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Roubo em Memphis...!
Célia Carvalho, Agosto de 2002
celiamcarvalho@gmail.com


Célia com Suzanna Leigh, em Memphis (Agosto 2002).

Quase parece o título de uma notícia de jornal, certo? Pois é, bem que podia ter sido. Mas essa é uma história que passarei a contar mais adiante.

Um dia, estava a passar na recepção do Hotel Ramada Inn – onde a Olga Susana e eu ficámos hospedadas – para ver os avisos com as actividades do dia afixadas no cartaz, quando vi uma cara conhecida. Achei estranho e, ao mesmo tempo, engraçado, vê-la ali. Chamei a Olga de parte e disse-lhe, “Olha, estás a ver aquela senhora que está ali a montar a bancada de venda de livros? Trabalhou com Elvis num dos seus filmes: é a Suzanna Leigh.” Está nitidamente mais velha, tem 57 anos – a mesma idade de Priscilla (e da minha mãe!) – mas vê-se perfeitamente que é a mesma cara que vemos em Paradise Hawaiian Style (neste filme Suzanna representa o papel de secretária de Elvis, fingindo ser casada, pois ele é um terrível D. Juan. Mas claro que, no fim, ficam juntos). Resolvi meter conversa com ela. Costumo tratar as pessoas pelo sobrenome quando não as conheço, mas ao ver a Suzanna ali no meio dos fãs, com tanto à vontade e a conversar com tantos elementos do meu grupo, tratei-a pelo nome, “Suzanna?” Ela olhou logo para mim. Grande sorriso, “Yes, darlin’?” (Sim, querida?), foi a sua resposta. O sotaque tão bonito da Inglaterra, pois Suzanna é inglesa. Perguntei-lhe quanto custava o seu livro, pois sempre tive vontade de o encomendar através do Clube inglês, mas atrasei-me e depois deixou de ser publicitado. Ela informou-me que agora só se consegue adquirir através dela. Comprando o livro, podia escolher qualquer uma das bonitas fotos que ela tinha expostas, autografada por si. Eu estava com pressa para sair para outra excursão Elvística e não tinha dinheiro que chegasse. Perguntei-lhe se ia ficar por ali. Ela disse que ia estar ali durante toda a semana. Despedi-me com um “Até amanhã!” e saí com a Olga.

Fiel para com a minha palavra, no outro dia fui ter com a Suzanna para comprar o seu livro. Sempre me interessei pelas biografias de outras pessoas (mesmo sem estarem ligadas a Elvis, pois adoro ler), porque recolhe-se tanta informação sobre as suas vidas, vivências e experiências. O livro da Suzanna, intitulado Paradise, Suzanna Style, era, basicamente, sobre a sua vida de actriz. Estava curiosa para o ler. Claro que não o disse a Suzanna, mas este é o filme de Elvis que menos gosto...! Porém, há outros que também não gosto, são mesmo muito fraquinhos. Perguntei-lhe como estava a sua filha, pois tinha lido que ela tinha estado doente. O sorriso dela aumentou ainda mais quando referi a filha. Disse-me que estava muito bem, que tinha entrado para a universidade nos Estados Unidos e que ela estava a pensar mudar-se para lá.

A Suzanna tinha várias fotos muito bonitas por onde escolher, mas decidi escolher esta que aqui podem ver impressa, pois ela e Elvis estão muito bem. Quando quis autografar o livro e a foto, perguntou-me como me chamava. O meu nome também existe em inglês, mas para não haver dúvidas, mostrei o meu cartão de identificação. Foi aí que vi a Suzanna a franzir os olhos e a admitir, “Não consigo ver, querida... Roubaram-me os meus óculos.” Fiquei momentaneamente confusa. “Roubaram-lhe os óculos...? Quando e para quê?” E então ela contou-me que no dia anterior tinham-lhe roubado um saco cheio de posters e que os óculos estavam lá dentro. “Mas os seus óculos não servem para mais ninguém,” disse eu, “Isso é mesmo horrível.” Ela ficou séria e disse-me, “Tenho a certeza que vão vendê-los como peça de memorabilia.” Aí devo ter ficado com uma cara mesmo espantada – nunca tal coisa me passaria pela cabeça. “Isso deixa-me triste, sabe?” comentei, “Só porque você teve a sorte de conhecer e trabalhar com Elvis, agora fazem-lhe estas coisas? Não é justo.” E então, ela quis partilhar outra história.

“Uma vez aconteceu-me outra coisa. Estava a vender o meu livro e, como também tu escolheste esta foto, as pessoas gostam muito do cartaz gigante que tenho dela e que está aqui atrás. Costumam pedir-me para tirar fotografias, mas como é aborrecido estar sempre a levantar-me e a sentar-me, normalmente fico sentada. Houve um casal que veio ter comigo e me comprou uma fotografia e depois insistiu imenso para me tirar uma foto ao lado do poster, de pé. Sabes como as pessoas são quando são insistentes! Eu pus-me de pé. Olha, foi só o tempo de me virar, quando olhei para a frente, nem casal, nem monte de fotos. Roubaram-me o monte das fotografias e lá foram eles!” Só pude abanar a cabeça. “Mas não acabou por aqui. Pouco depois apareceram fotos minhas autografadas à venda na Internet. E eu não vendo fotos nenhumas na Internet. Tenho a certeza que reproduziram a minha assinatura e estão a vender todas as outras fotos desta maneira.”

Só pude dizer à Suzanna que lamentava esse tipo de comportamento, ainda para mais vindo de pessoas que se dizem fãs de Elvis. Para mim, esses não são fãs de Elvis, mas verdadeiros oportunistas, que envergonham quem diz admirar Elvis Presley e tudo o que ele representou e ainda representa. Perguntei à Suzanna se podia tirar uma foto com ela, ao que ela aceitou prontamente. Sentei-me ao seu lado e pedi a uma fã do meu grupo para disparar esta foto. Acho que ficou muito bem! Depois de me despedir da Suzanna, fui com o livro para o quarto de hotel, onde comecei logo a lê-lo. A Suzanna escreveu na primeira página, “Para a Celia, espero que gostes da minha história.” Por estar sem os óculos, a sua letra está um bocado esquisita!

Foto que Suzanna Leigh autografou para mim.

Agora, que já li a sua história na íntegra, fiquei espantada. A vida da Suzanna deu mesmo para escrever um livro! Sobre Elvis, vou só dizer algo que ela contou. Esta foto que ela me autografou foi tirada nos estúdios do filme, quando ambos andavam por ali a passear. As roupas que têm vestidas nem sequer são do filme, mas deles próprios. Alguém os achou bonitos juntos e disparou a foto. Elvis teve uma reacção que nem a própria Suzanna podia ter antecipado. Beijou-a profundamente. Suzanna diz que só se lembra de ter deslizado os braços à volta do pescoço dele e de se derreter completamente. Depois do beijo, que foi devidamente captado noutra fotografia, Elvis sorriu-lhe e disse, “Esta foto não vai prejudicar em nada a tua carreira, querida!” Suzanna estava em início de carreira e Elvis sabia que tudo quanto fizesse virava notícia. E, certinho como o destino, no outro dia a fotografia estava publicado em tudo quanto era sítio.

Suzanna conta que só beijou Elvis mais uma vez. Aliás, foi ele que a beijou a ela, no final das filmagens de Paradise, à despedida. Ele foi ter com ela ao seu camarim, onde se despediram. Desse beijo, Suzanna disse, “Uma pessoa podia ir para as masmorras para o resto da vida com o sabor daquele beijo nos lábios e a pensar que a vida tinha sido boa.” Eles pensavam que iam tornar a ver-se, pois Suzanna estava escalonada para entrar noutro filme de Elvis, Easy Come Easy Go (outro super fraco). Só que alguns contratempos na sua vida pessoal fizeram com que a sua carreira como actriz nos Estados Unidos levasse uma autêntica reviravolta. Mas de Elvis guardou muito boas recordações, de horas e horas de conversa durante 4 meses consecutivos. Elvis tratava-a por “Little sister”, pois dizia que ela era como a irmãzinha que nunca tinha tido. Na altura Suzanna tinha 20 anos e Elvis, 30. Elvis comentou com Suzanna que, apesar de ser da mesma idade de Priscilla, esta parecia muito infantil em comparação. Em abono de Priscilla, que não foi propriamente uma “menina da mamã ou do papá”, tendo de ajudar a mãe a criar os seus outros 5 filhos mais novos, Suzanna passou por situações muito difíceis na sua vida, desde muito pequenina. Era natural ela ter amadurecido mais depressa.

O dia 14 de Agosto foi o último dia em que vi Suzanna no nosso hotel. O dia amanheceu chuvoso, muito embora depois se tenha posto uma tarde de sol lindíssima. Como chovia, a Olga e eu decidimos ir visitar a loja que vendia coisas de Elvis no nosso hotel e que era enorme! Normalmente apenas uma sala com o tamanho de um quarto estava reservada para venda de artigos. Este ano, uma sala maior que todo o refeitório e outra mais pequena, estavam cheias de TANTA coisa de Elvis que nem vos sei descrever. Depois de vermos as lojas, sentámo-nos na recepção, à espera que parasse de chover. A Suzanna chegou, montou a sua bancada e cumprimentou-me com um sorriso. “Olá, querida!” Depois aproximou-se sorrateiramente, chegou-se para mais perto de mim e disse, “Posso pedir-te um favor?” Eu disse claro que sim. “É que eu queria ir à loja de coisas de Elvis, mas não posso deixar isto aqui, pois podem roubar alguma coisa. Ficavas aqui a olhar pela minha bancada durante uns minutinhos?” Achei tão amoroso da parte dela! Primeiro porque pude ver o brilhozinho da fã de Elvis que ela também é a luzir no seu olhar, e depois porque confiou em mim para ficar com essa tarefa. “Sim, pode ir,” disse-lhe, “E pode ficar descansada que não vai desaparecer nada!” Ela sorriu-me e fez-me uma festa num braço e lá foi ela, toda contente, como uma criança que vai para uma loja de doces. Sim, porque a Suzanna sempre foi fã de Elvis e quase que se pode dizer que veio a conhecê-lo por ter trabalhado bem nesse sentido. Decididamente, uma mulher muito inteligente.

Estive 15 minutos a guardar a bancada da Suzanna e a responder às perguntas que os fãs faziam ao folhear o seu livro. Ela regressou, agradeceu-me imenso e sentou-se no seu lugar, certamente mais feliz por ter visto as lojas e talvez até com alguma compra dentro do saco.

No entanto, não deixei de ficar triste por ver que em torno de Elvis giram uma série de aspectos que também são desagradáveis. E nem ele, nem as pessoas que o conheceram, têm culpa disso. Quando alguém faz este tipo de coisa – como roubar propriedade de outrem relacionado com Elvis – essa pessoa só pode ser etiquetada uma de duas coisas, ou ambas: fanática e/ou desrespeitadora. E acho que isso é uma pena, pois Elvis não merecia isso, não merece ter fãs assim. As pessoas que o conheceram também não merecem isso. E, por último, os fãs de Elvis que se comportam como pessoas adultas e responsáveis, também não merecem. No final de contas, são estes poucos exemplos (prefiro pensar que são poucos) que dão um mau nome aos fãs de Elvis. Mas ainda bem que, apesar das más experiências vividas, há quem ainda consiga dar um voto de confiança a outro fã de Elvis que acabou de conhecer – como a Suzanna fez comigo!

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