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A NOSSA PRIMEIRA CONVERSA: "TU TAMBÉM?" - PARTE 2 (continuação)

Ele lá começou a falar mais e a responder às minhas perguntas.

 

“Jackie Wilson, Jerry Lee Leis, artistas de country, artistas de rhythm and blues e jazz, assim como bluegrass. Sabes uma coisa? Dean Martin era um dos meus ídolos. Adorava Dean Martin!” Disse ele com orgulho. “Também vi todos os filmes em que participou, queria parecer-me com ele e cantar como ele! Ele foi uma das estrelas que reparei que tinha o cabelo preto e que os atores principais tinham sempre cabelo preto. Eu sou loiro, sabes... mas decidi pintar o cabelo de preto quando reparei que a maior parte dos atores principais tinham o cabelo preto!” Riu-se de si mesmo e revelou outra qualidade atraente. Ele era capaz de rir-se com facilidade de si mesmo e deixava escapar os seus pequenos segredos de coisas que sabíamos que ele estava a pensar, a guardar bem dentro de si... desta vez tendo revelado algumas das decisões que tomara na vida e que tinham determinado o curso da mesma, realizando os seus sonhos. Esta perceção de si mesmo e as escolhas que tinha feito eram divertidas para ele.

 

“Jackie Wilson!” quase gritei. “Ele é tão fantástico! Quando trabalhava na loja de discos do pai por 25 cêntimos à hora... sim, sim... 25 cêntimos (Elvis e eu rimo-nos os dois enquanto eu continuava)... “colecionei todos os seus discos! Ele foi o meu cantor favorito durante muito tempo. A propósito, fizeste muito pela minha família quando mudaste a música para sempre. Fizeste, pois! Uma pequena lojinha do pai cheia com discos de 78 rpm, passou a ser um negócio bastante decente, até já ter três lojas cheias com os teus singles e prosperámos graças a ti!” Elvis riu-se. “Mas falando outra vez de Jackie...”

 

“Ele é um artista e tanto, Kathy! Costumava ir vê-lo a trabalhar noites a fio… havias de ver como ele é em palco!”

 

“Oh, adoraria vê-lo ao vivo! Mas ouvi dizer que ele é muito espontâneo e que anda pelo palco todo!” disse.

 

“E ao mesmo tempo que dança, salta, faz espargatas, Kathy... a sua voz é tão poderosa... nunca ninguém será capaz de chegar sequer perto de Jackie!” acrescentou Elvis, com entusiasmo.

 

“E que tens a dizer daqueles clássicos que ouvias... ah... com os quais aprendeste?” Ele voltou a atirar com a bola para o meu campo.

 

“Bem, claro, quer dizer, é óbvio... adorava vozes clássicas... as vozes do tipo de Anna Moffo, de Joan Sutherland, Maria Callas, Rise Stevens, Tebaldi e outros... uma voz diferente que me influenciou... absolutamente adoro a Amália Rodrigues!”

 

“Ah!” replicou Elvis. “A Grande Cantora de Fado! De Portugal! Que grande voz ela tinha!”

 

Elvis tinha-me completamente espantado com a amplitude dos seus interesses musicais/vocais.

“Também queria desesperadamente ser comediante, por isso vi e estudei Joan Davis, Mitzi Green, Eve Arden e muitas outras comediantes... Claro, Lucy, mas o humor corporal de Joan Davis fascinava-me imenso e tentei imitá-la.”

 

Elvis voltou a saltar, “Sabes quem adoro e gosto de estudar? Peter Sellers!”

 

“Oh! Ele também é um dos meus favoritos! Brilhante!” E depois comecei a falar de animais. Comecei com, “Também crio cavalos, raças diferentes, mas a minha égua meia árabe vai participar em breve nas provas nacionais.”

 

Ele reagiu para com isto imediatamente.

 

 

“Também tenho cavalos! Tenho um Walking Horse do Tennessee, um cavalo de jogo e, bem... adoro animais... principalmente cavalos.”

 

“Também eu! Não consigo pensar em nenhum animal de que não goste. Numa manhã de domingo até levei a minha cobra de estimação para a igreja comigo. Assustei de morte as senhoras da primeira fila.” (Aqui, Elvis quase morreu a rir).

 

“Também tenho muitos cães, pois vou buscar os vadios à rua, arranjo-lhes casas... e gatos também. E uma miscelânea de cabras, patos, galinhas, coelhos. Só em minha casa, no meio dos meus animais, consigo ter paz de espírito.”

 

De alguma forma, a meio desta troca de conversa, saltamos para a história dos diferentes instrumentos e voltei a surpreender-me com o seu profundo conhecimento acerca de todos eles! (É demasiado para escrever aqui, mas ele sabia até mais do que eu sobre a história de muitos instrumentos... instrumentos antigos e como tinham evoluído até chegar aos instrumentos modernos, como tinham adquirido novas vidas assim que marinheiros de diferentes partes do mundo os deixavam ficar ao colo de pessoas novas nas suas nações. Terei de escrever sobre isto noutra altura. Mas basta dizer que estava extremamente impressionada com este homem de quem eu tinha uma ideia muito diferente devido à sua imagem histórica. E adorava isto em Elvis). Depois lembro-me de interromper esta conversa a dado momento:

 

“A Voz Humana, para mim, é o MAIS SAGRADO dos INSTRUMENTOS. O corpo, com a mente e o espírito... tudo ligado e em harmonia e equilíbrio... bem, esse é O INSTRUMENTO.... aquele pelo qual sou mais obcecada.”

 

Então, ele inspirou profundamente e, abanando a cabeça com outro sorriso enorme, “Kathy! Kathy, Kathy. Tu és mesmo como eu. EU SABIA!” enfatizou. “Soube logo.”

 

Comecei a sentir-me mais à vontade com este homem jovem que agora me intrigava cada vez mais e lembro-me de um silêncio bem vindo... apenas a olhar em frente, não para ele, espantada como era tão diferente da imagem que tinha dele, quando ele impulsivamente ergueu a mão, e puxou o meu rosto e olhar de encontro aos seus, afastou-me um pouco o cabelo demasiado comprido do rosto (na altura ficava apenas a poucos centímetros da minha cintura), olhando bem para mim durante um longo momento e depois beijou-me.

 

Adoraria poder dizer que gostei... mas não. E voltei logo a ficar como estava emocionalmente no início. Fiz a coisa mais estúpida! A minha resposta instintiva foi entortar os olhos e levantar-me para me ir embora. Ele pôs-se imediatamente de pé e virou-me as costas enquanto eu planeava uma saída rápida. (Isto também era, como já referi antes numa outra nota no Facebook, um hábito muito conhecido que ele tinha, quando me queria fazer uma pergunta, mas tinha medo da minha possível resposta).

 

Ele estava magoado ou, pelo menos, comportou-se como tal, como pude ver pela sua forma de estar em pé e de me virar o rosto.

 

“Kathy, não vês? Está destinado que sejamos amigos! Podes entortar os olhos o quanto quiseres, mas estamos destinados a conhecermo-nos melhor!” disse ele um bocadinho alto e com firmeza.

 

Depois, enquanto se virava na minha direção, dirigiu-me rapidamente um olhar intenso, a contrair os músculos faciais, como habitualmente fazia quando estava enervado. “Queres saber acerca de mim? Bem... Ela e eu vivemos vidas separadas, Kathy. Ela sai com quem quer sair e eu saio com quem quero sair! Desde que não nos envergonhemos mutuamente em público, ou façamos o que quer que seja à frente um do outro. Já há muito tempo que estamos a viver assim. Temos este acordo. Demos permissão um ao outro de ter outros relacionamentos.”

 

Agora estava completamente atónita. Sinceramente nunca tinha ouvido falar de um “acordo” tão ridículo. Nem sequer sabia como começar a reagir. Não faço ideia daquilo que fiz durante uns segundos, sem ser estar ali de pé e a pensar como aquilo me pareceu tão ridículo naquele momento.

 

“O quê?” disse por fim. “Isso é uma loucura!” disse sem sequer pensar. A expressão dele disse-me sem sombra de dúvidas que ele ficou perturbado  com aquilo. Lembro-me de pôr  as mãos sobre a boca  e  de desejar não ter dito aquilo! Depois ele pegou-me num braço enquanto comecei a fazer o meu movimento “em direção à porta”. Isto fez-me dizer exatamente o que pensava, mas com a maior diplomacia que consegui arranjar na altura.

 

“Desculpa ter dito aquilo, mas realmente nunca ouvi falar de um acordo assim. Não devia ter dito o que disse, da forma como o disse. Mas por favor, compreende a minha posição.” Ele estava silenciosamente à espera...

 

“Isto é algo que não quero que aconteça! És uma pessoa simpática, mas... não, obrigada.” Ele começou a puxar-me para mais perto de si e eu proferi algo que foi mesmo necessário para lhe fazer ver o quão séria estava a ser acerca daquele assunto. “Não estou interessada neste tipo de relacionamento, ponto final! Além do mais... (Oh, meu Deus, é que confessei-lhe logo isto neste momento)... Também sou virgem e podes rir-te o quanto quiseres, mas quando me envolver com alguém, não vai ser neste tipo de situação! Seja lá qual for o tipo desta situação!”

 

A reação dele não foi aquela que eu esperava. Ele não pareceu nada surpreendido com a minha revelação. “Isso é mesmo maravilhoso, Kathy! Isto só reforça a imagem que tenho acerca de quem és.”

 

“Hã?” Oh, deixem-me sair daqui, era só no que podia pensar naquele momento.

 

Peguei na minha bolsa, que era uma daquelas malas grandes abertas e um livro pequeno que estava lá dentro caiu para cima da mesinha. Era The Infinite Way, de Joel S. Goldsmith. (E o DESTINO voltou a interferir).

 

Ele e eu estávamos os dois a olhar para este pequeno livro que tinha acabado de cair.

 

“Tu também?” perguntou ele, com um refrescado espírito de curiosidade e falta da tensão que tinha mostrado momentos antes. “A-ha! Tu também!” repetiu, enquanto sorria e acenava com a cabeça.

 

“Também tenho este livro, Kathy! Vou mostrar-to agora! Tu eu estamos no mesmo caminho... tenho outro semelhante a esse que deves ler... mas terei de mandar vir um exemplar para ti. Vou arranjar-te um!” Agora ele falava rapidamente.

 

Por um momento fiquei parada, pois recordei-me que eu tinha “visto” isto a emanar dele enquanto observara o primeiro concerto que ele dera do camarote. A luz que eu tinha visto a brilhar vinda do interior dele vinha mesmo da sua busca pela Verdade, iluminação e ele Tinha-se apercebido disso! Ele tinha-se apercebido do mesmo que eu, mas estava obviamente muito mais à frente na sua viagem de descoberta do que eu.

 

“Comprei recentemente alguns livros de Goldsmith,” disse eu hesitantemente. “Practicing the Presence é um dos meus favoritos, assim como Man Was Not Born to Cry.”

 

“Oh, Kathy, temos de CONVERSAR! Por favor... tenho estado à tua espera. Tu Sabes do que falo. Bem sabes que sim... agora… agora mesmo… eu sei que sim. E soube isso no momento em que te vi pela primeira vez. Sim, gostaria de ter mais do que apenas uma amizade, mas se é só isso que me podes dar agora... para mim, é suficiente. Esperarei e terei esperanças, mas isso será contigo. Sei que ainda não me conheces realmente, mas se me deres uma oportunidade, vais ver... Não sou o tipo de homem que pensas que sou. E nunca, jamais te pressionarei para algo mais. E se for sempre assim, também está tudo bem. Vamos apenas ser amigos e partilhar isto que temos em comum?” Ele pegou no pequeno livro e começou a ler das páginas que obviamente conhecia bem.

 

Escolheu primeiro esta passagem:

 

“Há uma forma pela qual somos capazes de nos libertar do pecado, da doença, pobreza e dos resultado das guerras e mudanças económicas. Esta forma é a troca do nosso sentido material de existência pela compreensão e consciencialização da vida e da iluminação espiritual”.

 

Ele percorreu mais umas páginas e encontrou algo mais que quis ler. A sua voz era suave e linda, enquanto continuava.

 

“A iluminação  traz  primeiro  a paz, depois  a confiança e a segurança; traz descanso em torno das contendas do mundo, e então, todo o bem flui até nós por meio da Graça. Agora vemos que não vivemos por aquilo que adquirimos, ganhamos ou alcançamos. Vivemos pela Graça; possuímos tudo como uma dádiva de Deus; não obtemos o nosso bem porque já temos todo o bem, ‘Filho, estais sempre comigo, e tudo o que tenho é vosso.’”

 

Ele disse rapidamente, repetindo-se, “Pude sentir e ver isto em ti no primeiro instante que te vi, Kathy. Eu vi! Quanto mais temos nós em comum? Sei que há mais. mais!”

 

Agora eu estava numa posição contraditória. Eu também havia visto isso nele. O que era estranho para mim era que só há algumas semanas é que me tinham dado este livro quando fiz uma pergunta a Jackie Allen. Ela era a grande cantora soprano em L.A. que na realidade primeiro me havia recomendado ao grupo de Elvis. Ela nunca fazia prosa, pregava ou evangelizava, tentava recrutar, mas limitava-se a “ser” este exemplo brilhante de luz de alegria, paz, saúde e abundância. Ela testemunhava não pregando, mas apenas SENDO... Um dia, depois de uma sessão, perguntei-lhe isto, “Tu sabes alguma coisa... alguma coisa! Quero saber o que é. Não sei exatamente o que é, mas descobriste ‘o segredo’... Podes partilhar isso comigo?” Ela deu-me este pequeno livro cheio de verdades gigantescas, e depois de o ler comecei a desejar poder encontrar alguém com quem partilhar esta viagem, este caminho… este desejo pela Verdade. “Oh, querido Deus, esta não pode ser a tua resposta para mim. Isto está tudo baralhado! Como posso... oh, não… Pedi. Procurei e Pedi uma reposta, e agora tinha isto?... Isto?... Não... isto não pode ser a porta que abriste para mim!” Pensei instantaneamente num dos meus ditados favoritos, “Quando o Estudante está Pronto, o Mestre aparece.”                             

                                                                 
                                                                                                                                                                                      
(Continua)

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