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QUANDO NOS CONHECEMOS, PARTE 4b (2º Dia - No Palco e Fora Dele)

Normalmente, uma segunda noite em palco com um grupo ou artista é mais fácil. Já temos uma ideia do alinhamento das canções, sobre o que queremos acrescentar, quando cantar... e não cantar, e sabemos as letras desse alinhamento. Por isso, mantendo em mente o “És Tão Bom Quanto Apenas a Tua Última Atuação” e sabendo que Elvis podia até alterar uma canção que tinha cantado na noite anterior, mesmo a meio, de estilo country para rhythm and blues, jazz, gospel, ou qualquer outro “sentimento” que lhe ocorresse na mente e no coração... estava ainda mais preocupada do que na primeira noite. “O que tirará ele do chapéu esta noite?” interroguei-me. Também tinha sérias preocupações de que aqueles poucos guarda costas não fossem capazes de suster a multidão louca. “E se mais do que uns ‘poucos’ correrem para o palco?!!”

Aquele concerto decorreu da forma mais suave possível e eu começava a utilizar os meus anos de treino para me concentrar, focar-me no meu trabalho, na minha voz e em escutar. Escutar com muita atenção para poder encontrar no monitor onde estávamos e em que canção, e tentar ignorar e/ou rir-me daquilo que a multidão fazia, apesar de ter um medo verdadeiro do que poderia acontecer. Cada vez me sentia mais impressionada com a mestria de Elvis (alguns dos movimentos que fazia sobre o palco eram incríveis, considerando que estava a trabalhar num palco cheio de microfones, cabos, amplificadores e uma data de monitores). Estava realmente surpreendida com o seu aparente controlo sobre a sala, o público e, especialmente, com a maturidade da sua voz. Os seus anos de experiência perante públicos ao vivo e o que tinha aprendido antes de fazer dez anos de filmes, não o tinham abandonado. E também, os arranjos de algumas canções que ele cantava, eram espantosos e, francamente, bastante comoventes; Just Pretend, I Just Can’t Help Believin’, os seus “sentimentos” novos e misturados destes lendários êxitos. O som estava ligado “ALTO”, pois tinha de se fazer ouvir sobre o barulho que os fãs faziam. Sendo assim, uma boa mistura de monitores não era possível e realmente o som nunca foi o que realmente deveria ter sido.

Mais um concerto dado e mais apontamentos mentais sobre novas canções. Desci, a pensar nessas coisas, onde era precisa para acrescentar um ponto alto numa ou duas delas e, quando tinha mesmo chegado ao corredor que dava para o meu camarim, lá estava ele outra vez. Ainda não se tinha incomodado em ir para o seu camarim, mas estava excitadamente a contar-me, um bocado alto e com um grande sorriso e brilho nos olhos, enquanto estendia os braços com mãos e dedos a apontar para mim, “Amanhã vou colocar-te lá à frente!” “Estou muito bem no sítio onde estou!” Preferia estar lá atrás com os Imperials naquele meu ponto musical, ah... sem nenhuma música... mas com um livro cheio de letras de canções e apontamentos, como já disse antes. “Quero meter-te lá à frente para te poderem ver! Precisam de te ver! És tão pequenina que ninguém consegue ver-te e quero que te vejam!” “Ah, sim? Está bem.” Um sorriso deslumbrante e mais uma corrida louca pelo corredor abaixo até ao seu camarim, enquanto eu abanava a cabeça, espantada.

O John e eu tínhamos planeado voltar a jantar juntos e era tempo de nos encontrarmos com alguns fãs no lobby. Apresentou-me primeiro a Cricket Mendel. Nunca me hei-de esquecer dela. Uma fã ativa que pode ser vista em filme em Elvis On Tour. John foi tão querido e prestável, para se certificar de que me sentia à vontade com toda a situação, mostrando-me os elevadores de serviço, os caminhos pela cozinha e formas de entrar e sair no corredor que levava ao meu quarto na área dos bastidores sem ter de passar pelos milhares  de pessoas no lobby, etc. Enquanto  passava por passagens secretas intermináveis, os meus pensamentos eram, “Oh, Kathy... como foi que vieste parar a esta situação?”

Enquanto estava parada no escuro do lado esquerdo do palco, cinco minutos apenas antes de entrar com Elvis, tinha a estranha sensação de que “algo está prestes a acontecer”. Hum... era a mesma sensação que tinha quando vivia no Texas antes de sermos atingidos por um tornado. “Como será o tempo aqui em Vegas esta noite?” Depois, por trás de mim, uma mão no meu ombro e uma voz de homem a cantar suavemente, “I’ll Take You Home Again, Kathleen” pregou-me um valente susto, e depois fez-me rir quando me virei e vi que era Elvis. “Como sabias que o meu nome é Kathleen? Conheces essa canção?” (em pensamento, “Elvis Presley! Hum. Ele conhece ‘aquela’ canção?”). Ele murmurou rapidamente, “Hoje assinei alguns contratos e cheques, e então vi o teu nome legal,” riu-se ele baixinho, e depois saiu a correr, mesmo a tempo de fazer a sua entrada no lado extremo daquele palco muito, muito grande.

Quando agora penso nisto, sabendo que era invulgar para qualquer estrela fazer amizade com as pessoas com quem trabalhasse, misturados com estes momentos intermitentes de interação com Elvis, não fazia ideia nenhuma que ele estava, na realidade, “interessado” em mim. Nem uma pista. Claro que já tinha tido rapazes e homens que conhecera a serem óbvios acerca das suas intenções. A maior parte dava as “dicas” conhecidas e percebia que queriam algo e sair comigo. Com Elvis... nem uma única pista, nem tão pouco tinha qualquer pensamento sobre algum interesse nele, exceto que estava impressionada com ele por ser um artista e um cantor muito gracioso... juntamente com o facto de que obviamente tinha tirado algum tempo da sua vida para “se conhecer a si mesmo”.

 

Enquanto escrevo isto, não consigo evitar rir-me, por ele ser tão diferente neste aspeto. E iria ficar cada vez mais estranho e diferente, sem ter nenhuma pista de que ele se sentia atraído por mim. Nos dias seguintes, foi ficando estranhíssimo. E não tive nunca aquele sentimento intuitivo ou ideia do que viria a acontecer muito em breve.                                                 

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