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VISITA NA SEGUNDA
NOITE - Não Sei que Título Dar a Esta Parte - PRÍNCIPE
ENCANTADO?

Virando-me e revirando-me, perturbada, depois dos
desenvolvimentos da noite anterior, toda a noite caí num sono inquieto que
me provocou sonhos bastante vívidos. Quando estava quase para acordar, o meu
sonho estava extremamente colorido e parecia mesmo verdadeiro, mas também
dava para rir. Verdade! Não estou a brincar! Conto-vos este sonho embaraçoso
porque é relevante de acordo com as coisas que aconteceram mais tarde nessa
noite. Sim... riam-se à vontade. Não me importo. Até eu mesma me rio dele…
se isso vos fizer sentir… leitores… melhor, riam.
Tornei-me consciente de que estava a sonhar um Desenho Animado da Disney! E
a banda sonora do desenho animado era A Dream Is a Wish Your Heart Makes (Um
Sonho é um Desejo que o Teu Coração Faz), de
Cinderela.
Mas o que me acabaria por acordar, enquanto estava naquele estado meia a
sonhar, foi a minha consternação ao ver o que Grilo Falante participava no
sonho e não tinha ali lugar! (Pinóquio).
“Era suposto estares a cantar Let Your Conscience Be Your Guide (Que a Tua
Consciência Seja o Teu Guia)!”, dizia-lhe eu, austeramente. “E devias saber,
Grilo, que Ilene Woods já cantou isso e na realidade era um estudo de Franz
Lizt”... (é verdade, mas vamos lá saber porque motivo estava eu a dizer
aquilo ao Grilo, enquanto ele andava ocupado a flutuar em minha direção com
o seu guarda chuva, que estava quase a colapsar! (Pensei que estava a ficar
mais fraco porque o sorriso “com demasiados dentes” dele era demasiado
pesado para ele). De repente, os Sete Anões começaram a apressar-me para a
sala da maquilhagem, enquanto gritavam, “Estamos atrasados para o desfile!”,
todos ao mesmo tempo.
(Hã? Atrasados para o desfile!?)
Permitam-me que tente explicar isto?
Vejamos... Já tive pesadelos sobre chegar
atrasada a um espetáculo,
por me esquecer da roupa de alguém, por perder um avião, etc. São muito
comuns entre artistas e circenses. Perguntem a qualquer pessoa que trabalha
no
show business.
Estes pesadelos horrorosos ocorrem com frequência. Uma vez trabalhei na
Disneyland como Branca de Neve, e durante o Desfile do Natal eu seguia numa
enorme charrete de madeira, elétrica, cheia de luzes e carregada de jóias,
puxada por uma mula, enquanto era rodeada dos sete anões dançantes, e eu
cantava Some Day My Prince Will Come (Um Dia o Meu Príncipe Há-de Chegar).
Neste sonho eu estava a reviver um momento real que tinha mesmo ocorrido,
envolvendo uma pequena amiga minha, “Ana”, a elefanta. (Bem, ela era
pequena... para elefante). Os Anões e eu seguimos os personagens do
Livro da Selva
e eu tinha
feito amizade com a Ana, uma elefanta asiática de 4 anos de idade, dando-lhe
os meus donuts polvilhados de açúcar todas as noites. Só uma vez não fui
capaz de os partilhar com ela... pois o seu treinador estava a dar-lhe o seu
banho mais
cedo do
que o habitual... antes do sol se pôr... pois estava prestes a nevar. Sim,
este foi
aquele dezembro
em que toda a gente se consegue lembrar de ter nevado em Anaheim, na
Califórnia. Não durou muito, mas estava um gelo. A pequena Ana ficou um
pouco perturbada na minha recusa em partilhar os meus lanches com ela
durante o seu banho. Meteu a sua tromba naquela banheira cheia de água com
sabão, encheu-a até ao máximo da sua capacidade e pulverizou-me dos pés à
cabeça. Sim... Hum-hum. A Branca de Neve da noite ficou cega com as bolhas
de sabão e a sua maquilhagem, peruca, e fato estavam completamente
encharcados de água e espuma. Isto nunca teria acontecido na
“verdadeira”
história da Branca de Neve! Tinha dez minutos para me apressar de volta à
maquilhagem e guarda roupa e iniciar todo o longo processo mais uma vez,
sabendo que não iria conseguir chegar a tempo ao desfile. Este pânico, esta
luta por saber que era impossível, mas tinha de me apressar na mesma, fez
com que acordasse... não na Disneyland, mas em Las Vegas.
Levantei-me de repente, pensando onde estava e, estava
atrasada? “Oh, não. Agora lembro-me... a noite passada… Oh, não… Elvis!” e
voltei a cair sobre a minha almofada, tentando controlar-me.
Conto-vos este disparate porque ilustra como me sentia
perturbada e, mais para o final da noite, este sonho “tão real” talvez tenha
sido um pouco profético.
“Amigos. Hum. Não…
não sei como pode ser possível sermos sequer amigos! Bem... mas
vou
sair do espetáculo em breve.” (Estava marcado eu regressar a L.A. na noite
de fecho de temporada em Vegas), “Por isso, talvez?... Talvez durante uns
poucos de dias pudéssemos conviver na mesma, de alguma forma?” Andava sempre
a avançar e a retroceder.
“Não! Isto não é
possível. Vou dizer-lhe que apenas penso que é melhor não nos voltarmos a
encontrar.” Pronto! Estava tudo resolvido! Agora enfrentava o dilema de ter
de o ver em pessoa para lhe dizer isto. “Acho que devo fazer isto cara a
cara. Não posso limitar-me a
não aparecer,
se ele está a contar comigo.”
Quis telefonar à minha mãe, a minha confidente, melhor amiga,
que sempre tivera respostas para qualquer situação invulgar da “vida”, e
contar-lhe sobre este desenvolvimento, mas mudei de ideias e decidi esperar
até pelo menos ter tentado resolver o problema sozinha.
Alguém me telefonou. Não me consigo lembrar de quem foi, mas
era um dos rapazes que trabalhavam para Elvis que eu ainda não conhecia,
suponho. Ele telefonou em nome de Elvis para verificar se eu iria ter com
ele ao andar de cima depois dos concertos.
E agora... também não lhe podia dizer a ele. Que devia eu
dizer? “Tens aí um lápis e um papel à mão? Escreve esta mensagem muito longa
e pessoal e entrega-a a Elvis?” Não... não podia fazer isso. E então, depois
de ficar ali a pigarrear durante um tempo, limitei-me a dizer, “Sim, acho
que sim.” Enquanto na minha mente considerava poder agarrar Elvis e
dizer-lhe ao ouvido algures depois de um dos concertos, explicando-lhe os
meus sentimentos e pensamentos diretamente.
Não me lembro daqueles concertos, exceto de notar que Elvis
estava cheio de energia extra, e deu cabo dos públicos e dos elementos do
espetáculo. Tenho a certeza que devo ter estado a desejar que o pudesse ver
antes ou depois da habitual multidão de visitantes que caíam sobre ele no
seu camarim.
Como seria de esperar, não só foi difícil, como impossível.
Estavam ali simplesmente demasiadas pessoas à espera para lhe dar os
parabéns pelo seu novo sucesso.
Depois do segundo concerto, vendo tantos amigos que tinham
ido visitá-lo, resignei-me a, “Vou ter de ir lá acima até à suite para lhe
contar pessoalmente.”
Cheguei antes dele, por isso caminhei até à área do bar e
preparei uma chávena de chá quente com limão e mel, bebi-o para acalmar a
minha garganta e falei com algumas pessoas. Decidi ficar ali mesmo, em vez
de me sentar no sofá, esperando conseguir falar com ele assim que ele
passasse pelas portas.
Quando ele chegou, veio direito a mim, a sorrir, os olhos a
brilhar, e enquanto eu tentava dizer, “Preciso mesmo de falar...”, várias
pessoas começaram a puxá-lo para o apresentar a outras. Ele não disse muito
mais senão um olá muito rápido a todas as pessoas ao mesmo tempo, e
agarrou-me pela mão e orientou-me até ao sofá para me sentar ao lado dele
outra vez.
A sala estava a encher-se rapidamente com muito mais pessoas
do que na noite anterior e toda a gente estava a conversar e a rir. Desde a
cozinha até à sala da frente, onde estávamos, e até à outra ponta da sala
de estar, as pessoas estavam sentadas pelo chão todo. Mais e
mais raparigas estavam a ser trazidas e colocadas à frente de Elvis. A
televisão estava bem alto, onde grupos grandes de pessoas estavam a conviver
com Charlie (Hodge) no extremo oposto da sala de estar. Elvis começou a
conversar com as raparigas à frente dele e fazendo perguntas a cada uma
delas individualmente. O braço dele estava agora mais uma vez em torno dos
meus ombros e, nesta noite... puxou-me ainda para mais perto dele.
Lembrei-me de pensar que precisava de ser paciente, e quando houvesse um
intervalo na conversa, pedir-lhe-ia para falar com ele. Também me ocorreu
que devia ir embora, para ele poder ficar livre de conversar com toda a
gente que achasse interessante. Embora não me lembre dos pormenores,
lembro-me que as trocas verbais devem ter sido engraçadas. Toda a gente dava
grandes gargalhadas... especialmente Elvis e, sim... até eu. Estavam todos
muito felizes, bem comportados, e a ter conversas agradáveis e engraçadas
quando o evento especial da noite começou. Ocorreu algo “não muito bom”.
Devido ao nível do ruído e dos momentos passados por todos, o
grupo que via televisão tinha aumentado o volume porque precisavam de o
fazer! Elvis chegou-me suavemente para perto de si e murmurou alto (será que
isto faz algum sentido?) diretamente no meu ouvido direito. Nunca teria sido
capaz de o ouvir de outra forma.
“Não consigo ouvir,
tu consegues? Está aqui muito
barulho!”
Isto fez-me rir. “Não! Não consigo! Tens razão. Está barulhento!” Ele
percorreu a sala com os olhos e elevou a voz para chamar Charlie que estava
a cerca de… uns 12 metros de distância, enterrado num mar de gente, mesmo em
frente do grande televisor, para poderem ouvir. “Charlie! Baixa um pouco a
televisão, se faz favor?” Não obteve resposta.
Charlie não era capaz de o ouvir, por isso Elvis acenou com
as mãos a todos os que estavam à frente dele, indicando a sua súplica para
falarem um pouco mais baixo durante um momento.
Então Elvis ergueu mais um pouco a voz, repetindo, “Ei,
Charlie? Podes baixar um pouco a televisão? Não consigo ouvir aqui nada!”
Isto chamou a atenção de Charlie e ele sorriu, replicando, “Claro!” e a sala
tornou-se tolerável, enfim.
Uma das raparigas
sentadas no grupo em frente de Elvis, na segunda ou terceira fila, gritou de
forma rude,
“Porque não vais lá
tu baixá-la? Achas-te bom demais para ires até lá baixar o volume da
televisão?”
Fez-se um silêncio de morte em t-o-d-o -o- l-a-d-o.
Senti Elvis a ficar tenso, a virar-se espantado e virei-me
para ele, apenas para ver que estava abalado. Ele estava a engolir, com os
músculos do maxilar a contraírem-se, e os olhos piscavam de forma rápida.
Olhando em frente, ele inspirou de forma profunda e curta e estava
obviamente a lutar do ponto de vista emocional. Sentia-se profundamente
magoado.
Pousei-lhe a mão no
ombro numa tentativa de o acalmar, querendo reassegurá-lo, sentindo o seu
choque. Inclinei-me para mais perto do seu ouvido e o mais calmamente
possível, disse,
“Ela está apenas a
tentar chamar a tua atenção! Entendes? Ela nem sabe o que está a fazer. Quer
que repares nela.”
Olhei para baixo, de
volta para ela e vi-a a sorrir presunçosamente, enquanto parecia estar a
pensar, “Ora aí tens! Acabei de o colocar no
seu
lugar!” Ela estava a sentir-se imensamente orgulhosa de si mesma. Parecia
patética. Era tudo muito claro para mim. Mas
não
era claro para Elvis.
Ele não lhe respondeu de forma zangada. Respirou bem fundo,
olhou para mim numa descrença interrogativa, e continuou a contrair o
maxilar, mas encorajou-se a dar um pequeno sorriso. “Vamos, Kathy?”
Bem, e por ali ficou
um serão feliz para todos os convidados daquela noite, e
também lá se foram os meus planos para não estar sozinha com
ele outra vez por água abaixo.
Isto foi uma interrupção nos planos
de toda a gente. Uma que revelou um Elvis que ainda não tinha visto, um
homem que fazia uma tentativa sincera de agradar às pessoas, apenas para ter
uma pessoa mal orientada e palerma a sentir prazer em magoá-lo.
Quando chegámos ao quarto dele, ele não se sentou logo,
mas enquanto ainda se agarrava de forma bem apertada à minha mão, virou-se,
pois não queria que eu visse já os seus olhos a marejarem-se de lágrimas.
Agora sentia-se envergonhado.
(Continua) |