NÃO ME LEMBRO DE ONDE OU QUANDO ME ACONTECESTE - Parte 2
Desta vez acordei um pouco após o meio dia e decidi “marcar 0” para o serviço de quartos. Estava esfomeada para tomar o pequeno almoço e café, café, café. Aquela luz vermelha no telefone a piscar lembrou-me que precisava de ligar para casa e realmente precisava de falar com a minha “Mamã” (risos). A mãe atendeu, no seu habitual tom de voz animado. “Mãe! Preciso… preciso de te dizer uma coisa… quero aconselhar-te sobre uma coisa, mas antes disso, porque motivo precisamos de mudar de número de telefone?” “Be-e-e-e-m-m-m”, riu-se ela, “recebemos algumas chamadas bem estranhas a meio da noite. De pessoas a perguntarem por ti e por Elvis! Acreditas numa coisa destas?” “Nããããããããããããooooooo!... Oh, mãe! Não faço ideia do que seja ISTO! Nem sei como começar por descobrir! Vou perguntar ao Elvis esta noite sobre o que devemos fazer, mas… certifica-te de que me informas do novo número, para eu poder informar toda a gente.” Contei-lhe o que se estava a passar com as telefonistas no andar dos fundos. Ela ficou num estado de incredulidade. “Isto é… não sei… isto é… o que é isto? Só há uns dias atrás estava tudo tão ‘normal’… e agora… não sei… Eu… O pai e eu não sabemos exatamente o que fazer em relação a isto. Mas não te preocupes! Vamos tratar de tudo. Disseste que vais perguntar a Elvis? Falas com ele?” A mãe sabia como eu me sentia por me ir juntar a este espetáculo e tinha-lhe dito para não dizer a ninguém o que eu ia fazer (lembrem-se… sentia-me envergonhada e não queria que os meus pares soubessem). “Hã-hã,” repliquei. “É sobre isso que te quero falar. Mãe… ele não é nada como pensávamos que seria! Nada! Ele é brilhante! Ele é tão… tão… bem, simplesmente maravilhoso. O pai devia ouvi-lo cantar! Nem ia acreditar! Na realidade, ele até está a desenvolver um estilo ‘bel-canto’ e é… a voz dele… agora é tão poderosa! Tem o melhor aspeto de sempre e tem mais ‘daquilo’ do que qualquer outra estrela que já vi. É simplesmente o melhor artista que alguma vez vi ou com quem trabalhei e só o que ele precisa de fazer é… bem… apenas apresentar-se sobre o palco! Ele é incrível, a sério. Tão doce, um bocadinho tímido, mas engraçado… sim… ele é engraçado. E sabes aqueles livros todos que tenho na minha biblioteca? Eu e ele temos os mesmos livros! Ele é mesmo… bem… ele tem o mesmo tipo de mente inquisitiva e curiosa! É bem lido, auto educado! E não é nada como aquele tipo dos saloios do sul! Fala depressa, pensa depressa… não sei bem explicar. Ele simplesmente NÃO é a pessoa que alguém possa pensar que é. E, mãe… ficámos amigos, mas… bem… ele gosta de mim e eu gosto dele.” “Bem, isso é muito bom, Kathy,” replicou ela. “Mas… ele quer sair comigo, mãe. E ele é casado… mas agora anda a sair com outras mulheres. Ele diz que ele e a mulher dele não estão comprometidos um com o outro, que têm uma espécie de acordo… mas eu… bem, não sei. Sei que gosto dele e gostaria de o ter por amigo.” “Oh.” “Mãe?” “Estou aqui… Bem,… Acho que… esta pode muito bem ser uma altura em que terás de tomar a decisão sozinha, Kathy.” Não era aquilo que eu queria ouvir, mas… “Esse é que é o problema, mãe. Vou arrepender-me se ‘não’ o conhecer melhor, e provavelmente vou arrepender-me ‘de o conhecer melhor.’ Apenas sei que gosto muito dele, mas…” “Tu sempre soubeste o que estava ‘certo’ e ‘errado’, Kathy. Ainda sabes. Terás de descobrir como é mesmo a situação e começar por aí.” “Ele sem sombra de dúvidas que anda a sair com outras mulheres, sei isso com certeza, mas… Mãe! Acabo de começar a esquecer-me de ‘tu bem sabes quem’ e a deixar de pensar nele e agora… aqui está Elvis. Isto é tão diferente! (Já me tinha apaixonado algumas vezes e a última vez que isso acontecera, era muito recente). Ele não é nada o meu tipo de homem, Mãe! Mas adoro o coração dele! E a sua mente!” “Hum-mm. Bem… mmm… parece-me que precisas mesmo de descobrir tudo o que puderes, mas… Tem cuidado, Kathy. Como sempre tiveste.” “Vou ter… mas é tão complicado! E não é só por causa da situação pessoal dele! Sabes bem que nem sequer quero começar a pensar num relacionamento sério neste momento. Não posso! O pai tinha razão quando me aconselhou a não me permitir ficar num relacionamento sério com qualquer homem a não ser que estivesse pronta para desistir da minha carreira como cantora. E agora que… acabo de me estabelecer bem nestes últimos anos e estou numa posição em que posso ir ainda mais longe, e…?” “Este pode muito bem ser um assunto que não sejas capaz de resolver num segundo, Kathy. Leva o teu tempo.” “É o que tenciono fazer, mas, isto é muito confuso. E também, o mundo dele é simplesmente… bem… é louco! Não me sinto realmente à vontade ou em paz na maior parte das vezes, mas… gosto muito de cantar com ele e não me consigo fartar de falar com ele! É mesmo incrível, se bem que ainda continue a perguntar-me o que diabo faço eu no espetáculo dele, sabes… como aquele velho cliché… a sensação de ‘peixe fora de água’. Oh, bem, em breve estarei de volta a casa e se alguém telefonar com alguma alteração da minha agenda, informa-os que hei-de estar aí. E não te esqueças de me dizer qual vai ser o número novo do telefone.” Desligámos e eu continuava espantada com “tudo” e não estava mais perto de chegar a uma conclusão, mesmo depois de ter falado com a mãe. Tomei o pequeno almoço, bebi uma chávena enorme de café e mesmo assim voltei a adormecer durante mais um bocado, enquanto me interrogava, “Como será que vai ser esta noite com Elvis? Do que é que me irei arrepender por não fazer algo neste espaço que ‘não é preto nem branco’ nem ‘fácil de decidir’ e no qual me encontro?” Também tinha uma recordação muito clara da minha primeira audição. O pai tinha-me levado com 16 anos até a um maestro com quem ele tinha cantado como tenor nos papéis principais para as suas produções durante anos. Jay Rubinoff, foi na altura para quem cantei e era o maestro da orquestra do Hollywood Bowl. Ele ficou encantado com a minha voz, disse que era maravilhosa, mas… (outro GRANDE “MAS”)… ele aconselhou-me a esquecer tentar fazer uma carreira a cantar. “Faz outra coisa qualquer, Kathy, para ganhares a vida. Agora a música mudou de uma forma que ultrapassa as expetativas de toda a gente, e muito por causa deste tipo a quem chamam Elvis. E isso mudou tudo… tudo… em todo o mundo.” No entanto, o pai e eu saímos dali juntos naquele dia sem nos deixarmos demover. O pai disse, “Hás-de encontrar o teu lugar, Kathy. Ainda existe um lugar ‘algures’ para uma soprano como tu, apesar do que este Elvis tenha feito para mudar tudo para nós… nós… os que só temos opção de carreira como ‘cantores clássicos’.” Rezei diariamente a Deus para que Ele me orientasse… e nunca, nunca Lhe pedi nada a não ser colocar-me num lugar onde Ele quisesse que eu estivesse, onde Ele pensasse que pudesse usar os dons que me tinha dado. Tinha-me apercebido que tinha dons que eram dádivas de Deus e estava determinada a exercitá-los… ou a usá-los, já que tinha dedicado tantos anos até agora a desenvolvê-los, particularmente a Voz e, no entanto… acabei por pensar que não tinha nem a fé nem a confiança, naquele momento, para considerar onde tinha vindo parar. “Isto não pode ser o sítio onde eu devo estar agora,” pensava eu. “Oh, bem, em breve estarei em casa e hei-de voltar a encarrilhar até onde Tu queres que eu esteja.”
(Continua)
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