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Noite à Elvis em Libertyland
Célia Carvalho, Agosto de 2002
celiamcarvalho@gmail.com


Célia, com o cabeleireiro e amigo de Elvis, Larry Geller.

Para quem ainda não sabe – embora duvide – Elvis gostava de se divertir à grande em parques de diversão. Infelizmente, quando ficou tão famoso que não podia já divertir-se dessa forma como uma pessoa qualquer, viu-se na necessidade de alugar algumas feiras durante a noite e, deste modo, poder fazer tudo o que queria. Nessas ocasiões, é claro que as portas ficavam abertas para todos os seus familiares e amigos e amigos destes, bem como até de alguns fãs que tivessem a sorte de estar por perto nessas alturas. Elvis gostava de partilhar o que tinha. O parque de diversões em Memphis que Elvis alugou inúmeras vezes desta maneira é o Libertyland.  

Algumas das histórias mais famosas do comportamento de Elvis giram em torno deste parque de diversões. Elvis adorava a montanha-russa (chamada Zippin Pippin, em Libertyland) e era capaz de andar 4 horas seguidas – na primeira carruagem e em pé! As pessoas espantavam-se como ele não ficava mal disposto nem perdia o equilíbrio. Uma vez pregou um susto de morte a toda a gente. Enquanto o comboio estava a subir lentamente uma das montanhas, Elvis saiu da carruagem e pendurou-se algures sob a estrutura metálica. Deste modo, quando as pessoas viram o comboio a passar sem Elvis lá dentro, pensavam que ele tinha caído e estivesse ferido algures! Mas Elvis, safado como era, voltava a empoleirar-se para dentro da carruagem em andamento e, na viagem seguinte, lá ia ele. Durante muito tempo, as pessoas não souberam como ele fazia aquilo!

Por ser um sítio tão especial para Elvis, Patsy Andersen da EPE achou que Libertyland seria o sítio ideal para a reunião com os Presidentes dos Clubes de Fãs de todo o mundo em Agosto de 2002. Também estávamos convidados e eu, como vice-presidente do Elvis 100%, podia comparecer e levar um acompanhante, com entrada grátis. Estariam presentes alguns elementos da famosa Máfia de Memphis, com quem Elvis mais se divertia durante estas suas travessuras. Depois de alguns momentos passados a reviver alguns episódios com essas pessoas, haveriam várias atracções e espectáculos em toda a feira. Era, sem dúvida, uma excelente ideia. Mas...

... Há sempre um “mas”. O que a Patsy ou o pessoal da organização nunca poderia ter antecipado foram as condições climatéricas. No dia em que foi o evento dos Presidentes dos Clubes, dia 13 de Agosto, pelas 20.00h, choviam “cães e gatos” (para citar uma expressão inglesa), acompanhado de muitos relâmpagos e trovões. Eu sabia que iria ser impossível tirar partido de todas as viagens gratuitas que podíamos gozar nessa noite. E o tempo não parecia estar com “cara” de melhorar. De facto, não melhorou. Tanto eu como a Olga (e todos os outros) apanhámos uma valente molha. E dentro do Centro Cultural de Libertyland, estava um grupo enorme de presidentes, vice-presidentes e acompanhantes bem molhados, mas bem-dispostos. A conversa era posta em dia, trocavam-se beijos e abraços. Revimos alguns dos brasileiros que tínhamos conhecido junto da campa de Elvis, como Walteir Terciani, uma simpatia de pessoa. Conhecemos pessoalmente uma sócia do nosso clube, também brasileira, Guta Mendes. À entrada deram algumas ofertas a todas as pessoas: uma t-shirt comemorativa dessa noite (com imagem de Elvis a andar no Zippin Pippin), uma ventoinha que funcionava a pilhas e 15 dólares para gastar em comes e bebes onde quer que quiséssemos.

Patsy deu as boas-vindas a todos e começou a pedir desculpas por aspectos que estavam realmente fora do seu alcance, como as condições climatéricas. Apesar da chuva, o calor era muito e, para ajudar à festa, o ar-condicionado do Centro avariou e tiveram de ir buscar as ventoinhas de Graceland para desenrascar...! Não há dúvida de que a Patsy e o resto do pessoal deviam estar mesmo aborrecidos. Houve uns momentos para os presidentes dos clubes que tinham contribuições a fazer para obras e instituições de caridade. Tanto a Olga como eu ficámos espantadíssimas com as quantias recolhidas em nome de Elvis – muitas vezes por clubes não muito grandes. Houve um clube que conseguiu recolher 100.000 dólares! (Este foi o preço que Elvis pagou por Graceland quando a comprou em 1957). Patsy comentou que os fãs pegaram na tarefa de Elvis de ajudar onde ele ficou. O trabalho dele não acabou. E isso é verdadeiramente espantoso. Eu concordo e é claro que adoraria que os nossos sócios fossem mais participativos e conscientes deste tipo de iniciativa.

Foi a Patsy que começou a apresentar alguns dos elementos da Máfia de Memphis, que foram subindo ao palco e se foram sentando nos seus lugares. Estavam lá: Jerry Schilling (um dos elementos mais jovens e também o único que tirou um curso superior, bom amigo de Elvis), Joe Esposito (o braço direito de Elvis e também grande amigo), Dick Grob (segurança e amigo), Larry Geller (cabeleireiro, guru pessoal e grande amigo), Pat Perry (este era o único elemento feminino da Máfia – Elvis adorava-a pelo seu sentido de humor) e, por último, uma senhora que foi apanhada de surpresa e chamada ao palco. Trata-se de Julie Parrish, uma actriz que contracenou com Elvis em Paradise Hawaiian Style (era uma das 4 namoradas que ele tinha espalhadas pelas várias ilhas). Ela estava a passar perto dos fãs – de facto, estava mesmo ao meu lado e ao lado de Olga – quando a Patsy a viu e a chamou ao palco. Ela foi, dizendo que não fazia parte da Máfia de Memphis e estava ali como fã de Elvis. Mas acabou por ir! 

Elvis com Larry Geller, Hawaii, Março de 1977.

Das histórias que contaram, as que me ficaram mais presentes na memória foram as que o Larry e a Julie contaram. Todas as outras já as conhecia e já as mencionei neste artigo. Larry contou que da primeira vez que foi convidado por Elvis para estar em Libertyland, foi andar na montanha russa com ele. Quando chegaram ao fim da viagem, Larry levantou-se para se ir embora. Elvis puxou-o para baixo, “Onde vais, pá? Isto ainda agora começou!” Larry diz que andou durante mais de 2 horas na montanha russa! “Fiquei tão mal disposto...!” Mas Elvis era assim, tinha de ser exagerado em tudo. A Julie contou uma história deliciosa. Não falou sobre Libertyland, pois ela apenas contracenou com Elvis no filme que referi antes. Contou que quando soube das audições para Paradise Hawaiian Style, através de uma amiga, concorreu para um papel que era simplesmente o de uma rapariga que passava num bar e levava uma palmada no rabo. “Eu queria lá saber!” exclamou ela, levando as mãos ao rosto, “Faria tudo o que fosse preciso para estar num filme de Elvis e para o conhecer!” A audição deve ter corrido muito bem e acharam que devia ter um papel mais consistente. Viria a ser uma das 4 namoradas de Elvis desse filme, aparecendo várias vezes durante o filme. Contou também que logo uma das primeiras cenas que teve de fazer com Elvis, estava abraçada a ele, como se se tivessem acabado de beijar. “Meu Deus, eu pensava que ia morrer! Ainda nem sequer tinha sido apresentada e ia começar logo com uma cena amorosa!” O que mais gostei em Julie foi de a ouvir falar como exactamente uma de nós – uma fã de Elvis, completamente espantada e deliciada por estar ao pé dele. O facto interessante era vê-la falar como se tivesse acabado de estar com ele...!

O evento acabou, as pessoas convidadas estavam com pressa para regressar a casa, pois no dia seguinte iam ter várias entrevistas para cadeias televisivas, jornais, etc... e foi no final que eu decidi ir dar uma palavrinha ao Larry. Já o tinha conhecido em 1997, no final do primeiro The Concert, no Mid-South Coliseum. Na altura, eu e as minhas companheiras de viagem – Sandra Santos e Lu Ribeiro – estávamos muito comovidas e Larry também. Pedi-lhe para ele me autografar o meu programa e disse-lhe que tinha adorado ouvi-lo falar sobre Elvis na Humes High School. A Lu rematou dizendo, “Obrigada por teres sido amigo do Elvis”. Os olhos de Larry ficaram ainda mais húmidos. Eu não calculava que Larry se fosse lembrar de mim. Afinal, eles conhecem centenas de fãs todos os anos. Mas queria falar com ele. É uma pessoa muito acessível e calorosa. Sei o quanto Elvis gostava dele e sei que Larry também gostava muito de Elvis. Quando subi ao palco e o chamei, ele estava a despedir-se de uma pessoa. Não me pôde dar uma atenção imediata, mas pegou-me na mão e ficou com ela junto do peito até virar o olhar para mim. Sorriu e eu contei-lhe que tinha tentado encontrar o seu livro, If I Can Dream, sem sucesso (ele explicou-me como o poderia obter). Mas estava a ler um outro, escrito com a sua colaboração, Elvis’ Search For God (A Busca de Elvis por Deus), de Jess Stearn, e estava a adorar. Ele disse-me que era um livro diferente de todos os que já tinha lido sobre Elvis e ia ler sobre coisas que não encontraria em mais lado nenhum. Estava certo. Mas mesmo aquelas coisas que eu não sabia, como que as intuí. Larry comunicou-me que o autor desse livro tinha morrido há duas semanas. Fiquei com pena, pois era um autor que escrevia livros espirituais e acho que isso faz muita falta neste nosso mundo tão materialista – espiritualidade. Pedi ao Larry para tirar uma fotografia com ele. O Walteir fez o favor de ser o meu fotógrafo (parecia que ele não fazia mais nada sempre que me encontrava!) e a foto ficou muito bem! É uma das minhas preferidas. Larry deu-me o seu cartão pessoal para lhe escrever.

Célia, com Julie Parrish, actriz que contracenou com Elvis em Paradise Hawaiian Style. Elvis com Julie Parrish num intervalo das filmagens.

Quando me vinha embora, vi que a Julie Parrish estava sentada na minha cadeira...! Não resisti a conversar um bocadinho com ela. Disse-lhe de onde era e perguntei-lhe se se importava de tirar uma foto comigo. Ela é uma simpatia e uma senhora muito bonita, que está praticamente com a mesma cara quando fez o filme com Elvis. O Walteir disparou mais uma foto. Depois das despedidas, o pessoal saiu do Centro. Sei que alguns foram assistir aos espectáculos, filmes e karaoke que haviam na feira. Mas estava tudo quase deserto... o tempo não estava nada convidativo, continuava a chuviscar e estava tudo molhado. Decidimos voltar para o hotel para descansar. Amanhã era outro dia.

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