de 1977 ele sabia que as coisas tinham de mudar. Queria livrar-se do Coronel e queria uma nova mudança. Falou em voltar a casar-se e ter mais filhos. Ele queria isso. Era uma luta constante. 

 

Em março de 1977 você chegou a ir naquelas últimas férias no Hawaii. Obviamente que na altura Elvis andava a variar de regimes que iam de vitaminas e saúde, que você lhe sugeria, e todos os medicamentos químicos que tomava dados pelo Dr. Nick.

Não tenho respeito pelo Dr. Nick. Antes de uma tournée começar, eu arranjava pacotes de vitaminas e minerais para me ajudar a manter-me saudável durante a tournée. Além disso, eu era vegetariano. Um dia eu estava no quarto de Elvis quando ele acordou e o Dr. Nick estava lá. Peguei num pacotinho de vitaminas, pu-lo na mesa e disse, “Elvis, devias tomar isto, pá, são bons para ti.” Também lhe fiz um discurso sobre os benefícios das vitaminas. E o Dr. Nick disse, “Ei, tira essa porcaria daqui. Essa merda não funciona.” Era um médico que dizia isto! Claro, já nem sequer é médico. Graças a Deus que se fez alguma justiça.

 

De facto, não foi em 1967 que deixou Elvis pela primeira vez e foi o exato momento em que o Dr. Nick apareceu pela primeira vez?

Sim e foi quando Elvis iniciou o seu regime de tomada de comprimidos.

 

Uma das citações que mais gosto foi quando Elvis o apresentou a si à Kathy Westmoreland e disse, “Kathy, este é o filho da **** mais pesado que já conheci na vida. Nunca vais conhecer ninguém mais pesado.” Que bela apresentação!

(a rir) Quando ele disse isso, pensei, “Oh, meu Deus! O que vai ela pensar!” O Elvis sempre pensou que algo de romântico pudesse acontecer enter mim e a Kathy, mas eu não queria ir por aí. Os rapazes sabiam disso e Elvis respeitou-me. Tudo isto me faz sentir muito auto consciente… mas foi assim que tudo aconteceu.

 

Algumas pessoas dizem que o lado místico e espiritual de Elvis não era importante, mas durante os anos 60 deve ter sido algo de bastante importante, pois Elvis estava a fazer filmes leves e horríveis e durante esse tempo deve ter andado à procura de algo.

Elvis surgiu da sua base espiritual, pois ele era assim. A coisa mais importante na sua vida era a sua carreira, a sua filha e a sua alma espiritual. Trinta minutos antes do funeral de Elvis Vernon revelou-me algo que disse tudo. Estávamos em Graceland no quarto da empregada e vi Vernon sentado com o seu fato vestido e com um aspeto gasto. Fez-me sinal para me aproximar e disse, “Larry, tenho de desabafar uma coisa contigo. Quando apareceste pela primeira vez, desconfiei de ti. Era ‘tu e Elvis’ a toda a hora e tu a trazeres-lhe todos aqueles livros esquisitos. Cheguei mesmo a ir ter com Elvis e a dizer-lhe o que achava, mas ele disse, ‘Não te preocupes, o Larry é uma ótima pessoa.’ Levei muito tempo, muitos anos, para me aperceber disso, Larry, que tu e Elvis eram apenas pessoas espirituais.” A casa estava cheia de gente e Elvis estava ali deitado dentro do seu caixão e quando Vernon me disse isto, foi como se me tivesse caído uma tonelada de tijolos em cima.

 

Acho que muitos de nós nos sentimos emocionados quando pensamos nestes últimos anos. É que é mesmo tão triste. Se ao menos tivesse sido diferente.

Bem, ele tinha um plano para o futuro. Até mesmo naquele último ano, quando ele estava realmente doente e tomava imensos comprimidos, Elvis estava bastante consciente. Mais ninguém sabia tão bem o que se passava com ele do que ele mesmo. Ele sabia que tinha um problema e sabia que tinha de parar. A ideia era irmos para o Hawaii e ele ia livrar-se da maior parte das pessoas que trabalhavam para ele e manter uma equipa mínima. Ia livrar-se do Coronel Parker. 

 

Disse, “Caramba, quero libertar-me destes comprimidos e quero fazer uma boa dieta e exercício. Quero regressar para o ano que vem e quero voltar a fazer filmes. Não aqueles filmes para adolescentes, mas papéis dramáticos para que possa mostrar aos fãs quem realmente sou.” Falava sempre muito a sério quando dizia isto.

 

A tragédia da vida de Elvis é que foi um homem que teve tudo. Ele foi, é e será sempre O Rei. Mas sabia também que estava contaminado de toxinas e que a sua dieta estava descomunalmente errada e que tinha de limpar o seu organismo. Sabia que haviam pessoas à sua volta que não eram suas amigas, mas que ali estavam só para receber o cheque ao final do mês. Elvis era esperto e mais esperto do que qualquer uma das pessoas que o rodeavam. E estava a fazer planos. A tragédia foi que ele foi sempre adiando.

 

Por certo que os últimos anos de vida de Elvis foram como uma viagem numa montanha russa, com momentos de clareza na sua mente. Mas depois entrava em depressão?

Claro. A vida e a morte estavam ambas pousadas sobre os seus ombros e, com grande tristeza, a morte ganhou.

 

Acho que preciso de mudar a nossa disposição com uma pergunta muito leve. Como passou tanto tempo ao lado dele e assistiu a tantos concertos, qual é a canção de Elvis que mais significado tem para si?

A canção que me toca de forma inigualável é Unchained Melody, porque Elvis colocou essa canção nos seus concertos durante os seus últimos meses de vida. Era apenas Elvis a cantar, ao piano, com uma luz azul sobre si. Quando oiço isso, fico sempre espantado. E aquele concerto da passagem de ano de 1976 quando canta Rags to Riches e Unchained Melody – foi fenomenal nessa noite. Um dos melhores concertos que deu na vida e estava com ótimo aspeto. De facto, Jimmy Carter telefonou-lhe nessa noite quando já estávamos de volta no hotel. Eu atendi o telefone e disse a Elvis que era alguém a fazer-se passar pelo Presidente dos Estados Unidos. Mas era mesmo ele e Elvis estava à espera do seu telefonema!

 

O que está o Larry Geller a fazer agora?

Estou a trabalhar num novo livro sobre o qual falei pela primeira vez com Elvis. Ia escrever um livro sobre a Saúde e o Cabelo e na altura Elvis disse que poderia usar o seu nome no livro. Sentia-se muito feliz por ser associado com a saúde e pensei que isso poderia ser bom para a sua imagem. Ele até chegou a falar sobre a hipótese de fazer um anúncio publicitário para mim! Elvis até falou com Vernon sobre isso, mas Elvis morreu antes que quaisquer contratos tivessem sido assinados e depois senti que não devia ir avante com o projeto.

 

Mas agora estou a fazê-lo e melhorei o conceito. Vou falar de todos os meus primeiros anos com Elvis e de todas as celebridades que conheci. O livro intitula-se Geller Care: Healthy Hair, Healthy Life e é sobre a vida e o rejuvenescimento, a nutrição, crescimento espiritual e tudo o que se precisa de saber sobre o cabelo. Deve sair no início do ano que vem e também vai conter fotos de todos os filmes que fiz com Elvis.

 

Uma pergunta final e manhosa para si. Falou imenso com Elvis sobre a reencarnação e o karma. Sonha com ele e acha que vai voltar a encontrar-se com Elvis outra vez?

É uma boa pergunta. Tenho tantos sonhos com ele que até arrepia. Acordo e é como… “Uau, foi fixe.” A outra é uma questão mais complexa… O que acontece quando deixamos esta vida? A minha resposta é: Sim. Espero voltar a ver Elvis outra vez. Que Deus o abençoe.

 

Muito obrigado por nos dispensar tanto do seu tempo, Larry. Foi fantástico falar consigo.

Fique bem e espero que nos possamos voltar a encontrar um dia.

 

Fonte: Internet.

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